Março 2020

17 abr 2020

Mercados Financeiros

Num mês dominado pela implementação de medidas de contingência para o combate à crise epidemiológica de COVID-19, os mercados de capitais traduziram um comportamento de elevada aversão ao risco.

Num mês dominado pela implementação de medidas de contingência para o combate à crise epidemiológica de COVID-19, os mercados de capitais traduziram um comportamento de elevada aversão ao risco. Os índices acionistas registaram quedas pronunciadas, os spreads das obrigações de dívida privada, face às yields de referência, averbaram alargamentos e as matérias-primas cíclicas, com destaque para o petróleo, evidenciaram desvalorizações.

Enquadramento: Março 2020

No domínio económico, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgou o relatório intercalar de perspetivas económicas, intitulado “Coronavírus: economia mundial em risco”. Neste sentido, elaborou dois cenários. O cenário base tinha como pressuposto que o pico da pandemia seria atingido na China durante o 1ºT e que a propagação a outros países seria moderada e contida. Nesta situação, o PIB real global de 2020 seria reduzido em 0,5 pontos percentuais (p.p.), passando de uma estimativa de 2,9% na publicação de novembro para 2,4% na atual publicação. Já no segundo cenário, a epidemia seria mais duradoura e mais disseminada na Ásia, na Europa e na América do Norte. Neste caso, a redução da estimativa do PIB real global agravar-se-ia, colocando o crescimento em torno de 1,5% em 2020, com várias economias em perigo de recessão, tais como o Japão e a Área Euro (AE).

No que respeita à divulgação de indicadores económicos, nos EUA, os pedidos iniciais de subsídio de desemprego registaram, pela segunda semana consecutiva, um aumento histórico. Na semana terminada a 28 de março, verificou-se um aumento 3,34 milhões de pedidos iniciais, para um total de 6,65 milhões, o que corresponde ao nível mais elevado da história do indicador, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA.

Na AE, o dado preliminar da confiança dos serviços da Markit (PMI), relativo a março, registou uma queda mensal sem precedentes, descendo para o mínimo histórico de 28,4%, ocorrência similar para os dados da Alemanha e de França. Já o indicador semelhante para a vertente da indústria evidenciou uma redução para o mínimo de 92 meses.

Na China, epicentro do surto epidémico, os indicadores de confiança da indústria e dos serviços (PMI), produzidos pelo National Bureau of Statistics, registaram subidas acentuadas, passando para território de expansão em março.

Ao nível dos bancos centrais, a Reserva Federal americana (Fed), foi bastante interventiva. Em primeiro lugar, cortou as taxas diretoras em 150 pontos base (p.b.), para o intervalo [0%-0,25%]. Em adição, lançou um programa de compra de ativos na quantidade que seja considerada necessária. De forma complementar, anunciou vários programas que pretendem fomentar e facilitar a concessão de crédito. Por fim, anunciou a cooperação com outros bancos centrais, tanto do bloco desenvolvido como emergente, para aumentar a disponibilidade global de dólares.

Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) também procedeu a várias medidas de suporte, apesar de não ter decretado o corte das taxas de juro de referência. Neste seguimento, anunciou: (i) um programa temporário de aquisição de ativos no valor de 120 mil milhões (MM) de euros até ao final do ano, (ii) condições significativamente mais favoráveis para as operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (vulgo em inglês TLTRO III) e (iii) a realização temporária de operações de refinanciamento de prazo alargado (LTRO). Posteriormente, com o agudizar do surto na Europa anunciou um programa de compras de emergência para combate à pandemia (cuja sigla em inglês é PEPP) no valor de 750MM de euros até, pelo menos, ao final do ano. Ademais, informou que o limite por emitente e por emissão não seria aplicado, devendo existir um elevado grau de flexibilidade na condução do mesmo.

Já no Reino Unido, o Banco de Inglaterra, entre outras medidas, cortou a taxa base para o seu mínimo histórico de 0,1% e aumentou o programa de compras em 200MM de libras.

Mercados Financeiros: Março 2020

Os mercados acionistas foram condicionados pelos receios de abrandamento da economia global em resultado do surto epidemiológico, pese embora a atuação dos bancos centrais e a implementação de programas de estímulos fiscais em várias economias. Desta forma, o índice global (MSCI em euros) apresentou uma rendibilidade de -13%, com desvalorizações na generalidade das geografias, com destaque para a AE (MSCI), com -17%. Comparativamente, o mercado nipónico (Nikkei) obteve um registo menos penalizador, favorecido pela possibilidade de os Jogos Olímpicos, a realizar este ano em Tóquio, serem somente adiados e não cancelados.

No que concerne aos índices de dívida pública, assistiu-se a uma divergência na performance, com a rendibilidade positiva dos EUA a contrastar com a negativa da AE. O comportamento desta última região foi influenciado não só pela subida das taxas de juro da Alemanha mas, também, pelo alargamento dos prémios de risco dos vários Estados-membros, sobretudo nos países do sul da Europa. Já nas obrigações de crédito, sobretudo pelo forte alargamento dos spreads, a rendibilidade foi transversalmente negativa. Neste âmbito, realçaram-se as métricas de menor qualidade creditícia (HY), tanto de emissões em euros como em dólares, que atendendo ao seu carácter mais cíclico apresentaram as maiores perdas.

No que respeita à classe de matérias-primas, o índice de referência (Bloomberg) apresentou uma rendibilidade negativa de cerca de 13%, com contributos negativos de todos os segmentos. O compósito de energia foi o maior contribuidor para a performance da classe no período, em especial pela queda abrupta, superior a 50%, dos preços do petróleo. Estes têm sido penalizados pelas revisões em baixa da procura para 2020 e pela ausência de consenso entre os membros da OPEP e os seus aliados quanto a futuras reduções na oferta. Também a evolução dos metais industriais refletiu os efeitos da contração da procura global, ao que se somou o impacto dos inventários em níveis elevados. Em comparação, o setor de agricultura apresentou uma queda mais modesta, de 3,3%, dado ter sido beneficiado pela subida do preço do café (+7,4%) e do trigo (+8,4%). Em comparação, o ouro, atendendo ao seu estatuto de refúgio, registou uma valorização de 1,8%.

No mercado cambial, o mês de março foi marcado pelo aumento bastante expressivo da volatilidade, espelhando a elevada incerteza que envolve a evolução e os impactos do COVID-19 na economia mundial. Neste contexto, face ao euro, as moedas de refúgio denotaram valorizações - com o franco suíço a registar uma subida de +0,4% e o iene de +0,3% - enquanto o dólar manteve-se estável.
Por fim, no mercado monetário em euros, a taxa Euribor a 3 meses variou +6p.b. para -0,36%, a de 6 meses +10p.b. para -0,29% e a de 12 meses +14p.b para -0,17%.

Nota: dados a 31 de março de 2020, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
Fonte da Imagem: Gettyimages
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