Janeiro de 2020

29 fev 2020

Mercados Financeiros

O início de 2020 pautou-se por uma divergência entre a informação positiva ao nível macroeconómico e empresarial e o surgimento de riscos exógenos, nomeadamente as tensões entre os EUA e o Irão e, em especial, a epidemia do Coronavírus na China.

O início de 2020 pautou-se por uma divergência entre a informação positiva ao nível macroeconómico e empresarial e o surgimento de riscos exógenos, nomeadamente as tensões entre os EUA e o Irão e, em especial, a epidemia do Coronavírus na China. Neste contexto, as classes de ativos mais cíclicas evidenciaram performances negativas contrastando com o melhor comportamento dos mercados de “refúgio”.

Enquadramento

No domínio económico, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou o relatório intercalar de perspetivas económicas com horizonte até 2021. O PIB mundial foi revisto em baixa de 3,4% para 3,3% em 2020 e de 3,6% para 3,4% em 2021. Este ajuste refletiu surpresas negativas em alguns países emergentes, como é o caso da Índia com uma redução de 1,2 pontos percentuais (p.p.) no crescimento esperado deste ano e de 0,9p.p. do próximo. Em adição, a ocorrência de manifestações de descontentamento social também afetou as perspetivas de crescimento de alguns países. Importa ainda salientar que o FMI calcula que as estimativas de crescimento do PIB global de 2019 e de 2020 seria inferior em 0,5p.p. em cada ano sem os estímulos monetários implementados pelos bancos centrais.
No que concerne à divulgação de indicadores económicos, de acordo com a primeira estimativa do Bureau of Economic Analysis, o PIB do 4ºT dos EUA apresentou uma variação homóloga (v.h.) de 2,3%, ligeiramente acima do trimestre anterior. No mercado laboral, em dezembro a criação de postos de trabalho fixou-se em 145 mil, após 256 mil criados em novembro, e a taxa de desemprego permaneceu no registo mais baixo desde 1969, a 3,5%. Já na Área Euro (AE), o PIB do 4ºT desacelerou de 1,2% para 1,0% (v.h.), de acordo com a primeira leitura do Eurostat. No que concerne ao mercado de trabalho da AE, a taxa de desemprego de dezembro desceu para 7,4%, o valor mais baixo desde 2008.

Ao nível dos bancos centrais, nos EUA, a Reserva Federal Americana (Fed), na reunião de 28 e 29 de janeiro, manteve o intervalo das Fed Funds (FF) a [1,50% - 1,75%]. O comité frisou que a postura monetária atual é a apropriada para sustentar a expansão económica e o mercado de trabalho, bem como para que a inflação retorne para o objetivo (de 2%). Na conferência de imprensa, o presidente J. Powell considerou que os fundamentais do consumo encontram-se sólidos, enquanto as exportações e o investimento permanecem fracos. No que respeita à inflação, notou que esta deverá aumentar para perto de 2% nos próximos meses devido a efeitos de base. Na Europa, o Banco Central Europeu na reunião de 23 de janeiro, não efetuou alterações a qualquer medida em curso e anunciou formalmente a revisão da estratégia da política monetária. No discurso introdutório a presidente C. Lagarde salientou que a informação económica recente aponta para alguma estabilização da atividade. Os riscos para o crescimento da região permaneciam com um viés negativo, todavia menos pronunciado. Relativamente à inflação, antecipou que continue perto dos níveis recentes (a estimativa rápida do Eurostat aponta para uma inflação homóloga de 1,4% em janeiro). No entanto, a métrica subjacente (que exclui as componentes mais voláteis), apesar de permanecer em níveis modestos, apresenta sinais de um incremento moderado.

Mercados Financeiros

O início de 2020 ficou pautado pelas preocupações com as consequências económicas potenciais do Coronavírus, declarado de emergência global pela Organização Mundial de Saúde. Perante o ressurgimento dos receios de abrandamento, a maioria dos mercados acionistas apresentaram performances negativas, nomeadamente os mais expostos ao comércio internacional. No entanto, o índice global de ações MSCI, em euros, permaneceu relativamente inalterado, suportado pela estabilidade das ações dos EUA e pelo efeito positivo da valorização do dólar face ao euro.

Este enquadramento repercutiu-se em fortes quedas das taxas de juro, o que resultou em ganhos nos principais índices de rendimento fixo, com destaque para os de dívida pública, tanto dos EUA como da AE. Na AE, verificou-se uma diminuição dos diferenciais entre as yields dos emitentes soberanos e as da Alemanha. Neste âmbito, pelas evidências de estabilidade da coligação governativa, realçou-se o desempenho de Itália, cujo spread da maturidade a 10 anos estreitou 17p.b., para 137p.b.. Também as obrigações de crédito foram beneficiadas pelo impacto positivo da descida das yields, que inclusivamente colmataram o efeito negativo do alargamento quase generalizado dos prémios de risco de crédito. Desta forma, as emissões em euros e em dólares de dívida privada de maior qualidade creditícia com uma maturidade superior registaram as maiores valorizações.

No que respeita à classe de matérias-primas, o índice de referência (Bloomberg) apresentou uma rendibilidade negativa de -7,4%, com contributos negativos de quase todos os segmentos. As componentes energética e de metais industriais foram especialmente penalizada pelos efeitos imediatos das medidas de contenção do Coronavírus implementadas pelas autoridades chinesas, tais como o encerramento de setores específicos em algumas regiões, do que resultou uma diminuição da procura deste país. Nesta envolvente, os preços de alguns bens agrícolas caíram, pelo aumento dos receios quanto a capacidade da China em cumprir com o estipulado no acordo comercial com os EUA. Em contraposição, o ouro, pelo seu estatuto de ativo de refúgio, beneficiou do contexto de queda das taxas de juro, tendo valorizado cerca de 4%.

No mercado cambial, o euro manteve a tendência de depreciação generalizada face às principais moedas. A evolução da moeda europeia foi prejudicada pelos receios em torno da retoma económica global e pelas declarações do presidente dos EUA, D. Trump, sobre eventuais imposições de tarifas sobre as importações de automóveis europeus.

Por fim, no mercado monetário, as taxas Euribor a 3 e a 6 meses registaram uma queda de 1p.b., para -0,39% e para -0,34%, respetivamente, enquanto o indexante a 12 meses variou -4p.b., para -0,28%.

Nota: dados a 31 de janeiro de 2020, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura.

Fonte: Caixa Gestão de Ativos; informação publicamente disponível nos websites das seguintes entidades: Banco Central Europeu, Banco de Inglaterra, Banco do Japão, Bloomberg, Bureau of Economic Analysis, Bureau of Labor Statistics, Comissão Europeia, Eurostat, Federal Reserve Bank of St. Louis, Fundo Monetário Internacional, Cabinet Office, MSCI, National Bureau of Statistics of China, Nikkei, Office for National Statistics, Reserva Federal dos Estados Unidos, Standard & Poor's.

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Acesso Caixadirecta

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