Agosto 2025

19 set 2025

Dilema da Reserva Federal: Inflação vs. Emprego

Em agosto, o mercado de trabalho dos EUA revelou-se mais fraco que o esperado, e o presidente da Fed referiu que poderá justificar-se a diminuição da restritividade da política monetária. Destacou-se o desempenho positivo dos mercados acionistas.

Em agosto, o mercado de trabalho dos EUA demonstrou-se mais fraco que o esperado, devido à acentuada desaceleração do emprego. Em paralelo, a publicação do índice de preços, em linha com o perspetivado, não foi suficiente para tranquilizar as preocupações inflacionistas geradas pelas tarifas, sobretudo devido à pressão já sentida nos preços dos serviços. Nesta envolvência, o presidente da Reserva Federal salientou que o equilíbrio dos riscos poderá justificar a diminuição do grau de restritividade da política monetária. Destacou-se o desempenho positivo dos mercados acionistas. Em contraste, os títulos de dívida pública da Área Euro foram penalizados pela incerteza política em França.

Enquadramento: agosto 2025

Ao nível económico, em agosto, a política aduaneira dos EUA voltou a constituir uma das principais preocupações, após a Administração ter divulgado um enquadramento mais abrangente e específico quanto à aplicação de tarifas às importações. Foi estabelecida uma percentagem base entre 15% e 20% para a maioria dos parceiros (UE: 15%). Como principais exceções destacaram-se o México e o Canadá (25% e 35%) e a Suíça (39%), enquanto o Brasil e a Índia foram alvo de tarifas punitivas (50%). Adicionalmente, foram introduzidas taxas sobre setores específicos, com destaque para o setor automóvel e metais industriais. Os dados económicos dos EUA voltaram a evidenciar sinais de desaceleração da atividade, sobretudo nos segmentos imobiliário e laboral. Quanto ao consumo privado, apesar da recuperação do crescimento no início do trimestre, os níveis de confiança das famílias sofreram uma ligeira deterioração em agosto, mantendo-se historicamente baixos. Na Área Euro (AE), apesar da persistência de fatores de incerteza estrutural e do ressurgimento de riscos políticos e orçamentais, os indicadores de atividade empresarial mantiveram-se em território expansionista. Na China, apesar da manutenção de estímulos ao longo do último ano, os números mensais de atividade revelaram fragilidade no início do trimestre, com destaque para o consumo das famílias e para o investimento em ativos fixos. Já os preços das habitações continuaram a trajetória de depreciação.

Quanto à inflação em julho, a variação homóloga do deflator do consumo privado nos EUA foi publicado em linha com a estimativa do mercado e interpretado como um indício de que o impacto das tarifas sobre os preços está a ser menos adverso do que o previsto. As expetativas de inflação dos consumidores agravaram-se de novo no último mês, mantendo-se acima da média de longo prazo. Na AE, a variação homóloga do índice de preços no consumidor esteve alinhada com o objetivo de médio prazo do BCE, enquanto na China os preços permaneceram quase estagnados.

O Presidente da Reserva Federal (Fed) afirmou que a instituição se encontra numa “situação desafiante”, dada a evolução recente da inflação e do mercado de trabalho. “Os riscos negativos ao emprego estão a aumentar” e “os efeitos das tarifas nos preços ao consumidor são agora claramente visíveis”, devendo aumentar nos próximos meses. Confrontado com estes desafios ao seu mandato dual, Powell abriu a porta à possibilidade de um corte dos juros diretores: “Com a política monetária em terreno restritivo, o cenário base e o balanço de riscos poderão justificar um ajustamento da postura de política”. Por seu lado, outros membros do Conselho de Governadores sublinharam que a inflação permanece ainda claramente acima do objetivo, o que persiste já há mais de quatro anos, e poderá ser agravado por uma descida dos juros. No final do mês, intensificou-se a pressão da Administração norte-americana sobre a Fed, gerando novos receios quanto à sua independência.

Na Área Euro, a presidente do BCE afirmou que a economia deverá apresentar um crescimento ainda lento no terceiro trimestre (0,1% no segundo), com as dúvidas sobre o comércio global a permanecerem relevantes, apesar do acordo alcançado com os EUA. No Reino Unido, o Banco de Inglaterra reduziu em 25 p.b. a taxa de juro diretora, para 4%, como esperado.

Mercados Financeiros: agosto 2025

Os principais índices de referência dos mercados de ações reforçaram no mês de agosto o desempenho positivo registado em 2025, com o norte-americano e o europeu a alcançarem máximos históricos. No entanto, o ganho mensal tornou-se mais contido, à medida que as métricas de valorização atingem patamares mais elevados. A perspetiva de diminuição do grau de restritividade da política monetária nos EUA aumentou a confiança dos investidores na moderação suave do crescimento, por oposição a um eventual abrandamento mais expressivo. O consumo e o investimento não residencial nos EUA continuam a revelar-se resilientes. Em adição, os recentes acordos comerciais alcançados pelos EUA com os principais parceiros possibilitaram alguma redução da incerteza em torno da política económica. Por fim, os resultados empresariais divulgados permanecem bastante favoráveis. O desempenho do bloco de emergentes foi inferior ao de desenvolvidos, condicionado pelo mercado da Índia, dada a imposição a uma tarifa de 50%, o que mitigou os ganhos provenientes da China.

Nos mercados de obrigações de dívida pública, o compósito de dívida dos EUA valorizou, com o aumento de expetativas de corte dos juros diretores por parte da Fed. As yields das obrigações americanas com maturidade a 10 anos desceram 15p.b., e a dois anos 34p.b.. Em contraposição, as obrigações europeias patentearam subidas de yields, em específico nos títulos de maturidade mais longa. A dívida privada denotou ganhos, mais expressivos nos segmentos em dólares.

O compósito agregado de matérias-primas revelou uma valorização, merecendo destaque a subida da cotação do ouro, de 5,4%, elevando a 31% o ganho acumulado no ano. Para esta evolução contribuíram as crescentes preocupações quanto à independência da Fed. A maior expetativa de descida dos juros diretores pelo banco central concorreu também para a apreciação do ouro e, adicionalmente, da prata. Os metais industriais registaram de igual modo uma subida de preços, recuperando parcialmente da queda do mês anterior. O segmento agrícola avançou mais de 4%, sendo de destacar a subida de preços do café e da soja. O preço do petróleo recuou 6%, refletindo a expetativa de potenciais desenvolvimentos positivos no que respeita à guerra na Ucrânia.

Ao nível do mercado cambial, o dólar retomou o movimento de depreciação que vem averbando desde o início do ano, acompanhando o aumento das expetativas de descidas adicionais dos juros pela Fed. As preocupações em torno da independência da autoridade monetária penalizaram também a divisa norte-americana. O euro apreciou 2,4% face ao dólar, de 1,14 para cerca de 1,17 dólar por euro. O iene apreciou, com o aumento da probabilidade de que o Banco do Japão venha a elevar de novo a taxa de juro diretora.

No mercado monetário, as taxas Euribor evidenciaram em agosto uma evolução diferenciada. A 3 meses observou-se o segundo aumento mensal consecutivo, após dezasseis meses de queda, refletindo a expetativa crescente de que o ciclo de descida dos juros pelo BCE terá chegado ao fim.

Nota: dados a 31 de agosto de 2025, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.

As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: Eurostat, FMI, Banco Mundial, BCE e Reserva Federal.

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