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A educação financeira é essencial na preparação dos mais novos para os desafios da vida adulta. Introduzir desde cedo conceitos como poupança, orçamento e consumo consciente contribui para a formação de adultos responsáveis e financeiramente independentes.
Exploramos como adaptar este objetivo às diferentes idades e partilhamos estratégias práticas para ensinar conceitos essenciais. Eis as dicas e sugestões de jogos didáticos que tornam a aprendizagem divertida e eficaz.
O papel da família na educação financeira
Os pais, avós, irmãos mais velhos e outros familiares próximos são figuras centrais na educação financeira dos mais novos, pelo que representam como modelos de comportamento.
Ao abordar o tema de forma natural nas conversas do dia a dia e manter hábitos saudáveis de gestão financeira, ajudamos a estabelecer as bases para decisões informadas e mais conscientes no futuro. O segredo está em sensibilizar pelo exemplo.
A coordenação com a escola é outro pilar importante, pois possibilita reforçar os conhecimentos adquiridos. Esta parceria é fundamental para garantir que as crianças crescem com uma visão equilibrada sobre o dinheiro.
Ensinar pelo exemplo
Falar sobre dinheiro desde cedo e aproveitar o interesse das crianças por novos temas pode ser uma estratégia eficaz. Por exemplo, explicar conceitos de poupança ou de consumoconsciente em situações práticas ajuda a cimentar esses hábitos. Repetição e consistência são fundamentais. O que é repetido e vivido em casa transforma-se mais facilmente num hábito sólido.
É importante que a prática diária seja coerente com o que se ensina. Se incentivar à poupança, mas mantiver comportamentos opostos, a mensagem pode perder força e ser ignorada. O exemplo dado é sempre mais poderoso do que as palavras.
É importante que os pais conheçam os conceitos financeiros adequados a cada etapa da vida das crianças. Para apoiar esta tarefa, existe o Referencial de Educação Financeira, criado pelo Ministério da Educação em conjunto com o Banco de Portugal, a Comissão de Valores Mobiliários e o Instituto de Seguros de Portugal.
Esta ferramenta, não só orienta os professores, como também pode ser útil para as famílias que querem transmitir noções de literacia financeira aos mais novos.
O que é o Referencial de Educação Financeira (REF)?
O REF é um documento orientador para a educação financeira em contexto escolar. Define os temas a abordar em cada nível e ciclo de ensino e apoia alunos e professores com cadernos de educação financeira. Cada caderno ilustra conceitos relevantes com situações concretas. Por exemplo, a gestão do orçamento familiar, o recurso ao crédito, os meios de pagamento, o sistema financeiro, as aplicações de poupança e os direitos e deveres do consumidor.
Estes cadernos podem ser usados pelos pais e estão disponíveis para download gratuito no site da Direção-Geral de Educação.
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O que ensinar nas diferentes idades?
A educação financeira é um processo que deve evoluir de forma gradual, ajustando-se à idade e ao nível de compreensão da criança. À medida que cresce, é possível introduzir novos conceitos financeiros e reforçar os anteriores, adaptando-os a uma maior complexidade.
Para os mais novos, temas simples como distinguir necessidades de desejos, associar o dinheiro ao que podemos gastar, ou entender o conceito de poupança, são fundamentais. Estas noções básicas devem ser introduzidas logo desde a idade pré-escolar, criando uma base sólida para aprendizagens futuras.
Por outro lado, conceitos mais avançados, como o funcionamento do crédito ou a prevenção de fraudes quer em ambiente online, quer com meios de pagamento requerem maior maturidade e só devem ser abordados a partir do 3.º ciclo, quando as crianças já têm um maior grau de autonomia e capacidade de reflexão.
Crianças dos 3 aos 5 anos (Pré-escolar)
Nestas idades já é possível introduzir conceitos de dinheiro e de valor, assim como abordar a diferença entre necessitar e querer. Ou seja, entre necessidade e desejos. Eis algumas dicas para explorar cada um dos conceitos.
Crianças dos 6 aos 9 anos (1.º ciclo)
Se tem filhos nesta faixa etária, saber de onde vem o dinheiro, como gastar de forma consciente e a importância de poupar são metas importantes a ensinar.
Nesta fase, jogos e outras atividades lúdicas com os pais são algo a que as crianças se mostram muito recetivas. Aproveite estes momentos para passar conceitos importantes:
A lição da sopa: ensinar finanças com uma atividade prática
Preparar uma sopa pode transformar-se numa divertida lição de educação financeira. Siga estes passos:
Este exercício permite que a criança compreenda o valor das notas e moedas, aplique conceitos matemáticos e tenha noção do custo dos produtos. Cozinhar a sopa será ainda uma oportunidade de reforçar o vínculo familiar.
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Crianças dos 10 aos 12 anos (2.º ciclo)
Nestas idades, a pressão social dos amigos passa a ter mais peso. O telemóvel dos colegas, o jogo de consola, o smartwatch e um sem número de gadgets, cujo apelo é intensificado pela publicidade, convidam ao consumo.
Tome Nota:
Incluir as crianças nas conversas sobre orçamento familiar ajuda-as a aprender a gerir o dinheiro de forma responsável.
A distinção entre supérfluo e necessário deve ser reforçada pelos pais, assim como a importância de poupar para mais tarde poder comprar o tal objeto de desejo.
Nesta fase, a criança deve também ser capaz de elaborar um orçamento e geri-lo de acordo com os seus objetivos. Os pais podem dar uma ajuda:
A literacia financeira na União Europeia
A literacia financeira na União Europeia (UE) tem vindo a ser uma preocupação crescente, com quase metade da população da UE a não compreender conceitos financeiros básicos, como a inflação de acordo com o Eurobarómetro de 2023. Os melhores desempenhos registaram-se na Holanda, Dinamarca, Finlândia e Estónia, onde cerca de 40% da população demonstra um elevado nível de conhecimento financeiro. Portugal apresenta uma das piores pontuações, situando-se apenas à frente da Roménia. Diante destes resultados, o Conselho da UE reconheceu, na sua reunião de maio de 2024, a urgência de melhorar a literacia financeira. Uma das medidas sugeridas é a integração da educação financeira nos currículos escolares desde cedo, de modo a promover uma melhor preparação das gerações futuras.
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Crianças dos 13 aos 15 (3.º ciclo)
Nesta faixa etária, é importante reforçar a distinção entre necessidades e desejos. Agora mais crescidos, são capazes de compreender mais conceitos e, simultaneamente, estão mais tentados a gastar. Algumas dicas:
Tome Nota:
Abrir uma conta à ordem e uma conta poupança ensina ao seu filho a importância de poupar e o funcionamento do sistema bancário.
Erros comuns a evitar na educação financeira
Há erros comuns e que podem ser evitados, sob pena de impedir os melhores resultados com este exercício de sensibilização.
Penalizar os erros
Um dos erros frequentes é o dos pais tentarem proteger demasiado as crianças de decisões financeiras erradas. Permitir que as crianças cometam pequenos erros é essencial para que aprendam a gerir melhor no futuro. Por exemplo, se gastarem toda a mesada de uma vez, devem compreender e sentir as consequências.
Exigir resultados imediatos
H4. Exigir resultados imediatos
A educação financeira é um processo gradual. As crianças não vão entender conceitos como poupança ou gestão de prioridades de um dia para o outro. Evitar cobranças excessivas e celebrar pequenas conquistas é fundamental para manter o interesse e criar hábitos sustentáveis.
Dar dinheiro sem propósito ou sem ensinamentos
Dar uma mesada ou dinheiro ocasional sem explicar como usá-lo não contribui para o desenvolvimento financeiro das crianças. É importante acompanhar e orientar, explicando conceitos básicos.
Deixar de adaptar o ensino à idade
Por vezes, os pais tentam explicar conceitos demasiado complexos para a idade da criança, como investimentos ou impostos, o que pode gerar frustração ou desinteresse. O segredo está em adequar as lições a cada etapa de desenvolvimento. Poupança e troco para os mais pequenos, orçamento ou trabalho remunerado para adolescentes.
Jogos didáticos sobre dinheiro para jogar com os seus filhos
Existe no mercado um conjunto de jogos que pode jogar com os seus filhos. Além de didáticos quanto ao tema do dinheiro, vão de certeza proporcionar tempo de qualidade em família. Deixamos-lhe algumas sugestões.
Monopólio (a partir dos 6 anos)
É um dos jogos mais antigos do mercado, atualmente com várias versões adaptadas a diferentes idades. Este jogo permite entender a importância da gestão do dinheiro e o impacto de cada escolha de investimento.
Aborda conceitos como impostos, rendas, salários e empréstimos. Ensina também a poupar, a negociar com outros jogadores e a gerir situações negativas para o orçamento, como situações de emergência.
As minhas compras (a partir dos 7 anos)
Com este jogo, as crianças simulam a compra de produtos nas diferentes secções de um supermercado. Ganha o jogo quem ficar com mais dinheiro após completar o cesto de compras. O objetivo passa por fazer um conjunto de escolhas que lhes permitam obter o que precisam e simultaneamente poupar.
Paga e Cala (a partir dos 10 anos)
Neste jogo, as crianças gerem os rendimentos e os gastos de uma família. Durante o percurso no tabuleiro, surgem despesas fixas para pagar, compras para fazer e despesas inesperadas a que devem fazer face. Tudo isto com o rendimento que obtiveram no início da partida (o ordenado).
Além de ensinar a importância de gerir o orçamento disponível, este jogo introduz o conceito de fundo de emergência.
Recursos úteis para pais e educadores
Além dos jogos, há outras ferramentas que podem ser muito úteis:
- Livros infantis sobre educação financeira, como Grão a Grão de Montse Junyent ou O Dinheiro Não Cresce nas Árvores de Heath McKenzie;
- Plataformas online, como a Biblioteca Júnior do Plano Nacional de Formação Financeira, a campanha #ficaadica do Banco de Portugal, ou Os Contos do Sebastião, da Caixa Geral de Depósitos;
- Iniciativas e programas educativos, como a Semana da Formação Financeira, para públicos de todas as idades, um evento que tem como objetivo sensibilizar para a importância da educação financeira.
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