Guilherme Moreira

O presidente com a mais longa administração na CGD

Guilherme Moreira conviveu pacificamente com o estado Novo, desde os bancos da universidade passando pelo Ministério das Finanças e terminando na Presidência da CGD.

Guilherme Luizello Alves Moreira nasceu em Coimbra a 20 de novembro de 1896, no seio de uma família culta, pois o seu pai era licenciado em direito, tal como ele o viria ser pela Universidade de Coimbra. Esta ligação familiar à UC marcou a sua carreira política e de gestor público.

Efetivamente, Guilherme Alves Moreira viria a ser professor de Oliveira Salazar, nascendo daí uma longa amizade, que se traduziria na ocupação de lugares chave na área da economia e finança.

Os últimos anos da administração de Daniel Rodrigues na Caixa, que terminaria em 1931, foram marcados por alguns conflitos ao nível da gestão da instituição. As suas opções eram frequentemente rejeitadas pela maioria dos administradores, que progressivamente tinham sido substituídos, desde 1929 por elementos afetos a Salazar.

Nessa linha de atuação, Guilherme Alves Moreira é nomeado em 17 de julho de 1929, administrador com funções de Vice-Presidente do Conselho de Administração. Não deixa de ser significativo a inserção, no original do decreto de nomeação a introdução de um entrelinhado pelo próprio punho de Salazar “por conveniência urgente de serviço”. Atingido o final da Comissão de Serviço do Dr. Daniel Rodrigues, Guilherme Moreira foi nomeado Administrador-Geral, em 20 de abril de 1932. Verificamos, pois, que ambos coabitam no Conselho de Administração, entre 1929 e 1931, uma coabitação nem sempre pacífica uma vez que Guilherme Moreira, o elemento mais influente do Conselho, dadas as suas relações com Salazar representava o poder instituído. Entre a permanência de Guilherme Moreia à frente dos destinos da Caixa, mais de 30 anos, traduz essa confiança política e profissional que o Estado Novo nele depositou. Ao longo da sua administração, Guilherme Moreira, representou a Caixa em várias reuniões internacionais, particularmente, nos trabalhos do Conselho Permanente de Instituto Internacional de “Épargne”, realizado em Estocolmo.

Foi, no entanto, internamente, que, levando a cabo uma política financeira em consonância com a política económica do Estado Novo, mais se distinguiu e valorizou a CGD. A vertente de crédito foi valorizada inicialmente com uma grande projeção no crédito agrícola e posteriormente no industrial e no crédito ao setor Público. São de salientar as campanhas agrícolas a cabo para apoiar os agricultores “campanha de trigo” e outras de apoio à cultura do centeio, apanha da azeitona, etc..

A sua ligação (simpatia) pelas atividades produtivas primárias levá-lo-ía a sensibilizar as populações locais à criação de organizações próprias de financiamento, ao criar em 1947, a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Bragança.

De salientar algumas alterações orgânicas e de funcionais que se verificaram durante o seu longo e profícuo período de administração, em particular uma alteração substancial na redação e apresentação dos relatórios e contas ao inserir quadros e gráficos, proporcionando uma melhor leitura e análise das matérias.

Em janeiro de 1959 viria a cessar funções, por aposentação sendo merecedor, por parte do Ministro das Finanças, de um rasgado louvor, pelos 39 anos de dedicação à causa pública. Recorde-se que antes do seu ingresso na CGD já exercera cargos no Ministérios das Finanças como subsecretário de Estado e Presidente da Comissão de Reforma Orçamental. Viria a falecer em 1971.

Zacarias Dias
Gabinete do Património Histórico da CGD
Outubro de 2011

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