Fevereiro 2022

17 mar 2022

Conflito militar na Ucrânia a gerar maior aversão ao risco

Em fevereiro, às preocupações do início do ano com uma normalização demasiado célere das políticas monetárias, somaram-se as decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia, causando um aumento da aversão ao risco.

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Em fevereiro, às preocupações do início do ano com uma normalização demasiado célere das políticas monetárias, somaram-se as decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia como aspetos determinantes para o comportamento dos mercados. O referido risco geopolítico emergiu pela potencial alteração do paradigma que tem orientado a maioria das relações diplomáticas entre países, baseado no direito internacional e na cooperação económica. Neste contexto, os principais mercados acionistas desvalorizaram, em especial os europeus, com a perspetiva quanto às economias desta região serem eventualmente as mais afetadas pelas sanções impostas à Rússia.

Enquadramento: fevereiro 2022

No domínio económico, a Comissão Europeia (CE) publicou o seu relatório intercalar de perspetivas, no qual notava que a economia europeia tinha iniciado o ano de 2022 numa posição mais frágil do que o projetado anteriormente. Contudo, era perspetivado que após uma moderação, a expansão da atividade ganhasse ritmo no 2ºT e permanecesse robusta até ao final do horizonte de projeção, o ano de 2023. Com efeito, a CE apontava para um crescimento do PIB real da Área Euro (AE) de 4,0% em 2022 (vs. 4,3% no relatório de outono) e de 2,7% em 2023 (vs. 2,4%).

Na AE, os dados económicos divulgados referentes a fevereiro apontavam para uma aceleração da atividade, porém não incorporam o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia. De facto, o indicador de sentimento económico, compilado pela CE, registou uma subida, após três meses de quedas. No mesmo sentido, o de clima de negócios da Alemanha e o de França também evidenciaram uma melhoria. No que concerne ao potencial impacto do conflito bélico existe uma enorme incerteza quanto à sua magnitude, contudo o economista-chefe do Banco Central Europeu (BCE), P. Lane, apontava para uma redução do produto deste ano de cerca de 0,4% num cenário moderado e de 1,0% num cenário mais severo.

Nos EUA, a atividade económica continuou a demonstrar robustez. O mercado de trabalho permaneceu sólido, ao voltar a apresentar uma criação líquida de postos de trabalho avultada, de 467 mil em janeiro. Por seu lado, a taxa de desemprego evidenciou uma subida marginal de 3,9% para 4,0%, contudo acompanhada por um incremento da taxa de participação de 61,9% para 62,2%.

Ao nível dos bancos centrais manteve-se a tendência de normalização das políticas monetárias. De facto, várias instituições monetárias decretaram incrementos das taxas diretoras, tais como: Brasil, México, Peru, Reino Unido, Hungria, Polónia, Roménia, Nova Zelândia e Rússia. Importa notar que no caso do Banco Central da Rússia houve um aumento da taxa de referência de 9,5% para 20,0% no final de fevereiro, de forma a tentar conter a depreciação do rublo e a subida da inflação, após a implementação de severas sanções económicas e financeiras ao país.

Já o BCE, na reunião de 3 de fevereiro, frisou a necessidade de manter a flexibilidade na condução da política monetária. Neste âmbito, apesar de continuar a antecipar que a inflação desacelere no decurso deste ano, a presidente, C. Lagarde, declarou que os registos elevados e superiores ao esperado das métricas de preços, tanto em dezembro como em janeiro, causaram uma preocupação unânime no conselho de governadores. De notar que a inflação de janeiro situou-se a 5,1%, em termos homólogos, segundo o Eurostat.

Nos EUA, a Reserva Federal americana (Fed) divulgou a ata da reunião de janeiro que demonstrou que a maioria dos participantes sugeriu que se justificava um ritmo de aumentos mais rápido das Fed Funds do que em 2015.

Mercados Financeiros: fevereiro 2022

Na classe acionista foram observadas perdas na maioria dos mercados, num enquadramento de instabilidade geopolítica na Europa de Leste, que culminou na invasão da Ucrânia pela Rússia e, em consequência, na imposição de sanções económicas e financeiras por parte de um elevado número de países à Rússia. Neste contexto, em resultado das preocupações com o potencial impacto económico do conflito, o movimento de queda mais acentuadas verificou-se na AE. Em contraposição, esteve o mercado do Reino Unido, cuja valorização foi impulsionada pela valorização do setor de materiais. No agregado de emergentes destacou-se a queda expressiva do mercado da Rússia.

Em fevereiro, os principais mercados de dívida pública desvalorizaram, em especial na AE, penalizado não só pela maior subida das yields de maturidades mais elevadas na Alemanha, face às dos EUA, mas também pelo aumento dos prémios de risco de Estados-membros. Contudo, nas emissões com maturidade mais reduzidas assistiu-se à divergência na tendência das taxas de juro, com as fortes subidas nos EUA a contrastarem com a relativa estabilidade na Alemanha. No que respeita às obrigações de dívida privada, pelo contexto de subida de taxas de juro sem risco e de alargamento de spreads, apresentaram rendibilidades negativas.

A classe de matérias-primas valorizou num contexto de disrupções das cadeias de abastecimento e distribuição globais, com os contributos positivos dos principais segmentos, em particular os de agricultura, promovido pela subida da cotação do preço do trigo, que atingiu máximos históricos, e o de metais industriais. Neste último, evidenciou-se o alumínio, cuja cotação atingiu também os valores mais altos de sempre, influenciado pela suspensão de capacidade de produção na Europa e na China. A energia registou também um desempenho positivo, sobretudo pela subida dos preços do petróleo e derivados na sequência das preocupações relacionadas com o referido conflito na Ucrânia, com a gasolina a atingir um máximo de 14 anos.

No mercado cambial, o euro pautou-se por um comportamento de depreciação face às moedas mais transacionadas a nível mundial, as do G10, e misto face às de emergentes. Já o dólar apresentou um perfil de apreciação face às moedas do G10 e também misto face às de emergentes. O par cambial euro/dólar encerrou o mês com uma desvalorização marginal. Por outro lado, de salientar que o rublo registou uma perda expressiva tanto face ao dólar como ao euro.

Por fim, no mercado monetário da Área Euro, a taxa Euribor subiu nos principais prazos de referência, a de 3 meses +2p.b. para -0,53%, a de 6 meses +2p.b. para -0,49% e a de 12 meses +10p.b., para -0,35%.

Nota: dados a 28 de fevereiro de 2022, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.

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Fonte: Caixa Gestão de Ativos; informação publicamente disponível nos websites das seguintes entidades: Comissão Europeia, Ifo Institute, INSEE, Reuters, BCE, BLS.

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Acesso Caixadirecta

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