Julho 2024

12 ago 2024

Descida da inflação abre caminho à redução das taxas

Em julho, as evidências de redução das pressões inflacionistas em especial nos EUA, reforçaram a expetativa da Fed flexibilizar a política monetária nos próximos meses. Neste contexto, as yields das obrigações do tesouro registaram descidas significativas

Em julho, as evidências de redução das pressões inflacionistas, em especial nos EUA, reforçaram a expectativa da Fed flexibilizar a política monetária nos próximos meses. Neste contexto, as yields das obrigações do tesouro evidenciaram descidas significativas averbando, no caso do índice de dívida pública dos EUA, o terceiro mês consecutivo de ganhos. Como corolário, o mercado desconta agora pelo menos dois cortes das taxas diretoras, por parte da Fed e do BCE, até final do ano. Já o mercado acionista esteve pressionado pela elevada expectativa para a evolução dos resultados empresariais e pela incerteza geopolítica, patente na decisão histórica de renúncia à recandidatura do presidente dos EUA.

Enquadramento: julho 2024

Ao nível económico, foram divulgas as estimativas rápidas de crescimento do PIB no segundo trimestre de 2024 nos EUA e na Área Euro (AE), ambas acima do esperado. A economia norte-americana cresceu 0,7%, depois de 0,4%, em cadeia e não anualizado, e a da AE 0,3%, idêntico ao anterior. Enquanto no primeiro caso a dinâmica deveu-se à melhoria do consumo, e à acumulação de inventários, na Europa, o crescimento melhor que o esperado em França e em Espanha, devido ao contributo favorável das exportações líquidas, e ainda positivo em Itália, compensaram a contração inesperada na Alemanha. A região sul do continente voltou a beneficiar do turismo, já o setor industrial alemão manteve-se condicionado por questões estruturais. Na AE, os indicadores tiveram um tom negativo quanto ao sentimento dos empresários e da atividade nas empresas. No mercado de trabalho, a taxa de desemprego aumentou em junho, embora o nível (6,5%) permaneça próximo do mínimo. Nos EUA, os dados denotaram resultados mistos, com noticias positivas relacionadas com o consumo, mas negativas no que concerne à atividade empresarial e ao mercado de trabalho. Na China, a economia cresceu 0,7%, em cadeia, no segundo trimestre, menos de metade do observado no anterior. O crescimento homólogo diminuiu de 5,2% para 4,7%, incrementando o risco do objetivo governamental de 5% ficar por alcançar.

No que concerne à inflação, nos EUA, em junho, a variação homóloga do índice de preços da despesa no consumo cumpriu a expetativa de redução de 2,6% para 2,5%, não só a nível total, como subjacente. Na AE, de acordo com estimativa rápida do Eurostat já de julho, o crescimento homólogo do índice total contrariou a previsão e aumentou para 2,6%, enquanto o do subjacente permaneceu em 2,9%.

No que diz respeito aos Bancos Centrais, na Área Euro o BCE manteve sem alteração as taxas de juro diretoras, tendo referido que os indicadores mais recentes sancionam as projeções de junho. Na declaração pública, a presidente Christine Lagarde salientou que o ritmo de expansão dos preços é ainda elevado e reiterou a expetativa que a inflação permaneça acima do objetivo de 2% até ao final do ano. Reiterou ainda que o Conselho de Governadores (CG) continuará a adotar uma abordagem dependente da evolução dos dados, o que significa que o nível apropriado das taxas de juro diretoras será determinado a cada reunião dos membros do Conselho.

Nos EUA, a Reserva Federal conservou o intervalo de referência para a taxa de juro diretora entre 5,25% e 5,50%. As declarações posteriores deram a entender que o CG está mais próximo de decretar o momento do primeiro corte das taxas de referência, ainda que tenha destacado que será a evolução dos indicadores económicos a determinar o timing e a dimensão da flexibilização. O CG passou a caraterizar o ritmo de geração de postos de trabalho como “modesto”, reconhecendo que se encontram agora tão atentos aos riscos com os preços, como aos riscos em torno do mercado de trabalho.

O Banco do Japão decretou pela segunda vez este ano um aumento da taxas juro de referência, de um intervalo de 0% a 0,1% para 0,25%. O banco central da China determinou uma redução das principais taxas de juro de referência, com destaque para a diminuição de 20 p.b. da taxa de empréstimo de médio prazo a 1 ano, para 2,30%, o maior corte desde abril de 2020.

Mercados Financeiros: julho 2024

Nos mercados acionistas, em julho, os principais índices evidenciaram desempenhos distintos, com destaque pela positiva para o dos EUA e pela negativa para o do Japão. Para a evolução do mercado norte-americano demostrou-se relevante a leitura mais fraca do que o esperado da inflação e o aumento do desemprego, que reforçaram a confiança de que a Fed possa diminuir, já em setembro, o caracter restritivo da sua política monetária. Além disso, realce para a divulgação de resultados empresariais positivos contrariando alguns receios dos investidores. Já a Área Euro denotou uma variação quase nula condicionada pela perda de robustez do crescimento económico e incertezas decorrentes das eleições francesas. No Japão, as ações depreciaram pressionadas pelo setor tecnologia e pela forte valorização do iene. Por último, os emergentes desvalorizaram impactados pela China e Coreia do Sul.

No que respeita à dívida pública, os índices de referência dos EUA e da Alemanha patentearam ganhos, assistindo-se à queda expressiva das yields tanto nos prazos mais longos como nos de menor maturidade. Esta evolução espelhou a redução da inflação e os indícios de inversão do mercado de trabalho nos EUA, que poderão possibilitar à Fed flexibilizar a sua política. Na dívida privada, os segmentos também valorizaram, impulsionados pela descida das yields e, no caso do investment grade, adicionalmente pela compressão dos prémios de risco.

A classe de matérias-primas evidenciou perdas condicionada pela depreciação da generalidade dos segmentos, com exceção dos metais preciosos. Em julho, o compósito registou o seu pior desempenho mensal desde maio do ano passado, com os contributos mais negativos a advirem da depreciação dos segmentos de energia e metais industriais. Nota para o gás natural que, para entrega no mercado norte-americano, registou uma queda expressiva em resultado do aumento da produção e do clima ameno, enquanto que para fornecimento na Europa denotou uma subida perante as preocupações com o abastecimento na região devido à escalada das tensões em Gaza. O recrudescimento dos riscos geopolíticos possibilitaram atenuar a descida da cotação do petróleo e favoreceram o desempenho do ouro que alcançou, inclusive, um máximo histórico, beneficiando do seu estatuto de ativo de refúgio.

No mercado cambial, o euro apreciou face ao dólar dado o tom cauteloso do BCE e a expectativa reforçada dos investidores de cortes dos juros por parte da Fed. Porém, o grande destaque foi a valorização significativa do iene devido à intervenção das autoridades no mercado e à postura menos acomodatícia do banco central, o qual subiu as taxas pela segunda vez em 2024.

Nos indexantes das taxas de monetário, as Euribor denotaram novamente decréscimos nos diversos prazos, mais salientes nas maturidades longas. De salientar que estas taxas, para os diferentes prazos, situam-se no mínimo dos últimos doze meses.

Nota: dados a 31 de julho de 2024, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: BEA, BLS, US Census Bureau, MBA, NAR, Fed, Eurostat, BCE, BoJ, SNB, BoC.

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Acesso Caixadirecta

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