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A crise económica já se sente na carteira de muitas famílias. Os preços sobem, as despesas aumentam, o consumo tende a retrair e adivinham-se tempos em que a economia pode crescer mais devagar ou até estagnar. Afinal, o que se passa? Podemos voltar aos tempos de austeridade ou esta crise é diferente?
A inflação, a guerra e a crise energética colocaram um travão no crescimento económico pós-pandemia. A subida dos preços, incluindo nos combustíveis, e o aumento das taxas de juro — prejudicial a quem tem crédito habitação — voltaram a deixar os portugueses de calculadora na mão. Como resposta, o Governo foi obrigado a criar alguns apoios para as famílias e a elaborar um Orçamento do Estado focado no reforço de rendimentos.
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Crise económica: os conceitos e respostas essenciais
Comecemos pelo que, à partida, já todos sentimos na carteira, a subida de preços. Hoje, para fazer as compras habituais para casa, é preciso mais dinheiro do que num passado muito recente. O impacto da inflação é justamente esse, a perda de poder de compra.
Imagine que, há um ano, conseguia fazer as suas compras semanais com 100 euros. Agora, esses 100 euros não chegam para comprar os mesmos produtos e o seu saco vem mais vazio. Ainda que o seu salário se mantenha igual, sente que está a ganhar menos, porque as despesas subiram.
Neste gráfico do Banco de Portugal (BdP) é possível verificar o crescimento da inflação, que em setembro de 2022 atingiu os 9,8%. Um valor muito acima dos 2% que o Banco Central Europeu (BCE) definiu como ideal para manter a estabilidade dos preços.
Tome Nota:
A inflação refere-se à subida dos preços. Quando existe uma descida acentuada, falamos em deflação
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Qual a relação da inflação com a crise?
Com os preços mais altos, as famílias consomem menos. Voltemos às suas compras semanais. Se está a gastar mais dinheiro no supermercado, é provável que deixe de comprar alguns produtos não essenciais, como artigos de cosmética, por exemplo, ou que passe a jantar fora menos vezes.
A redução do consumo das famílias tem, assim, impacto nas empresas. O fabricante de produtos de cosmética, que já enfrenta custos acrescidos com a subida da energia e o aumento do preço das matérias-primas, passa a vender menos. Se a receita desce, e a despesa aumenta, em breve poderá ter de reduzir a produção ou fazer despedimentos. Tal como o dono do restaurante onde ia frequentemente.
Existindo um nível elevado de desemprego, o consumo também diminui, porque com a perda de rendimentos as famílias são forçadas a comprar menos.
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Se a redução do consumo se alia ao desemprego e a economia pára de crescer, podemos entrar num contexto de estagflação. Ou seja, um cenário que combina inflação, estagnação do desenvolvimento económico e aumento do desemprego. Como os níveis de desemprego se mantêm baixos e estáveis (uma taxa de 6% de acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística), a estagflação não é, por enquanto, uma realidade.
Já o crescimento económico, bastante positivo no período pós-pandemia, está a abrandar. No relatório que acompanha o Orçamento do Estado para 2023, o Governo prevê, para o próximo ano, “uma desaceleração da economia portuguesa, com um crescimento real de 1,3% face ao crescimento estimado de 6,5% para 2022”.
Tome Nota:
Diz-se que existe abrandamento do crescimento económico quando a economia continua a crescer, mas a um ritmo lento do que o esperado.
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A crise económica vai levar à recessão?
Na memória de muitos portugueses está ainda a crise vivida na década anterior, um período que foi realmente de recessão. Qual a diferença em relação à situação atual? Diz-se que uma economia está emrecessão quando regista um crescimento negativo durante dois trimestres seguidos. Esse não é, como vimos, o cenário que se vive.
Uma recessão prolongada leva a uma depressão económica, algo que ocorreu nos anos 30, na sequência do crash da bolsa de Nova Iorque.
Embora os cenários para o futuro sejam incertos e dependam, por exemplo, da evolução da guerra na Ucrânia ou do controlo da covid-19, o facto é que a crise económica já chegou.
Tome Nota:
A depressão económica, por ser uma recessão prolongada, tem um impacto ainda mais negativo na economia
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