Dezembro 2024

16 jan 2025

Obrigações desvalorizam, apesar do corte das taxas

Em dezembro, a Fed e o BCE reduziram as taxas de juro, o que resultou no aumento das yields e na diminuição do apetite pelo risco dos investidores, condicionando o desempenho dos mercados acionistas, dadas as valorizações já elevadas no ano.

Em dezembro, os principais bancos centrais reduziram novamente as respetivas taxas diretoras, tendo o BCE e a Fed decretado descidas de 0,25.p.p. No entanto, a mensagem transmitida por estas autoridades foi distinta uma vez que enquanto o BCE indicou que os riscos para o crescimento económico superam os da inflação, a Fed sinalizou que as pressões inflacionistas deverão limitar o grau de flexibilização da política monetária. Neste enquadramento, as yields evidenciaram subidas gerando menor apetência dos investidores por risco, também em função das valorizações já alcançadas no ano em algumas regiões, condicionando, no mês, o desempenho dos mercados acionistas e obrigacionistas.

Enquadramento: dezembro 2024

Ao nível económico, os indicadores voltaram a mostrar um contraste entre os EUA e as restantes regiões de maior relevância. No primeiro caso, a par da revisão em alta do crescimento do PIB do 3º trimestre, os dados continuaram a indicar um ritmo de expansão robusto. Destacaram-se os do consumo real e do rendimento pessoal de novembro, suportados pela retoma da criação de emprego e pela forte valorização do património das famílias. Na Área Euro (AE), os números de sentimento de dezembro continuaram a refletir um enquadramento económico mais fraco no último trimestre. Embora os de mensuração da atividade tenham sinalizado uma melhoria nos serviços no mês passado, na indústria prolongou-se o período de contração. Já no caso do consumo, a confiança das famílias recuou pela segunda vez, registando a leitura mais diminuta desde o passado mês de abril, e permanecendo abaixo da média de longo prazo. Na China, os indicadores ilustraram a debilidade do consumo, o que conduziu a um apelo do Politburo do Partido Comunista da China aos decisores de política económica para intensificarem os apoios à economia em 2025.

Quanto à inflação, nos EUA e na AE mantiveram-se os indícios de persistência das pressões inflacionistas, com as taxas de crescimento a divergir do objetivo dos bancos centrais. Na AE, o incremento da variação do índice harmonizado de preços no consumidor foi explicado essencialmente pela evolução do contributo da energia. Já na China, o índice de preços no consumidor recuou, 0,3% para 0,2%, e no produtor contraiu 2,5%.

Em termos da atuação dos bancos centrais, nos EUA, o Conselho de Governadores (CG) da Fed reduziu a taxa diretora efetiva em 25 p.b., para um intervalo compreendido entre 4,25%-4,50%, indicando que o ritmo de flexibilização deverá continuar em 2025, embora a um ritmo mais lento, tendo sido admitidas pausas no decurso do ano. O presidente Powell transmitiu um maior grau de preocupação com a inflação, referindo que o ciclo de ajustamento entrou “numa nova fase”, e que o Conselho pretende abrandar a cadência dos cortes das taxas, enquanto os especialistas reviram em alta as projeções para a inflação nos próximos anos. Na AE, o CG do BCE deliberou, de forma unânime, a favor de uma redução das taxas de juro diretoras em 25 p.b., o que colocou a da facilidade de depósito em 3,00%. Em contraste com a Fed, destacou que o processo desinflacionista se encontra “bem encaminhado”, e os riscos para o crescimento enviesados em “baixa” pelo que, também pela voz da presidente, Christine Lagarde, deixou implícito a expetativa de continuação de cortes das taxas este ano, o que foi cimentado pela eliminação da referência quanto à necessidade de uma política monetária restritiva, e pela diminuição das projeções de crescimento económico por parte dos especialistas.

Tanto o Banco de Inglaterra, como o Banco do Japão (BoJ), mantiveram as taxas diretoras inalteradas em 4,75% e 0,25%, em linha com o previsto. No caso do europeu, assistiu-se a uma maior divisão de votos, com três dos nove membros do CG a julgarem apropriado uma diminuição, mais dois votos do que em setembro. No asiático, o presidente, Kazuo Ueda, justificou a decisão em face das incertezas acerca a política económicos dos EUA e da necessidade do CG dispor de maior visibilidade quanto ao decurso das negociações dos aumentos salariais de 2025.

Mercados Financeiros: dezembro 2024

Em dezembro, os principais índices acionistas evidenciaram desempenhos distintos, destacando-se pela negativa os EUA e, pela positiva, a AE e o Japão. A prudência perante a sinalização de menos cortes das taxas por parte da Fed em 2025, dada a perspetiva da inflação permanecer elevada e acima do objetivo, prejudicaram o índice de referência norte-americano. Na AE, a flexibilização da política monetária e o regresso do indicador avançado da atividade no setor dos serviços a território expansionista potenciaram um contexto favorável à região. No Japão, os mercados acionistas beneficiaram da depreciação do iene e da decisão do BoJ em postecipar eventuais subidas das taxas de juro diretoras, em função dos riscos considerados para o crescimento económico. Já na China, as ações ganharam apoio no otimismo decorrente do anúncio de mais estímulos à atividade económica e nos indícios de que a atividade das empresas apresentou o melhor nível desde o final do 1ºT.

No que respeita à dívida pública, os índices dos EUA e da Alemanha denotaram desvalorizações perante um contexto de subida expressiva das yields, sobretudo nos prazos mais longos da curva de rendimentos, em função da resiliência do mercado laboral nos EUA e dos receios em relação à inflação ainda elevada. No mesmo sentido, os segmentos de crédito também patentearam perdas, pressionados pela subida das taxas de juro e pelo alargamento dos prémios de risco, excetuando-se o índice de grau especulativo em euros.

O índice agregado de matérias-primas apreciou, mediante o desempenho positivo dos segmentos energético e agrícola, e contrariamente ao verificado nas restantes componentes do agregado. O compósito de energia foi impulsionado pelos ganhos do petróleo e do gás natural, enquanto o de agricultura beneficiou da subida dos preços do milho e do café que compensaram a descida da cotação do açúcar, instigada pelo aumento da produção brasileira e pela possibilidade de a Índia desbloquear as restrições às exportações. Em contraposição, os metais industriais foram os que mais condicionaram o desempenho da classe, num mês em que o cobre negociou no valor mais baixo desde março e o níquel renovou mínimos de quatro anos. Os metais preciosos também desvalorizaram, com o ouro e prata pressionados por receios inflacionistas e expectativas de taxas de juro mais elevadas nos EUA.

Ao nível do mercado cambial, o dólar valorizou em dezembro em relação às moedas globais mais transacionadas, em virtude da perspetiva de um menor número de cortes das taxas por parte da Fed em 2025. Em contraste, o euro depreciou face à moeda norte-americana e à libra esterlina, perante a retórica mais flexível do BCE. O iene, por ser turno, também registou perdas face às incertezas quanto à política monetária do BoJ.

No que se refere ao mercado monetário, as taxas Euribor conservaram a tendência de redução nos prazos a 3 e a 6 meses, por oposição à dos 12 meses, que permaneceu pela primeira vez desde maio sem alteração.

Nota: dados a 31 de dezembro de 2024, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: BEA, Eurostat, Fed, BCE, Banco Central do Japão, Banco Central de Inglaterra.

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Acesso Caixadirecta

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Obrigações desvalorizam, apesar do corte das taxas

Em dezembro, a Fed e o BCE reduziram as taxas de juro, o que resultou no aumento das yields e na diminuição do apetite pelo risco dos investidores, condicionando o desempenho dos mercados acionistas, dadas as valorizações já elevadas no ano.