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Um dos 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas estabelece como prioridade acabar com a fome até 2030 e promover a agricultura sustentável, que é encarada, também, como crucial para o processo de descarbonização.
Explicamos-lhe o que é a agricultura sustentável, quais os seus princípios, a sua importância e como cada um de nós pode também contribuir, diariamente, para um futuro mais sustentável com pequenas mudanças nos hábitos alimentares.
De que falamos quando falamos em agricultura sustentável?
A agricultura está dependente de condições e processos naturais (como o clima, o solo e as interações entre seres vivos, por exemplo) não controláveis pelo homem. A agricultura industrializada procura controlar todos estes fatores, num sistema rígido e dependente da energia externa.
São cada vez mais evidentes os impactos negativos desta agricultura industrializada e intensiva no ambiente e na sociedade. Desde a destruição dos solos, passando pelo excesso de recursos naturais até aos elevados níveis de poluição que daqui advêm.
Falamos de agricultura sustentável sempre que esta atividade respeita o meio ambiente, é justa do ponto de vista social e economicamente viável. Pretende responder às necessidades de produção e preservar a qualidade de vida no planeta, respeitando e protegendo os recursos naturais.
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Impacto ambiental e social
A agricultura sustentável não deve ser compreendida unicamente como uma forma de produzir alimentos com o mínimo impacte ambiental. Tem também em conta as componentes sociais e económicas. Para que possa ser praticada e mantida a médio e longo prazo, deve ser uma agricultura adaptada às condições locais.
Enquanto o sucesso da agricultura industrializada se mede apenas através de critérios como a produtividade e a rentabilidade, a agricultura sustentável tem padrões mais complexos e incorpora critérios sociais e de sustentabilidade económica com vista às gerações presentes e futuras.
O QUE A CAIXA PODE FAZER POR SI?
Avançar com um negócio capaz de integrar os bons princípios da sustentabilidade envolve visão de futuro e capacidade de mudança para dar este passo, mas também meios. Convém saber apreciar aqueles que podem responder aos seus objetivos e necessidade de renovação.
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Quais as principais características da agricultura sustentável?
De acordo com a Universidade da Califórnia, dedicada há muito ao estudo deste tema, a agricultura sustentável defende princípios e estratégias como:
- Apoio à agricultura familiar e aos pequenos produtores, possibilitando a sua permanência no campo;
- Diversificação agrícola, tendo em vista o cultivo de alimentos mais nutritivos;
- Redução dos pesticidas e outros químicos, através da técnica da fixação biológica de nitrogénio;
- Aplicação de processos ecológicos e biológicos;
- Envolvimento de produtores, distribuidores, comerciantes e consumidores;
- Criação e utilização de sistemas de captação de água das chuvas para utilização na rega;
- Recusa da desmatação de matas e florestas para ampliação de zonas agrícolas;
- Promoção da utilização da agroenergia ou seja, de fontes de energia sustentável, como por exemplo os biocombustíveis (biodiesel, biogás, etanol e outros derivados de resíduos e de biomassa);
- Adoção do sistema de plantio direto onde os solos não são arados, mas antes cobertos com folhagens secas. Adicionalmente, pratica-se a rotação do cultivo;
- Adoção de práticas agrícolas adequadas às áreas e climas onde as culturas possam atingir maior rendimento com o menor desgaste do solo;
- Opção por áreas produtivas mais próximas do mercado consumidor com vista a reduzir custos com transportes;
- Respeito pelas leis do trabalho e dos trabalhadores, não utilização de mão de obra infantil, pagamento de salários justos e investimento em formação profissional.
Um exemplo nacional:a Bolschare dedica-se a culturas permanentes
Com uma Agricultura integrada de alto valor produtivo do ponto de vista social, económico e sustentável, a Bolschare inclui a fauna e a flora locais (na vasta planície alentejana) para se dedicar ao olival e ao amendoal. O modelo de negócio aposta na qualidade da terra, água e biodiversidade e isso permite executar programas de regeneração dos solos, eficácia de rega e biodiversidade em parceria com entidades científicas, públicas e privadas que envolve para atingir os seus objetivos pela sustentabilidade. De acordo com Diogo Pires o seu diretor de ESG, “os sistemas mais bio diversos tendem a ser mais resilientes e permitem identificar e prever pragas e outras ocorrências”. O gestor defende que “a economia circular deve ser uma meta a atingir, diminuindo o desperdício, criando impacto social e ambiental”. Destaca ainda a importância da tecnologia “para criar metodologias menos danosas para os ecossistemas” e da gestão da água como fundamental.
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Tipos de agricultura sustentável
Existem vários tipos de agricultura sustentável, com abordagens distintas para promover a conservação ambiental, a saúde do solo e a produção de alimentos de forma equitativa. Alguns exemplos incluem:
- Agricultura Biológica ou Orgânica: promove a não utilização de produtos químicos sintéticos e promove a biodiversidade e a rotação de culturas para manter a fertilidade do solo;
- Permacultura: sistema de design concentrado na criação de ecossistemas agrícolas sustentáveis, a mimetizar padrões naturais para maximizar a eficiência;
- Agricultura de Conservação: método que minimiza a perturbação do solo, como a aragem excessiva para preservar a saúde do solo e reduzir a erosão;
- Agricultura de Precisão: utiliza tecnologias avançadas, como GPS e sistemas de informação geográfica, para otimizar o uso de recursos;
- Agrofloresta: combina cultivos agrícolas (com árvores e arbustos) com vista a sistemas agroecológicos que melhoram a sustentabilidade.
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Qual a importância para o equilíbrio ambiental, social e económico?
O desenvolvimento da agricultura sustentável está diretamente associado ao desenvolvimento sustentável. O seu impacto faz-se sentir a diversos níveis, nomeadamente:
- Ajuda a proteger e a regenerar os recursos naturais;
- Previne a degradação dos solos;
- Preserva a biodiversidade e os ecossistemas;
- Respeita a qualidade da água e do ar;
- Diminui os riscos associados à produção e assegura a estabilidade dos rendimentos dos agricultores;
- Assegura um acesso equitativo aos recursos produtivos;
- Garante a participação, a subsistência e a autonomia dos grupos sociais envolvidos nos processos produtivos.
De acordo com dados das Nações Unidas, a agricultura sustentável utiliza até 56% menos energia por unidade de cultivo produzida, emite 64% menos gases de efeito estufa por hectare cultivado e promove níveis mais elevados de biodiversidade do que a agricultura convencional.
Consumir alimentos de forma mais sustentável: 10 dicas
- Diversifique a sua dieta e cozinhe mais refeições em casa;
- Inclua mais frutas, legumes, cereais integrais, frutos secos, sementes e leguminosas na sua dieta. Estes alimentos geralmente têm um menor impacto ambiental em comparação com os produtos de origem animal;
- Opte por leguminosas, ervilhas, feijões e grão-de-bico como fontes de proteína. São nutritivas e têm uma pegada ambiental menor em comparação com a carne;
- Consuma alimentos locais e sazonais. Apoie os agricultores locais e reduza a pegada de carbono associada ao transporte de alimentos;
- Opte por alimentos produzidos de forma sustentável. Procure informação nos rótulos;
- Escolha produtos com o mínimo possível de embalagens para ajudar a reduzir a quantidade de resíduos que acabam em aterros sanitários;
- Evite o desperdício de alimentos: pode reduzir as emissões globais de carbono em 8% a 10%;
- Plante algumas ervas ou vegetais em casa;
- Apoie organizações que promovam sistemas alimentares sustentáveis;
O que podemos esperar no futuro?
Os sistemas agrícolas, pecuários e florestais têm pela frente alguns desafios complexos:
- Tentar aumentar o rendimento das culturas (para fazer face ao aumento da população), sem com isso alargar as áreas de produção;
- Reduzir os consumos de água e de energia;
- Promover a biodiversidade, tentando, simultaneamente, reduzir os custos de produção e os impactos ambientais;
- Gerir os impactos das alterações climáticas;
- Adotar a tecnologia e as ferramentas de apoio à decisão, associadas à agricultura de precisão.
Tendências para o futuro da agricultura sustentável
Atualmente, alguns agricultores já utilizam satélites para arar os campos, obtêm informações sobre o solo através de sensores e gerem as operações com a ajuda de software sofisticado.
As tecnologias agrícolas ajudam a tornar as colheitas mais produtivas, ao fornecerem dados meteorológicos e de campo mais precisos e oportunos, reduzindo a necessidade de fertilizantes e pesticidas, aumentando a eficiência e diminuindo o uso de combustíveis fósseis.
Também o futuro da agricultura sustentável pode ser marcado pelo recurso à tecnologia. Desde a inteligência artificial passando pela biotecnologia ou pela blockchain.
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