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A energia primária está disponível na natureza, mas a forma como a utilizamos tem consequências distintas não só para o ambiente, como também na economia. Mas, afinal, do que falamos quando falamos de energia primária? Onde podemos encontrá-la e como a aproveitamos? E será que é inesgotável?
Se olhar com atenção para a sua fatura de energia, por exemplo, verá que a eletricidade que chega a sua casa é produzida de várias formas, ou seja, recorrendo a várias fontes de energia primária. O que talvez não saiba é que essas fontes têm influência no cálculo do preço da eletricidade, mas também na economia do País. Vamos perceber porquê.
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O que é a energia primária?
Energia primária é toda aquela que pode ser encontrada na natureza, mas que ainda não foi convertida ou transformada. São fontes de energia primária, o vento, o sol ou as marés, mas também o carvão e o petróleo.
A energia primária pode ser usada diretamente ou funcionar como matéria-prima. A partir de fontes de energia primária, é possível produzir outros tipos de energia que podem ser aproveitadas pelo consumidor final, após submetidas a processos de transformação.
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Fontes de energia primária e como são aproveitadas
Nem todas as fontes de energia primária são iguais. Algumas, como o sol, o vento, a geotermia ou a biomassa, são renováveis. Outras, como o petróleo ou o gás natural, são recursos finitos que podem esgotar-se devido à exploração excessiva, designando-se por isso de não renováveis.
Vejamos, então, algumas das principais fontes de energia primária, qual a sua importância e aplicações.
Hídrica
A energia produzida em centrais hídricas aproveita a água retida em albufeiras ou que corre em cursos de água, para fazer mover pás de turbinas que, por sua vez, produzem eletricidade. Mas há muito que a água é usada como fonte de energia. Basta pensar nos moinhos junto aos rios, que aproveitavam a corrente para fazer girar uma mó de pedra e transformar cereais em farinha.
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Eólica
Há alguns anos que as torres com pás gigantes se instalaram na paisagem portuguesa, sobretudo nas regiões montanhosas e junto à costa, que são os locais mais ventosos. O objetivo destes conjuntos de torres (ou centrais eólicas) é aproveitar a força do vento para rodar as pás que, por sua vez, fazem mover um eixo que produz eletricidade. Tal como a água, também o vento é usado como fonte de energia há séculos: as velas dos barcos e os moinhos de vento são disso exemplo.
Solar
Num país com cerca de 3.000 horas de sol por ano, o aproveitamento desta energia através de painéis solares (fotovoltaicos ou térmicos) é uma boa opção não só para produzir eletricidade, mas também para o aquecimento de água a nível doméstico e industrial. Há, ainda, utilizações mais simples, que permitem, por exemplo, cozinhar em fornos solares ou carregar telemóveis usando a radiação solar.
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Biomassa
Trata-se de matéria orgânica de origem vegetal ou animal, que, quando é queimada, constitui uma fonte de energia, usada para produzir eletricidade ou calor. Os resíduos provenientes da limpeza das florestas, por exemplo, podem ser usados para esta produção, o que pode ajudar a reduzir o risco de incêndios florestais.
Oceanos
É mais um recurso importante para Portugal, mas que não está ainda plenamente aproveitado. A energia dos oceanos pode ser convertida em eletricidade e esta pode vir a ser uma realidade a curto ou médio prazo.
A Associação de Energias Renováveis (APREN) revela que na Ilha do Pico (Açores) foi criada a primeira central que produz eletricidade a partir das ondas. Estão ainda em estudo, e em fase de teste, outras tecnologias com o mesmo fim ao largo da costa portuguesa.
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Geotérmica
Certamente já viu (ou até provou) o cozido das Furnas, uma especialidade da Ilha de São Miguel (Açores), em que os alimentos são cozinhados com o calor do centro da terra. Este é um exemplo de energia geotérmica, mais comum em zonas com grande atividade vulcânica, como é o caso deste arquipélago português.
A energia geotérmica é usada em centrais térmicas. O vapor produzido pelo calor da terra faz mover pás de turbina, produzindo eletricidade. Nos Açores encontram-se algumas destas unidades de produção. A energia geotérmica também pode ser usada como fonte de calor para estufas ou bombas de calor, termas, indústria ou aquecimento e arrefecimento de edifícios.
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Petróleo
Para que possa transformar-se em energia, o petróleo tem de ir para as refinarias, dando origem a várias fontes de energia secundária, como a gasolina, o gasóleo ou o gás de petróleo liquefeito.
Portugal não é um país produtor de petróleo, pelo que tem de o importar, sofrendo os efeitos da oscilação de preços no mercado internacional. Estes, por sua vez, refletem-se no preço dos combustíveis. Além disso, a sua utilização tem impactos nocivos para o ambiente.
Gás natural
Tal como o petróleo, o gás natural é um combustível de origem fóssil. Resulta da degradação de matéria orgânica, num processo que ocorre durante milhares de anos. No entanto, é mais barato e mais ecológico quando comparado com outros combustíveis fósseis. É bastante comum para uso doméstico, mas também na geração de eletricidade para indústrias e até como combustível para veículos.
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Carvão
É uma das energias primárias mais abundantes em várias regiões do mundo e ainda é bastante usado para a produção de eletricidade. O processo de extração e a queima do carvão têm um impacte negativo no ambiente, contribuindo para a libertação de gases com efeito de estufa e para o aquecimento global. Portugal deixou de usar esta fonte de energia primária em centrais termoelétricas em finais de 2021.
Qual o peso de cada fonte no consumo de energia primária?
Embora se venha registando uma diminuição do seu peso, o petróleo e derivados continuam a ser a fonte energética mais utilizada em Portugal, correspondendo a 40,9% do consumo de energia primária em 2020. Seguiu-se o gás natural com 25% e biomassa com 14,9%. Em quarto lugar ficou a energia elétrica com 12,1%. Já o carvão registou uma redução significativa em 2020, representando apenas 2,7% do total do consumo de energia primária. Em 2019 tinha sido de 5,6%.
Fonte: Portal do Estado do Ambiente
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Fontes de energia e os seus impactos
Quando falamos de energia e sustentabilidade, o foco está naturalmente nas renováveis. São mais limpas e não se esgotam, o que diminui a pressão sobre o ambiente. Têm, igualmente, um impacto económico positivo. Contribuem para reduzir a quantidade de energia importada e podem ajudar a criar emprego.
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O papel das renováveis na sustentabilidade ambiental
A produção e consumo de energia com origem fóssil é responsável pela emissão de gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono e o metano, entre outros poluentes.
Para diminuir a pressão ambiental, com as consequências climática já identificadas, têm vindo a ser seguidas políticas e medidas com vista à descarbonização e à promoção do recurso a energias renováveis.
Para se perceber a importância destas formas de energia na sustentabilidade do planeta, basta lembrar as metas traçadas na Lei do Clima. Até 2030, 40% da produção de energia na União Europeia terá de ser originária de fontes renováveis e existem objetivos definidos para a aumentar a sua utilização nos transportes, aquecimento e arrefecimento de edifícios e na indústria.
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Ao nível nacional, a tão falada bazuca, por exemplo, tem na transição climática um dos seus pilares fundamentais.
Mar; descarbonização da indústria; bioeconomia sustentável; eficiência energética em edifícios, hidrogénio e renováveis; mobilidade sustentável são caminhos apontados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que podem permitir o cumprimento das metas climáticas por Portugal. O objetivo é a neutralidade carbónica até 2050.
Este é um passo essencial para cumprir com o Acordo de Paris e mitigar a tendência para o aumento médio da temperatura global, por exemplo.
Tome Nota:
Por neutralidade carbónica entende-se o ponto de equilíbrio entre a libertação de gases com efeito de estufa e o volume da sua captura na atmosfera. O objetivo é que este saldo seja nulo em 2050.
Efeitos económicos da utilização de fontes de energia renováveis
Se falarmos especificamente no caso nacional, há ainda que contar com a marca económica da importação de energia. Sendo um país onde os recursos energéticos de origem fóssil são escassos, a dependência e a exposição energética face ao exterior, e a todo o seu contexto geo-politico, aumenta e torna mais voláteis custos de produção e a própria produção.
Se olharmos, por exemplo, para o setor da produção de eletricidade, entre 2016 e 2020, a utilização de energias renováveis permitiu poupar cerca de 4,1 mil milhões de euros em importações de combustíveis fósseis e mais de 1,8 mil milhões de euros com licenças de CO2.
Estes dados constam do estudo Impacto da Eletricidade de Origem Renovável, elaborado pela APREN e pela consultora Deloitte.
Falamos portanto de um processo de transição energética que muitos apontam deve ser encarado de modo cauteloso e gradual.
Tome Nota:
As licenças de CO2 licenças são adquiridas pelas empresas para poderem emitir dióxido de carbono (CO2) e outros gases com efeitos de estufa. São vendidas em leilão e servem para incentivar a descarbonização.
Quais as fontes de energia primária utilizadas para a produção de eletricidade?
Em 2021, a maior parte da eletricidade produzida em Portugal (59%) teve origem em fontes de energia renovável, de acordo com a REN - Redes Energéticas Nacionais. A energia eólica correspondeu a 26%, seguida da hidroelétrica com 23%, biomassa com 7% e a fotovoltaica com 3,5%. Ainda assim, a produção de eletricidade a partir de fontes não renováveis teve um peso significativo (31%), repartindo-se entre gás natural com 29% e carvão com menos de 2%.
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