Mercados Financeiros e Investimentos: Uma década de transformação

11 dez 2025

Por Cristina Brízido
Presidente do Conselho de Administração da Caixa Gestão de Ativos

A última década foi tudo menos previsível. Começou com uma recuperação da crise financeira global, num movimento inédito de descida de taxas de juro para valores negativos.

A pandemia de COVID foi um ponto de viragem. Os mercados enfrentaram uma queda abrupta, seguida de uma recuperação impulsionada por estímulos monetários e fiscais massivos, onde fez a diferença a capacidade de interpretação de uma envolvente inédita por parte dos gestores de carteiras.

A invasão da Ucrânia trouxe uma nova realidade de inflação elevada, disrupções nas cadeias de abastecimento, e uma crise energética que reavivou o papel das matérias-primas e dos ativos reais nas carteiras de investimento.

A inflação, que durante anos esteve controlada, voltou a níveis elevados historicamente, assistindo-se à inversão das políticas monetárias com os bancos centrais a encetarem subidas agressivas das taxas de juro.

Ao olhar para o comportamento dos mercados financeiros neste período, é importante salientar que os desempenhos positivos mascaram as repercussões profundas dos eventos anteriores.

No mercado obrigacionista, no início da década, os títulos de dívida foram vistos como instrumentos de proteção e rendimento estável. Mas, com o regresso da inflação, muitos investidores foram surpreendidos pela correção nos preços das obrigações. Hoje, os ativos de rendimento fixo voltam a ser atrativos, mas exigem uma gestão ativa e seletiva.

Nos mercados acionistas, as empresas tecnológicas dominaram, mas também mostraram momentos de vulnerabilidade. A volatilidade aumentou, e os investidores, para além das análises fundamentais das empresas, tornaram-se mais sensíveis a fatores macroeconómicos e aos riscos geopolíticos desta classe de ativos.

Os mercados alternativos ganharam protagonismo, com muitos investidores a procurarem alternativas em ativos ilíquidos, como private equity, infraestruturas ou crédito privado.

Em paralelo com esses choques, aconteceram transformações estruturais na indústria: i) a aceleração da digitalização, com as plataformas digitais a democratizarem o acesso ao investimento, ii) a emergência dos critérios ESG como fator decisivo nos investimentos, iii) uma cada vez maior adoção de IA que mudará a forma como analisamos os mercados e construímos carteiras de investimento e iv) a emergência dos ativos digitais com uma tecnologia potencialmente transformadora do setor financeiro.

A transformação dos mercados foi acompanhada por uma mudança no perfil dos investidores.

A caracterização dos portugueses como investidores conservadores mantém-se válida, mas tem sofrido alterações graduais. Os acontecimentos dos últimos dez anos e um progresso lento, mas real, na cultura financeira têm levado muitos investidores a procurar alternativas com risco de mercado para preservar e aumentar o poder de compra e construir património financeiro.

O papel das sociedades gestoras é, assim, mais relevante do que nunca, como agentes de confiança, capazes de interpretar a complexidade dos mercados e de oferecer soluções que respondam às necessidades dos investidores.

Esse contributo é muito relevante para Portugal, onde a baixa taxa de natalidade, o aumento da esperança média de vida e a reduzida adesão a planos voluntários de reforma, tornam como uma opção relevante, desde cedo, o investimento em ativos financeiros.

Em resumo, a última década foi marcada por desafios profundos, mas também por oportunidades de transformação. Os mercados financeiros mudaram, os investidores mudaram, e nós — enquanto gestores — também mudámos. Mas o nosso objetivo mantém-se claro e o mesmo de há 35 anos: oferecer soluções transparentes, diversificadas e responsáveis, alinhadas com as expectativas e propósitos dos nossos clientes.

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Esta informação é realizada com um objetivo informativo. Não constitui uma recomendação de investimento e não pode servir de base à compra ou venda de ativos nem à realização de quaisquer operações nos mercados financeiros assim como não deve ser considerado a base de qualquer tipo de contrato ou investimento que possa ser realizado.

A presente informação incorpora a visão desenvolvida pela Caixa Gestão de Ativos e baseia-se em informação pública disponível e nas condições de mercados à data, proveniente de várias fontes que se creem credíveis, não sendo possível garantir que a mesma esteja completa ou precisa, estando sujeita a revisões, atualizações e alterações.

Cristina Brízido
Presidente do Conselho de Administração da Caixa Gestão de Ativos

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