Fevereiro 2020

6 mar 2020

Mercados Financeiros

Os mercados financeiros evidenciaram um comportamento clássico de elevada aversão ao risco, com os receios dos investidores quanto aos impactos económicos negativos do coronavírus.

Em fevereiro de 2020, os mercados financeiros evidenciaram um comportamento clássico de elevada aversão ao risco, com os receios dos investidores quanto à dimensão dos impactos económicos negativos do coronavírus, a nível global, a gerarem movimentos significativos nos prémios de risco das principais classes de ativos. Neste contexto, os mercados de ações averbaram desempenhos negativos, por contraposição aos de obrigações.

Enquadramento: Fevereiro 2020

No domínio económico, a Comissão Europeia publicou o relatório intercalar de perspetivas económicas que apresenta como foco de análise a Europa. A Comissão menciona que a atual expansão da Área Euro (AE) constitui a mais longa desde a introdução da moeda única, porém o ritmo de crescimento tem sido modesto. No período recente, a atividade económica tem conseguido resistir aos choques externos devido à resiliência dos motores de crescimento domésticos, nomeadamente o consumo privado. Assim, manteve as projeções do PIB real da publicação anterior, de crescimento de 1,2% tanto em 2020 como em 2021. No que concerne ao balanceamento de riscos, considera que estes continuam com um pendor negativo.

No que respeita à divulgação de indicadores económicos, na China, epicentro do surto epidémico, o indicador de confiança da indústria (PMI) do National Bureau of Statistics registou uma forte queda, para o mínimo histórico de 35,7% (abaixo de 50% equivale a contração no setor). De forma semelhante, mas mais acentuada, o mesmo indicador para a vertente dos serviços caiu de 54,1% para 29,6%, o valor mais baixo da série. Nos EUA, o indicador preliminar de confiança dos serviços (PMI), publicado pela Markit, entrou em território de contração (<50%) pela primeira vez em 4 anos, para o mínimo de 6 anos, enquanto o similar para a vertente industrial desceu para 50,8%, o mínimo de 6 meses. Por sua vez, na AE o dado preliminar da confiança da indústria da Markit (PMI), relativo a fevereiro, alcançou o máximo de 12 meses, embora ainda permaneça em contração. Já o mesmo indicador referente à Alemanha evidenciou um movimento similar.

Ao nível dos bancos centrais, no seguimento da rápida propagação do coronavírus a nível global, o presidente da Reserva Federal Americana (Fed), J. Powell, no dia 28 de fevereiro publicou uma declaração breve, na qual foi mencionada que os fundamentais da atividade económica permaneciam sólidos, contudo os riscos para a atividade advindos da epidemia eram crescentes. Neste seguimento, informava que a Fed iria acompanhar atentamente a sua evolução e as implicações para a atividade económica e, em resultado, poderia utilizar as ferramentas de política monetária caso fosse necessário. Na Europa, o Banco Central Europeu publicou a ata da reunião de 23 de janeiro, na qual não efetuou alterações ao conjunto de medidas implementado em setembro. Os seus membros consideraram que as medidas estavam a ser transmitidas gradualmente à economia da região, contudo dever-se-ia aguardar até que o impacto total se efetivasse na atividade. Ademais, foi mencionado que a formulação da orientação futura deveria ser salientada, dado que vinculava o trajeto das taxas de juro à evolução da inflação, assegurando o ajuste das condições financeiras às perspetivas para a inflação.

Mercados Financeiros: Fevereiro 2020

Os receios com a propagação do coronavírus e com os seus potenciais impactos na economia foram determinantes para o comportamento dos mercados acionistas, os quais registaram quedas expressivas no mês. Desta forma, o índice global (MSCI em euros) apresentou uma rendibilidade de -7,2%, com desvalorizações na generalidade das geografias. Durante este período, os mercados de países desenvolvidos evidenciaram quedas superiores a 7%, com destaque para o do Japão (Nikkei), com -8,8%. Comparativamente, os emergentes evidenciaram uma evolução menos negativa, beneficiando da relativa estabilidade das ações da China.

Este contexto de maior aversão ao risco foi positivo para os índices de dívida pública, em especial o dos EUA. Nesta geografia, onde se verificaram as maiores quedas das taxas de juro, a yield das obrigações a 10 anos atingiu inclusivamente um novo mínimo histórico, de 1,15%. Já na AE, num período em que se assistiu ao aumento dos prémios de risco dos vários Estados-membros face à Alemanha, a performance foi mais modesta. No que concerne às obrigações de crédito, pelo alargamento dos spreads, a maioria dos segmentos apresentou uma rendibilidade negativa, apesar do impacto positivo da queda das taxas de juro. Nesta classe, a exceção foi o comportamento de Investment Grade em dólares, pelo efeito positivo decorrente da componente de taxa de juro e da sua maturidade média mais elevada.

No que respeita à classe de matérias-primas, o índice de referência (Bloomberg) apresentou uma rendibilidade negativa de 5,0%, com desvalorizações em todos os segmentos. A componente de energia foi a que mais contribuiu para esta variação, influenciada pelas preocupações com a redução da procura de petróleo, em especial da China, bem como pelos sinais de que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e a Rússia poderiam não chegar a um acordo em relação a futuros cortes na produção. Também os metais industriais foram condicionados por este enquadramento, embora o preço do cobre tenha registado uma ligeira subida em virtude da redução da oferta deste metal. Já a performance de agricultura foi comparativamente mais favorável, em especial pela subida acentuada dos preços do café e da soja.

No mercado cambial, o euro prolongou a tendência de depreciação face ao dólar, com uma variação de -0,6% no mês. Contudo, na última semana de fevereiro registou uma apreciação significativa e sustentada advinda, em parte, do aumento das expectativas quanto à possibilidade de cortes das taxas de referência da Fed no curto prazo.

Por fim, no mercado monetário em euros, a taxa Euribor a 3 meses variou -3p.b. para -0,42%, a de 6 meses desceu 5p.b. para -0,39% e a de 12 meses caiu 3p.b para -0,31%.

Nota: dados a 28 de fevereiro de 2020, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura.
Fonte da Imagem: Caixa Gestão de Ativos; Imagem recolhida no site do Center for Systems Science and Engineering at Johns Hopkins no início de março de 2020.

Fonte: Caixa Gestão de Ativos; informação publicamente disponível nos websites das seguintes entidades: Banco Central Europeu, Banco de Inglaterra, Banco do Japão, Bloomberg, Bureau of Economic Analysis, Bureau of Labor Statistics, Comissão Europeia, Eurostat, Federal Reserve Bank of St. Louis, Fundo Monetário Internacional, Cabinet Office, MSCI, National Bureau of Statistics of China, Nikkei, Office for National Statistics, Reserva Federal dos Estados Unidos, Standard & Poor's.

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Acesso Caixadirecta

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