Setembro 2024

18 out 2024

Corte de taxas pela Fed e BCE impulsiona mercados

Em setembro, a Fed e o BCE decretaram descidas das taxas diretoras, em magnitude diferentes. Esta envolvência resultou em ganhos nas classes de rendimento fixo e acionista, a qual beneficiou ainda da resiliência dos EUA e dos estímulos na China.

Em setembro, a Reserva Federal decretou uma redução das Fed Funds de 0,50 p.p., a primeira descida desde a pandemia Covid-19, com o intervalo objetivo a ser reduzido para de 4,75% a 5,00%. O Banco Central Europeu também diminuiu as taxas de juro diretoras, contudo, numa menor magnitude, em 0,25 p.p., colocando a taxa de depósito em 3,50%. Esta envolvência resultou na descida das yields de dívida pública, contribuindo para os ganhos observados na classe de rendimento fixo. Em paralelo, os mercados acionistas registaram valorizações, beneficiados pela maior confiança dos investidores na resiliência da economia dos EUA e pelo novo plano de estímulos anunciado pelas autoridades da China.

Enquadramento: setembro 2024

Ao nível económico, em setembro, nos EUA, os indicadores divulgados não só surpreenderam pela positiva, como forneceram evidências adicionais que a expansão permanece intacta. Destaque para os números do consumo e para as revisões anuais que mostraram que o nível da poupança é afinal superior ao que se julgava, sugerindo um cenário mais construtivo das condições financeiras dos agregados familiares. Na Área Euro (AE), o Eurostat reviu em baixa o crescimento do 2º trimestre, de 0,3% para 0,2%, em cadeia, uma expansão que assentou nos contributos positivos das exportações líquidas e do consumo público. Salientou-se, pela negativa, o recuo do consumo privado (-0,1%) pela primeira vez desde o final de 2022, enquanto o ritmo de contração do investimento fixo se acentuou. Os indicadores mensais de setembro reiteraram a indicação de desaceleração da expansão no 3º trimestre e até mesmo uma possível contração no final deste ano. Na China, os dados mensais de atividade sinalizaram uma intensificação da desaceleração. Perante o receio de incumprimento do objetivo de crescimento de 5% em 2024, foi anunciado um vasto conjunto de medidas de estímulos, não só monetários, como ao investimento e ao mercado imobiliário, para além de transferências diretas para as famílias mais carenciadas e a criação de uma linha de liquidez e de um mecanismo de estabilização do mercado acionista.

Ao nível da inflação, os relatórios divulgados confirmaram a continuação do contexto desinflacionista na generalidade das regiões. A métrica agregada a nível global voltou a diminuir em agosto, acentuando-se inclusive a tendência de redução a que se assiste desde outubro de 2022. Destaque, na AE, para a estimativa rápida do crescimento mensal do índice harmonizado de preços no consumidor de setembro que mostrou que a variação homóloga do índice desacelerou de 2,2% para 1,8%, conforme esperado, o primeiro registo desde o verão de 2021 inferior ao objetivo de 2% do BCE.

Relativamente às decisões de política monetária, num universo de 54 bancos centrais de países desenvolvidos e emergentes, em setembro 17 instituições decretaram reduções das respetivas taxas de juro diretoras, o maior número desde março de 2020, sem que se tenha assistido a qualquer aumento. O Conselho de Governadores (CG) do BCE decretou a redução da taxa de depósito em 25 p.b. e reiterou que continuará a seguir uma abordagem dependente da evolução dos indicadores. A presidente, Christine Lagarde, salientou as alterações limitadas das projeções de inflação que apontam ainda para o regresso ao nível pretendido até 2026. Para além disso, caraterizou as condições de financiamento como restritivas e o crescimento como baixo devido ao consumo e ao investimento privado.

O CG da Fed reduziu, pela primeira vez desde março de 2020, o intervalo-objetivo da taxa de juro diretora. A descida foi de 50 p.b, para um nível efetivo de 4,875%. Reconheceu um aumento na confiança que a inflação irá convergir de maneira consistente em direção à meta e descreveu a redução como uma "recalibração" da política, visando garantir que não se concretizem riscos adversos. Os peritos reduziram as projeções para os níveis de inflação no período 2024-26, e os membros do CG adicionaram um maior número de cortes da taxa diretora previstos entre o momento presente e o final de 2026.

Mercados Financeiros: setembro 2024

Em setembro, os mercados acionistas evidenciaram ganhos, à exceção do Japão. Realce para o índice de referência dos EUA que alcançou um novo máximo histórico, correspondendo ao quinto mês consecutivo de valorizações e ao melhor período dos primeiros nove meses de um ano desde o final da década de 1990. Os índices acionistas reforçaram o movimento de subida após o relatório do mercado de trabalho de agosto demonstrar a resiliência do emprego nos EUA e a publicação de dados sólidos do consumo. De facto, o contexto de inflação em queda e, em paralelo, de crescimento ainda resiliente, constitui um panorama favorável para os mercados de ações. Já no Japão, as ações depreciaram pressionadas pelo receio de novas subidas das taxas. Por último, os emergentes valorizaram impulsionados pelos ganhos expressivos da China após o novo plano de estímulos económicos introduzido pelas autoridades.

Na dívida pública, assistiu-se a desempenhos positivos refletindo, sobretudo, uma maior convicção que a Fed e o BCE prossigam na adoção de políticas monetárias mais flexíveis, consubstanciadas em cortes das taxas diretoras. Neste contexto, o principal destaque de setembro foi, sem dúvida, o primeiro corte das taxas diretoras pela Fed desde março de 2020. Na dívida privada, os diversos segmentos também valorizaram, favorecidos pela descida das yields e pela compressão dos prémios de risco creditício das empresas.

O agregado de matérias-primas apreciou suportado pela generalidade dos seus segmentos, com o menor contributo a advir da energia. Para esta dinâmica influiu o sentimento positivo dos investidores, após a flexibilização da política monetária nos EUA e introdução do novo conjunto de medidas de estímulo económico por parte da China, mais confiantes acerca do crescimento da economia global. Destaque para o desempenho positivo dos metais, industriais e preciosos, beneficiando da projeção de uma procura robusta, em especial para cobre, zinco e ouro. Já no segmento agrícola, açúcar e café destacaram-se com a subida dos preços a espelhar os receios com as colheitas. Em oposição, a energia foi condicionada pela descida da cotação do petróleo, pressionado pela redução das encomendas, tendo o preço descido abaixo dos 70 dólares por barril pela primeira vez desde 2021.

Ao longo do último mês, no mercado cambial, o euro evidenciou um desempenho positivo em relação ao dólar em virtude da postura mais cautelosa do BCE face à da Fed, no que se refere à flexibilização da política monetária. Em paralelo, a moeda europeia depreciou em relação ao iene e à libra, em função de perspetivas menos benignas para a inflação nessas geografias.

No mercado monetário, as taxas Euribor mantiveram a tendência de descida nos diferentes prazos, em magnitudes superiores a 20 p.b. em qualquer dos casos. Nota para a taxa a 12 meses que desceu abaixo dos 3% pela primeira vez em cerca de 2 anos.

Nota: dados a 30 de setembro de 2024, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: BEA, Eurostat, Fed, BCE, BoJ, PBoC (People Bank of China).

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Acesso Caixadirecta

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