Outubro 2024

14 nov 2024

Dólar a beneficiar da resiliência económica dos EUA

Em outubro, o reforço da perspetiva de um abrandamento moderado gerou a subida das yields, sobretudo nos EUA, favorecendo o dólar. Já as ações foram condicionadas pela convicção de menos cortes das Fed Funds e incertezas quanto às eleições nos EUA.

Em outubro, os dados económicos reforçaram a perspetiva de uma moderação suave do crescimento económico. Para tal influiu a aceleração do consumo, a resiliência do mercado de trabalho e da confiança dos empresários. As yields registaram subidas, sobretudo nos EUA, favorecendo o dólar, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) evidenciou uma postura de maior flexibilidade, reduzindo as taxas de juro pela terceira vez em 2024. O mercado de ações permaneceu condicionado pela convicção de menos cortes das taxas da Reserva Federal Americana (Fed) e incertezas quanto às eleições nos EUA. Neste contexto, reduzimos a sobre-exposição a obrigações do tesouro dos EUA, por contraposição ao incremento aos títulos congéneres da Área Euro e a dólares.

Enquadramento: outubro 2024

Ao nível económico, a publicação da edição do World Economic Outlook (WEO) de outubro de 2024 por parte do FMI realçou a resiliência da económica global, apesar do aperto acentuado e sincronizado da política monetária. O fundo monetário conservou a estimativa de crescimento para este ano em 3,2%, e reduziu a do próximo, de 3,3% para 3,2%, destacando que os riscos no curto e no médio prazo permanecem enviesados no sentido negativo. Nos EUA, o PIB cresceu 0,7% no 3º trimestre, em cadeia, resultado quase idêntico ao dos três meses anteriores. Em outubro, os indicadores continuaram a validar um cenário de “abrandamento suave” da economia. O dado da atividade das empresas permaneceu em terreno de expansão, enquanto a geração de postos de trabalho diminuiu mais que o esperado, consequência dos efeitos temporários dos furações Helene e Milton e da greve na Boeing. Apesar disso, a taxa de desemprego manteve-se em 4,1%. Na Área Euro (AE), a economia cresceu 0,4%, em cadeia, acima do esperado (0,2%), o melhor resultado em oito trimestres. A melhoria deveu-se à aceleração na Alemanha e em França, que beneficiou da realização dos Jogos Olímpicos em agosto, enquanto a economia espanhola continuou forte, suportado pelo contributo do setor do turismo. Na China, o crescimento voltou a abrandar no 3º trimestre, para 4,6%, em termos homólogos, depois de 5,3% e 4,7% nos dois anteriores.

Quanto à inflação, o FMI prevê que a inflação global irá continuar a decrescer, antecipando no próximo ano um regresso do crescimento dos preços à meta da maioria dos bancos centrais. A nível global, a métrica agregada voltou a diminuir ainda em setembro, acentuando inclusivamente a tendência de redução a que se assiste desde outubro de 2022, com a variação homóloga na AE (2,1%) mais próxima do objetivo do BCE que no caso norte-americano (2,7%).

Relativamente às decisões de política monetária, em outubro, num universo de 54 bancos centrais de países desenvolvidos e emergentes, uma maioria de instituições voltou a reduzir as respetivas taxas de juro diretoras. O BCE decretou pela terceira vez este ano um corte da taxa de depósito em 25 p.b., sustentando a resolução com o facto do “processo desinflacionista se encontrar bem encaminhado”. Para além disso, a presidente, Christine Lagarde, voltou a denotar na declaração lida uma maior preocupação com o arrefecimento da atividade económica, caraterizando novamente as condições de financiamento como restritivas. Nos EUA, o Beige Book emitido pela Fed tornou a demonstrar, como em setembro, que mais de metade dos distritos qualificaram o crescimento como “baixo ou modesto”, os mesmos adjetivos usados para descrever a evolução dos preços, salientando ainda a moderação do crescimento dos salários. O relatório apresentou uma visão menos favorável da situação económica em comparação com o que se pode observar a partir dos indicadores mensais de atividade e de sentimento.

Na Ásia, o Banco Central da China voltou a decretar uma redução das taxas de juro de referência a 1 e a 5 anos, em 25 p.b., que tocaram assim num novo mínimo de sempre. No Japão, como esperado, o banco central manteve a taxa de juro diretora em 0,25%, o valor mais elevado desde novembro de 2008, apesar de ter reiterado a expetativa que a inflação irá perdurar num nível superior ao objetivo de 2,0% nos próximos meses.

Mercados Financeiros: outubro 2024

Em outubro, a maioria dos mercados acionistas registaram perdas. Apesar da desvalorização no mês, o principal índice acionista dos EUA acumula ganhos superiores a 20% em 2024 e, inclusive, transacionou grande parte de outubro acima do nível de fecho do último dia de setembro. No entanto, na última semana, as ações não conseguiram conservar os ganhos alcançados devido às orientações menos favoráveis de algumas empresas tecnológicas, para o crescimento dos lucros, e à acentuada incerteza sobre as eleições nos EUA, principalmente devido aos temores sobre o impacto de algumas medidas defendidas, em concreto a subida das tarifas comerciais e o aumento dos impostos sobre as grandes empresas. A Área Euro, em adição, foi penalizada pelo baixo crescimento económico e a fraca procura interna. Já o Japão apresentou um desempenho positivo impulsionado pela depreciação do iene. O índice acionista de emergentes, por seu turno, desvalorizou, condicionado pela correção em baixa do mercado da China.

No que se refere à dívida pública, os índices dos EUA e da Alemanha denotaram desvalorizações, perante a subida significativa das yields, sobretudo as norte-americanas, após a divulgação de indicadores a revelarem a aceleração das vendas a retalho, a resiliência do mercado de trabalho e a melhoria da confiança dos empresários. No crédito, de forma similar, os diversos segmentos também registaram perdas, excetuando o HY em euros, apesar do estreitamento dos prémios de risco.

O compósito de matérias-primas desvalorizou, impactado pelas evidências que o crescimento económico da China, um dos principais importadores mundiais, permanece condicionado pela crise imobiliária e, por outro lado, pela possível vitória eleitoral de Donald Trump que poderá ditar o reforço de tarifas. Nesta envolvência, a energia denotou desempenho mais negativo devido, não ao preço do petróleo, que até subiu no mês, mas ao gás natural para entrega nos EUA. Os segmentos de agricultura e de metais industriais também depreciaram, no primeiro caso devido à descida do preço da soja e do café, enquanto no segundo, o níquel e o cobre contribuíram para a evolução negativa. Em contraposição, os metais preciosos destacaram-se novamente pela positiva, em específico o ouro, impulsionado pela compra de bancos centrais motivada, em parte, por riscos geopolíticos e diversificação face ao dólar.

No mercado cambial, o euro depreciou face ao dólar uma vez que o BCE acelerou o ritmo dos cortes das taxas diretoras, ao reduzi-las pelo segundo mês consecutivo, em relação à Fed. A moeda europeia, no entanto, valorizou face às restantes divisas mais transacionadas favorecida pelo crescimento melhor do que o esperado no terceiro trimestre do presente ano.

No mercado monetário, as taxas Euribor reforçaram a tendência de descida em todos os prazos e em magnitudes em torno de 20 p.b. Realce para a taxa a 3 meses ao aproximar-se dos 3%, observados pela última vez em março de 2023.

Nota: dados a 31 de outubro de 2024, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: BEA, Eurostat, Fed, BCE, BoJ, PBoC (People Bank of China).

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Acesso Caixadirecta

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Outubro 2024

Dólar a beneficiar da resiliência económica dos EUA

Em outubro, o reforço da perspetiva de um abrandamento moderado gerou a subida das yields, sobretudo nos EUA, favorecendo o dólar. Já as ações foram condicionadas pela convicção de menos cortes das Fed Funds e incertezas quanto às eleições nos EUA.