Informação dezembro 2018

17 jan 2019

Mercados financeiros

Em 2018, as taxas de mercado monetário dos EUA evidenciaram variações mais pronunciadas do que as da Área Euro.

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Após um desempenho de mercados pró-cíclico na maior parte do ano, a prevalência dos riscos geopolíticos e os sinais de abrandamento global, patentes em diversos indicadores avançados, contribuíram para uma inversão do mesmo no último trimestre de 2018. Apesar do forte de crescimento dos lucros empresariais, em especial nos EUA, os mercados de ações reverteram os ganhos obtidos desde a correção intermédia de janeiro, finalizando o ano com rendibilidades negativas. Por sua vez, a tendência de alargamento dos spreads de crédito contribuiu para os retornos negativos da própria classe.

Economia
Em dezembro, o PIB dos EUA relativo ao 3ºT foi revisto em baixa de 3,5% para 3,4%, em cadeia e anualizado, de acordo com a terceira leitura publicada pelo Bureau of Economic Analysis. Este ajuste adveio de um menor crescimento do consumo e de um contributo mais negativo das exportações líquidas. No respeitante ao mercado de trabalho, segundo o Bureau of Labor Statistics, em novembro, foram gerados 155 mil postos de trabalho e a taxa de desemprego permaneceu pelo terceiro mês a 3,7%. Na vertente salarial, o crescimento da remuneração média por hora manteve-se a 3,1% variação homóloga (v.h.). Por sua vez, no que se refere à evolução geral de preços, o índice PCE de novembro desacelerou de 2,0% (v.h.) para 1,8%. Na Área Euro, de acordo com a terceira leitura do Eurostat o crescimento da região manteve-se a 0,2% no 3ºT, em cadeia e não anualizado. Por seu turno, segundo a estimativa preliminar da CE, o indicador de confiança dos consumidores prolongou a trajetória descendente, alcançando o mínimo desde fevereiro de 2017. Já o Eurostat reviu a inflação (IHPC) de novembro de 2,0% para 1,9% (v.h.), face a 2,2% em outubro. Em Portugal, o Banco de Portugal publicou o Boletim Económico o qual refere que a atividade económica portuguesa deverá apresentar uma desaceleração. Desta forma, a projeção da variação do PIB real foi ajustada em baixa de 1,9% para 1,8% para 2019, permanecendo inalterada a 1,7% para 2020 e estimada a 1,6% para 2021.

Mercado Monetário
Em 2018, as taxas de mercado monetário dos EUA evidenciaram variações mais pronunciadas do que as da Área Euro. No mercado de dólares, o indexante Libor evidenciou um aumento anual de 111 pontos base (p.b.), para 2,81%, no prazo de 3 meses, uma subida de 103p.b., para 2,88%, no de 6 meses e um incremento de 90p.b., para 2,84%, no de 12 meses. Já a taxa Euribor registou uma subida anual de 2p.b. para -0,31% na maturidade de 3 meses, um aumento de 3p.b. para -0,24% na de 6 meses e um acréscimo de 7p.b. para -0,12% na de 12 meses. Relativamente à evolução das taxas implícitas para junho e para dezembro de 2019, observaram-se duas tendências ao longo do ano. A primeira delimitou-se de janeiro até ao início de novembro e caracterizou-se por uma trajetória ascendente em harmonia com o processo de normalização monetária da Fed, apesar de terem ocorrido oscilações intermédias. A segunda ocorreu nos últimos meses de 2018 e patenteou-se por uma trajetória descendente explicada por alguns discursos de membros da Fed que indiciavam que os níveis das Fed Funds estariam próximos da neutralidade e por uma postura desta instituição mais cuidadosa na análise da informação económica dado as implicações que a volatilidade dos mercados financeiros, a moderação da economia global e as tensões comerciais poderão ter na expansão económica do país. Desta forma, a taxa do futuro com vencimento em junho de 2019 passou de 2,00% para 2,42% enquanto o congénere com maturidade em dezembro aumentou de 2,07% para 2,40%. Por outro lado, a taxa inerente ao futuro sobre a Libor do Dólar a 3 meses, com vencimento no final de 2019, registou um aumento anual de 32p.b. para 2,65%. Em contraste, a implícita no futuro para a Euribor a 3 meses com o mesmo vencimento, decresceu 36p.b., para -0,25%. Assim, o diferencial de taxas entre os dois blocos aumentou, em 68p.b., para 2,90%.

Bancos Centrais
Nos EUA, a Fed, na reunião de 18 a 19 de dezembro, decretou o aumento em 25p.b. do intervalo de Fed Funds (FF) para [2,25%-2,50%]. O comité considera que alguns incrementos adicionais serão consentâneos com uma expansão económica sustentada. Na conferência de imprensa, o presidente da Fed, J. Powell, referiu que com esta subida as FF já se situam no intervalo do que é considerado neutral e que nem a velocidade nem a meta para as FF se encontram predeterminadas. No que respeita à redução do balanço, mencionou que o processo é gradual e previsível, estando em “piloto automático”. Em adição, a Reserva Federal divulgou as projeções económicas para o horizonte 2018-2021. A estimativa do PIB foi revista em baixa de 3,1% para 3,0% em 2018 e de 2,5% para 2,3% em 2019; por sua vez, permaneceu inalterada a 2,0% em 2020 e a 1,8% em 2021. No âmbito da inflação, esta também foi revista ligeiramente em baixa de 2,1% para 1,9% em 2018 e de 2,0% para 1,9% em 2019, já a projeção da taxa de desemprego não registou alterações nem para 2018 (a 3,7%) nem para 2019 (a 3,5%). Na Área Euro, o BCE, na reunião de 13 de dezembro, optou pela manutenção das taxas diretoras e reafirmou que estas permanecerão aos níveis correntes até ao verão de 2019. No que respeita ao programa de compras de ativos, o comité confirmou o término em dezembro de 2018, contudo, a política de reinvestimento irá continuar por um período alargado. Na declaração introdutória constou que os riscos para a economia continuam a ser aferidos como balanceados. Similarmente à Fed, o BCE divulgou as projeções económicas para o horizonte plurianual 2018-2021. O crescimento foi revisto em baixa de 2,0% para 1,9% em 2018 e de 1,8% para 1,7% em 2019; porém, permaneceu inalterado a 1,7% em 2020 e foi estimado a 1,5% para 2021. Relativamente à inflação, a previsão foi ajustada de 1,7% para 1,8% em 2018 e de 1,7% para 1,6% em 2019; todavia manteve-se a 1,7% em 2020 e foi estimada a 1,8% em 2021. Quanto ao mercado de trabalho, a taxa de desemprego deverá apresentar uma trajetória descendente ao passar de 8,2% em 2018, para 7,1% em 2021.

Mercado de obrigações – dívida soberana
Em 2018, os principais índices de dívida pública registaram desempenhos maioritariamente positivos, tendo o de Itália sido a exceção, com perdas de 1,3%. Nos EUA, pese embora a subida significativa de yields no início do ano, estas evidenciaram alguma volatilidade e uma tendência de descida no ano, influenciadas pelo acentuar da retórica protecionista da administração, por medidas de política externa disruptivas e por questões políticas internas. Desta forma, subsequentemente a um mês de dezembro bastante favorável e à componente de cupões, o compósito terminou o ano com valorizações de 0,9%. Em relação à Área Euro, a tendência foi similar num contexto de um crescimento potencialmente mais anémico e de instabilidade política, nomeadamente, a divergência entre o governo italiano e a Comissão Europeia e a instabilidade em torno do “Brexit” , impactando as yields na maturidade dos 10 anos, que contraíram 19p.b. em 2018. No que concerne à maioria dos países da Área Euro, verificou-se um aumento do diferencial das taxas germânicas, com exceção das emissões portuguesas, as quais para o prazo dos 10 anos estreitaram 22p.b., para 1,48%.

Mercado de obrigações – dívida empresarial
Os índices de referência para as emissões em dólares e em euros registaram performances transversalmente negativas, penalizados pelo aumento dos prémios de risco de crédito em praticamente todos os setores. A manutenção do contexto de incerteza associado ao enquadramento comercial EUA-China, a queda significativa do preço do petróleo e a divulgação de perspetivas, por parte das empresas, menos benignas para 2019, influenciaram negativamente os agregados em dólares. Paralelamente, os compósitos em euros, que também não foram indiferentes a esta alteração do paradigma empresarial para 2019, foram negativamente impactados pela instabilidade na Europa. O ano de 2018 destacou-se, também, pelo fim das aquisições de dívida privada ao abrigo do programa de compra de ativos do BCE que, poderá ter contribuído negativamente para a evolução dos spreads na Área Euro. Apesar deste comportamento negativo, a taxa média de incumprimento de crédito global de emitentes de risco especulativo, de acordo com o relatório da Moody’sregistou o valor mais baixo desde 2015.

Cambial
Ao longo do ano o euro manteve a tendência de depreciação face ao dólar, registo que se tornou praticamente transversal no final de 2018 perante outras moedas. Por um lado, a moeda europeia poderá ter sido penalizada pela divulgação de dados comparativamente menos favoráveis na Área Euro vs. os EUA e, por outro, pela manutenção de alguma instabilidade de cariz político. Desta forma, embora em dezembro a envolvente política propiciasse uma apreciação do euro, foi insuficiente para colmatar a depreciação já registada.

Mercado de ações
O ano de 2018 ficou marcado pelo fim do sincronismo do crescimento económico entre as várias regiões, com a trajetória comparativamente positiva dos EUA a diferenciar-se do abrandamento das economias emergentes e do menor dinamismo na Área Euro. Adicionalmente, a emergência de vários pontos de instabilidade política num contexto de divulgação, por parte dos representantes das empresas, de expectativas menos benignas para o fim de 2018 e sobretudo 2019, acentuou a aversão ao risco dos investidores. Neste enquadramento, apesar das épocas de resultados favoráveis, sobretudo nos EUA, a maioria dos mercados acionistas patenteou desvalorizações em 2018, com destaque para os mercados emergentes (MSCI em euros), para a Área Euro (MSCI) e para os EUA (S&P 500), com variações de -9,9%, -11,5% e -4,4%, respetivamente. Enquanto este último mercado obteve algum suporte do enquadramento económico, a pior dinâmica dos emergentes foi especialmente afetada por sinais de abrandamento da economia chinesa, visível nos indicadores avançados, bem como pela agudização da retórica protecionista por parte da administração americana face a este país. Pela positiva estiveram em evidência alguns mercados emergentes, particularmente o Brasil, cujo índice acionista (BOVESPA) subiu 15%. O VIX, uma medida de expectativas de volatilidade do mercado acionista americano, registou de forma recorrente aumentos do nível, contrastando com os valores anormalmente baixos registados no ano transato.

Matérias-Primas
O índice de referência de matérias-primas, em dólares, encerrou o ano com uma rendibilidade de -11,2%, com o contributo negativo de todos os segmentos. Em termos individuais, as componentes de agricultura, de metais industriais, de energia e de metais preciosos, desvalorizaram 10,8%, 19,5%, 12,7% e 4,6%, respetivamente. O principal fator a influenciar a performance da classe incidiu sobre as tensões comerciais entre os EUA e a China. Estas vieram agudizar os receios de abrandamento da economia mundial que, por sua vez, afetaram os indicadores de confiança para a indústria (PMI) globais, tradicionalmente muito correlacionados com a evolução das matérias-primas. Na componente energética, o preço do petróleo teve a sua primeira queda anual desde 2015, com os preços cotados nos EUA (WTI) e no Mar do Norte (Brent), a descerem 24,8% e 19,5%, respetivamente. Apesar da alteração da política da OPEP e da Rússia, no que concerne à redução da produção para níveis inferiores ao primeiro acordo realizado em novembro de 2016, a rápida subida da oferta de petróleo de xisto (shale oil) nos EUA suportou um aumento dos inventários a nível global, o que aliado aos receios de abrandamento da procura por via das tensões comerciais acabou por contribuir para a performance negativa verificada.

Fonte: Caixa Gestão de Ativos; informação publicamente disponível nos websites das seguintes entidades: Bureau of Economic Analysis, Bureau of Labor Statistics, Comissão Europeia, Eurostat, Institutos Nacionais de Estatística, Bancos Centrais, MSCI, Bloomberg, FRED, Moodys, S&P, Ficth, FMI, OCDE, Banco Mundial, Comissão Europeia, CBO, Markit, ISM.

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