Março 2022

14 abr 2022

Inflação, subida de taxas e conflito na Ucrânia em destaque

Em março, o conflito militar na Ucrânia e o processo de normalização das políticas monetárias continuaram a demonstrar-se como as temáticas mais relevantes para a evolução dos mercados.

Em março, o conflito militar na Ucrânia e o processo de normalização das políticas monetárias continuaram a demonstrar-se como as temáticas mais relevantes para a evolução dos mercados. No que respeita à situação na Europa de Leste, destacou-se a predisposição evidenciada pelas partes envolvidas no conflito para um possível entendimento. Ao nível dos bancos centrais, salientou-se o anúncio, por parte da Fed, do aumento das Fed Funds, marcando desta forma o início do processo de subidas. Neste contexto, na classe de ações evidenciaram-se as valorizações dos mercados dos EUA e do Japão. Já os ativos de rendimento fixo apresentaram performances negativas.

Enquadramento: março 2022

No domínio económico, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) publicou o seu relatório intercalar de perspetivas, em que analisou os impactos económico-sociais da invasão da Ucrânia pela Rússia, embora não tenha atualizado as projeções de crescimento para os países. Neste âmbito, a organização considerou que os movimentos registados desde o início da guerra nos preços das matérias-primas e nos mercados financeiros poderiam, se sustentados, reduzir no primeiro ano o crescimento do PIB global em mais de 1 ponto percentual (p.p.) e aumentar a inflação global em, aproximadamente, 2,5p.p..

Na Área Euro (AE), alguns dados económicos, nomeadamente os de sentimento, já começaram a refletir o impacto do conflito militar na Ucrânia. Com efeito, o indicador de sentimento económico de março, compilado pela Comissão Europeia, caiu para o valor mais baixo dos últimos 12 meses, refletindo principalmente a deterioração expressiva da confiança dos consumidores. No mesmo sentido, o indicador de clima de negócios da Alemanha, produzido pelo instituto Ifo e considerado uma métrica fiável para antecipar a trajetória da economia alemã, registou uma queda considerável.

Nos EUA, a atividade económica demonstrou resiliência. A robustez do mercado laboral continuou a sobressair-se, ao ter evidenciado uma criação líquida de postos de trabalho bastante expressiva, de 678 mil em fevereiro, e uma descida da taxa de desemprego para 3,8%, segundo o Bureau of Labor Statistics. No entanto, a confiança dos consumidores continua a ser condicionada pela persistência de valores elevados de inflação, ao que se somou o impacto do conflito bélico Ucrânia-Rússia.

Ao nível dos bancos centrais, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu que iria reduzir de forma mais célere as compras de ativos, anunciando que iria adquirir 40 mil milhões (MM) de euros em abril, 30MM em maio e 20MM em junho, sendo que a partir do 3ºT as compras dependerão da evolução dos dados e da avaliação acerca do panorama de inflação. Neste sentido, poderão ser concluídas nesse trimestre, caso não se verifique um enfraquecimento das perspetivas de inflação de médio prazo. Adicionalmente, houve uma alteração na caracterização do elo temporal entre o fim do programa de compra de ativos e o início do aumento das taxas de referência, ao ter passado de “pouco antes” para “algum tempo depois”. Importa notar que a inflação prolongou a trajetória ascendente, ao ter acelerado de 5,1% em janeiro para 5,9% em fevereiro, em termos homólogos.

Nos EUA, a Reserva Federal americana (Fed) na reunião de 16 de março, decretou o aumento das Fed Funds (FF) de 25 pontos base (p.b.), a primeira subida desde dezembro de 2018, e perspetivou incrementos regulares. Ademais, o comité espera iniciar a redução do balanço numa próxima reunião. A Fed ambiciona que com uma redução da acomodação da política monetária, a inflação regresse para o objetivo de 2%, mas preservando um mercado de trabalho forte. O índice de preços PCE - a métrica de referência da Fed - acelerou de 6,0% v.h. em janeiro para 6,4% v.h. em fevereiro, o máximo desde 1982.

Mercados Financeiros: março 2022

Na classe acionista foram observadas tendências divergentes entre as regiões, num período em que as temáticas mais relevantes para a sua dinâmica, à semelhança do mês anterior, foram a normalização das políticas monetárias e a evolução do conflito na Ucrânia. No agregado de desenvolvidos, as valorizações mais acentuadas registaram-se nos mercados do Japão e dos EUA, pese embora alguma volatilidade verificada ao longo do mês. Em oposição, estiveram a queda no da Área Euro, com a economia da região a ser uma das mais afetadas pela guerra na Ucrânia. O compósito de emergentes desvalorizou, impactado pelas perdas associadas aos títulos da Rússia, que estiveram suspensos parte do mês e foram retirados dos índices de referência globais, e a forte queda do mercado chinês.

Os principais mercados de dívida pública desvalorizaram, condicionados pelo contexto de fortes subidas das yields, sobretudo nos prazos mais curtos. Para esta trajetória contribuiu a divulgação de métricas da inflação em patamares historicamente elevados, tanto nos EUA como na AE, e o enquadramento de normalização de políticas monetárias. A maioria dos segmentos de dívida privada apresentou rendibilidades negativas, em especial os de grau de investimento, ao serem os mais penalizados pela subida das taxas de juro sem risco, em resultado da sua maturidade média superior.

A classe de matérias-primas valorizou com os contributos positivos de todos os segmentos, em particular os de energia e de metais industriais, suportados pelas disrupções decorrentes do conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia. De entre os metais industriais destacou-se a subida das cotações do níquel, superior a 30%, e do zinco, de cerca de 15%, com os preços deste último a atingir valores próximos dos máximos históricos atingidos em 2006. No agregado de energia, salientou-se a valorização de cerca de 30% do gás natural, decorrente, numa primeira fase, de receios de menor abastecimento por parte da Rússia, e, posteriormente, perante a possibilidade da imposição de mais sanções internacionais sobre o setor energético deste país.

No mercado cambial, o dólar evidenciou um perfil misto tanto face às moedas mais transacionadas a nível mundial, as do G10, como face às de emergentes. Já o euro apresentou um comportamento de depreciação tanto face às moedas do G10 como às de emergentes. Concretamente, o par cambial euro/dólar encerrou o mês com uma desvalorização superior a 1%.

Por fim, no mercado monetário da Área Euro, a taxa Euribor subiu nos principais prazos de referência, a de 3 meses +8p.b. para -0,46%, a de 6 meses +13p.b. para -0,37% e a de 12 meses +28p.b., para -0,07%.

Nota: dados a 31 de março de 2022, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.

As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura.
Fonte: Caixa Gestão de Ativos; informação publicamente disponível nos websites das seguintes entidades: Fed, BCE, Eurostat, BEA, BLS, Ifo, Comissão Europeia, OCDE.

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Acesso Caixadirecta

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