Informação agosto 2019

17 set 2019

Mercados financeiros

Em agosto, o ambiente de maior aversão ao risco, associado aos receios de abrandamento económico, acabou por ser negativo para as classes de maior risco. Os mercados de rendimento fixo, dado o seu estatuto de refúgio, registaram melhores desempenhos.

Em agosto, o ambiente de maior aversão ao risco, que caracterizou o comportamento das principais classes de ativos, foi influenciado pela continuação dos receios sobre o abrandamento da atividade global e pelo agravamento das tensões comerciais entre os EUA e a China. Esta envolvente foi positiva para o desempenho dos mercados de rendimento fixo, tendo-se registado uma queda generalizada das taxas de juro que, no caso das obrigações do tesouro da Alemanha a 10 anos, atingiram um mínimo histórico de -0,71%. Em contraposição, os mercados acionistas, após alcançarem novos níveis máximos em algumas geografias, apresentaram performances negativas.

Enquadramento

No domínio económico, o crescimento homólogo do PIB dos EUA manteve-se a 2,3%, no 2ºT após 2,7% no 1ºT, de acordo com a segunda publicação do Bureau of Economic Analysis. No que respeita ao mercado de trabalho, segundo o Bureau of Labor Statistics, a taxa de desemprego de julho manteve-se em níveis historicamente baixos, a 3,7%. Já na Área Euro (AE), de acordo com o Eurostat, a estimativa da variação homóloga do PIB do 2ºT foi confirmada a 1,1%. Ao nível dos Estados-membros, segundo os institutos nacionais de estatística, foi confirmada a desaceleração do PIB da Alemanha (de 0,9% para 0,4%), o crescimento negativo de Itália (a -0,1%) e a manutenção do crescimento de Portugal (a 1,8%), enquanto o produto de França foi revisto em alta (de 1,3% para 1,4%). Por seu lado, a taxa de desemprego da região desceu de 7,6% em maio para 7,5% em junho.
No continente asiático, o crescimento homólogo do PIB do Japão fixou-se a 1,0% no 2ºT, segundo o gabinete do governo. Adicionalmente, a taxa de desemprego de julho registou o nível mais reduzido desde outubro de 1992, a 2,2%. Por seu turno, na China os principais dados de atividade económica relativos a julho apresentaram uma moderação. Com efeito, em termos homólogos, de acordo com o National Bureau of Statistics as vendas a retalho desaceleraram consideravelmente de 9,8% para 7,6%, a produção industrial abrandou significativamente de 6,3% para 4,8%, a leitura mais baixa desde 2002, e o investimento fixo moderou ligeiramente.
Ao nível dos bancos centrais, nos EUA, a Reserva Federal Americana (Fed), divulgou a ata da reunião de 30 e 31 de julho, na qual foi decretada a descida de 25 pontos base (p.b.) do intervalo das taxas Fed Funds (FF), para [2,00%;2,25%], e o fim da redução dos ativos detidos em balanço. No documento foi frisado que este corte deveria ser interpretado como um ajustamento da política monetária de meio de ciclo e que as próximas alterações das FF dependeriam da evolução da informação económica. No entanto, foi evidenciado a divergência de posicionamento dos membros sobre a ação a tomar acerca das taxas diretoras, com vários a favorecerem um corte (dois participantes recomendaram mesmo uma redução de 50p.b.) e outros a preferirem a manutenção. O mês foi ainda marcado pelo simpósio de política monetária, promovido pela Reserva Federal de Kansas City, em Jackson Hole. No seu discurso, J. Powell, presidente da Fed, salientou a ocorrência de vários eventos desfavoráveis desde a reunião de julho (tais como o aumento de tarifas dos EUA e da China).
Também o Banco Central Europeu (BCE) publicou a ata da reunião de julho, na qual foi decidida (i) a manutenção das taxas diretoras e a sua permanência aos níveis atuais ou mais baixos até, pelo menos, ao final do primeiro semestre de 2020 e (ii) o prosseguimento da política de reinvestimento de ativos. Neste documento destacaram-se os receios dos governadores acerca da desaceleração económica da AE. Ademais, existiu amplo acordo entre os membros para mandatar os comités para analisarem opções para a condução da política monetária. Neste sentido, foi expresso que estas deveriam ser examinadas como um pacote de medidas, isto é, uma combinação de instrumentos que apresentem significativas complementaridades e sinergias (corte de taxas e programa de compra de ativos) dado que poderá ser mais eficaz do que uma implementação sequencial. Os governadores também consideraram apropriado estudar formas de fortalecer a orientação futura sobre as taxas de referência e medidas de mitigação dos efeitos adversos para o setor bancário das taxas de juros negativas.

Mercados Financeiros

O impasse nas negociações comerciais sino-americanas e a retórica protecionista dos EUA face a um conjunto de países foram preponderantes para as performances negativas dos mercados acionistas globais. Desta forma, o índice global de ações (MSCI em euros) apresentou uma rendibilidade de -1,2%, com perdas na generalidade das geografias. Em particular, no bloco desenvolvido, os índices do Japão (Nikkei), dos EUA (S&P500) e da AE (MSCI) registaram desvalorizações de 3,7%, de 1,6% e de 1,4%, respetivamente, com os setores mais cíclicos a evidenciarem as piores performances.
O referido enquadramento, conjuntamente com a manutenção dos receios de abrandamento da atividade global, traduziu-se na queda generalizada das taxas de juro, que no caso das obrigações da Alemanha a 10 anos, atingiram um novo mínimo histórico, de -0,71%. Neste contexto, os índices de dívida pública Barclays apresentaram desempenhos positivos, com o americano a valorizar 3,4%, e o da AE 2,5%. Na Europa, esteve destaque o índice italiano, com ganhos de 3,5%, em virtude da formação de uma nova coligação governativa percecionada positivamente pelos investidores. Nesta envolvente, não obstante o alargamento dos spreads da maioria dos segmentos de crédito, a evolução das taxas de juro foi também determinante para as performances positivas dos mercados de obrigações de dívida privada.
No que concerne às matérias-primas, o índice de referência (Bloomberg) apresentou uma desvalorização de 2,3%, pelo contributo negativo dos segmentos de agricultura e de energia os quais caíram mais de 5%. Em comparação, o agregado de metais-preciosos registou uma performance positiva de 7,6%. O comportamento da componente de agricultura foi influenciado pelo anúncio do incremento das tarifas sobre importações chinesas de produtos agrícolas americanos, em especial da soja. Por seu lado, a evolução dos metais-preciosos foi suportada pelo contexto de queda generalizada de taxa de juro. Já no setor de energia, os preços do petróleo caíram 5,7%, pressionados pela expectativa de aumento da produção da OPEP em agosto e pela subida dos inventários nos EUA.
No mercado cambial, a cotação do euro face ao dólar encerrou o mês de agosto no nível mais baixo desde meados de 2017, ao registar uma depreciação de 0,8%. A moeda única foi condicionada pela recetividade do conselho de governadores do BCE para implementar um pacote de medidas expansionistas e pelo abrandamento da economia europeia.
A perspetiva de implementação destas medidas, nomeadamente o corte de taxas de juro, resultou na queda dos indexantes de mercado monetário europeu em todos os prazos. Assim, as Euribor tanto a 3 meses como a 6 meses desceram cerca de 6p.b. fixando-se ambas a -0,43%, o que representou novos níveis mínimos históricos, enquanto o prazo de 12 meses diminuiu 8p.b. para -0,38%.

Nota: dados a 30 de agosto de 2019, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.

Fonte: Caixagest; informação publicamente disponível nos websites das seguintes entidades: Banco Central Europeu, Banco de Inglaterra, Banco do Japão, Banco Mundial, Bloomberg, Bureau of Economic Analysis, Bureau of Labor Statistics, Comissão Europeia, Eurostat, Federal Reserve Bank of St. Louis, Fundo Monetário Internacional, Cabinet Office, MSCI, Nikkei, Office for National Statistics, Reserva Federal dos Estados Unidos, Standard & Poor's.

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