Setembro 2025

14 out 2025

Preocupações com emprego guiam decisão da Fed

Em setembro, a Fed cortou os juros em 0,25 p.p. face à moderação do emprego, ao contrário do BCE que manteve as taxas. A flexibilidade da Fed e a resiliência económica sustentaram os índices acionistas, com o euro em máximo plurianual face ao dólar.

Em setembro, o arrefecimento no mercado de trabalho dos EUA e a expectativa de impacto contido das tarifas nos preços recentraram a Reserva Federal no pilar do pleno emprego, conduzindo, dada a restritividade da política monetária, a um corte da taxa dos Fed Funds em 0,25 p.p., condicionando novos cortes à evolução dos indicadores. Já o Banco Central Europeu, manteve inalteradas as taxas diretoras e deixou indícios que o ciclo de cortes já terminou. A expectativa de flexibilidade da Fed e a resiliência da atividade e dos resultados empresariais, sustentou a maioria dos mercados financeiros, com destaque para as ações, num período em que o euro face ao dólar atingiu um novo máximo de vários anos.

Enquadramento: setembro 2025

Ao nível económico, em setembro o crescimento do PIB norte-americano no 2º trimestre de 2025 foi revisto em alta, para 3,8% em termos anualizados, devido ao maior contributo do consumo privado e do investimento empresarial. A evolução do rendimento e da despesa das famílias ainda em agosto superou também as expetativas, corroborando a relativa robustez do consumo privado. O mercado de trabalho revela, no entanto, um significativo arrefecimento, com a criação de emprego a desacelerar recentemente de forma expressiva. De igual modo, os dados relativos ao setor imobiliário continuam a exibir uma debilidade. Na Área Euro (AE), a evolução dos indicadores de mensuração de atividade das empresas sinaliza uma ligeira melhoria do crescimento no 3º trimestre, devido aos serviços que ganharam dinamismo, ao contrário da indústria. Já na China, os dados de atividade sugerem uma moderação do crescimento no 3º trimestre. Apesar da acentuada quebra das exportações para os EUA, devido às tarifas da Administração Trump, o país tem conseguido aumentar de forma significativa as exportações para outras regiões, com destaque para a Ásia.

Quanto à inflação, foi conhecido um incremento de pressões ascendentes na economia norte-americana. Em termos homólogos, ainda em agosto cifrou-se em 2,9% (a subjacente em 3,1%), com o maior contributo a continuar a advir dos serviços. Embora o impacto do aumento das tarifas sobre as importações tenha até ao momento sido relativamente contido, tem-se tornado mais expressivo e poderá ser mais notório nos próximos meses. Para além disso, destaque para a deterioração das expectativas de inflação a médio prazo dos consumidores. Na AE, a inflação homóloga prevaleceu em 2,0% em agosto, em linha com a meta de médio prazo do BCE, tendo-se registado recuos na energia e alimentação não-processada. Na China, mantêm-se pressões desinflacionistas e a inflação homóloga voltou a níveis negativos.

Como antecipado, o Conselho de Governadores (CG) do Banco Central Europeu (BCE) manteve as taxas de juro diretoras sem alteração (facilidade de depósito em 2,0%), decisão unânime do CG, que conservou a abordagem dependente da evolução dos indicadores. Christine Lagarde reiterou que o BCE se encontra numa "boa posição“, o que sugere que os juros permanecerão nos níveis atuais nos próximos meses. Esta expectativa foi reforçada pelo facto de os riscos para o crescimento terem sido classificados como equilibrados, e já não predominantemente negativos. Em relação aos preços, afirmou que o processo de desinflação chegou ao fim. As novas projeções económicas mostraram uma revisão da previsão de crescimento para este ano para um valor mais positivo, e em baixa para 2026. Quanto à inflação, os valores para 2025 e 2026 foram revistos em alta.

Nos EUA, o CG da Reserva Federal reduziu em 25 p.b. os limites do intervalo-objetivo para a taxa de juro diretora, o que sucedeu pela primeira vez este ano, tendo este passado para de 4,00% a 4,25%, reconhecendo, ainda, que o enviesamento para o emprego se tornou mais desfavorável. Realce para o facto de as projeções para os valores da inflação terem sido revistos em alta, e os da taxa de desempego em baixa. Em relação às perspetivas dos membros do CG para os níveis das taxas de juro diretoras, as novas indicações apontam para mais dois cortes de 25 p.b este ano e um de igual dimensão quer em 2026, quer em 2027.

Mercados Financeiros: setembro 2025

Os principais índices de referência dos mercados de ações reforçaram no mês de setembro o desempenho positivo registado em 2025, com destaque para os da Área Euro, EUA e Japão. Os ganhos mais significativos advieram do agregado de emergentes, impactado pela valorização substancial das ações da China, onde se destacou o apoio político das autoridades à produção de semicondutores, em simultâneo com o aumento do investimento em inteligência artificial (IA) por parte das maiores empresas do setor. A flexibilização da política monetária pela Reserva Federal, conjuntamente com a expectativa de cortes adicionais das fed funds em 2025, revelou-se determinante para o desempenho positivo dos mercados de ações, atenuando os riscos relacionados com o emprego e a inflação. Os lucros das empresas permaneceram sólidos e superaram novamente, em média, as estimativas dos analistas. De facto, os resultados corporativos, mas também a resiliência das perspetivas futuras para a evolução dos lucros, mitigaram os receios acerca dos impactos adversos das tarifas sobre as margens e as vendas.

Nos mercados de obrigações de dívida pública, o compósito de dívida dos EUA valorizou pelo terceiro mês, com as perspetivas de corte das taxas diretoras por parte da Fed. As yields das obrigações americanas com maturidade a 10 anos desceram 8p.b., e a dois anos 2p.b.. Na AE, as obrigações de maturidades mais longas denotaram também descidas de yields, mas nas de curto prazo houve ligeiras subidas. A dívida privada alcançou ganhos, mais expressivos nos segmentos em dólares.

O compósito agregado de matérias-primas revelou uma valorização, impulsionada pelos contributos dos metais preciosos e industriais. O ouro apreciou cerca de 10%, alcançando novo máximo, beneficiando da persistência de elevada de incerteza geopolítica, da expetativa de diversificação de reservas por parte dos bancos centrais a nível global e, da perspetiva de redução das taxas diretoras pela Reserva Federal ao longo dos próximos meses. Refira-se, também, a valorização significativa da prata, alcançando a cotação mais elevada da última década e meia. Nos metais industriais, destacou-se o cobre, com receios de diminuição da oferta nos mercados internacionais. Já o preço do petróleo recuou, em função de manutenção de ampla oferta face à procura. No segmento agrícola, realce para a queda acentuada da cotação do cacau.

Ao nível do mercado cambial, o dólar prolongou até à reunião da Reserva Federal, do dia 17, o movimento de depreciação que vem exibindo desde o início do ano, recuperando ligeiramente após o anúncio de descida dos juros. O euro apreciou 0,4% face à moeda norte-americana, favorecido pela convicção de que o BCE terá concluído o ciclo de descida das taxas. O iene registou perdas, num contexto de incerteza quanto à condução da política monetária pelo Banco do Japão.

No mercado monetário, as taxas Euribor evidenciaram, em setembro, uma evolução diferenciada. Enquanto a 3 meses se observou um ligeiro decréscimo, as taxas a 6 e a 12 meses subiram, também de forma ligeira, refletindo a expetativa de que o ciclo de descida das taxas diretoras pelo BCE terá terminado.

Nota: dados a 30 de setembro de 2025, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.

As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura. Fonte: Eurostat, BEA, BLS, China NBS, Banco Central Europeu e Reserva Federal dos EUA.

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Acesso Caixadirecta

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Preocupações com emprego guiam decisão da Fed

Em setembro, a Fed cortou os juros em 0,25 p.p. face à moderação do emprego, ao contrário do BCE que manteve as taxas. A flexibilidade da Fed e a resiliência económica sustentaram os índices acionistas, com o euro em máximo plurianual face ao dólar.