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No sobe e desce das poupanças e do endividamento, os últimos indicadores apurados quer pelo INE quer pelo Banco de Portugal dão conta de dados contraditórios sobre as nossas finanças.
Neste mês da poupança, os números de poupança dos portugueses surgem de facto a subir, mas acompanhados pelo peso do endividamento.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), estamos a poupar 12,6% do rendimento, mas isso não traz qualquer alívio no endividamento. O Banco de Portugal aponta para 857 mil milhões de euros em agosto o que na prática reflete um aumento de 3 200 milhões face a julho.
O que explica o volume de crédito?
Conforme explicita o Banco de Portugal, em agosto de 2025, o endividamento do setor não financeiro (administrações públicas, empresas e particulares) aumentou 3,2 mil milhões de euros, para 857 mil milhões de euros. Deste total, 475,4 mil milhões de euros respeitavam ao setor privado (empresas privadas e particulares) e 381,6 mil milhões de euros ao setor público (administrações públicas e empresas públicas).
Os números explicam-se muito por via da subida no crédito habitação que beneficia de condições mais atrativas, nomeadamente taxas Euribor mais controladas, mas também por via dos apoios público à compra da 1ª Habitação (garantia publica e isenção de IMT assim como de Imposto do selo) e até pelo alargamento do regime de IRS Jovem.
Mas não só. O crédito ao consumo também cresce, assim como a taxa de esforço das famílias portuguesas que têm vindo dar mostras de estar a consumir mais. Os fatores que o explicam podem ter a com o aparente alívio das condições de crédito, da inflação e de todo clima económico. Desiluda-se, porém se pensa que cenário deve ser gerido como se assim fosse para sempre. Deve saber sempre acautelar a possibilidade de mudanças - por exemplo para contextos de maior crise.
De onde vem o endividamento: fatores adicionais?
Do lado das famílias, o endividamento subiu 1000 milhões de euros apenas em agosto, atingindo valores que não se viam desde 2011. A taxa de variação anual fixou-se em 7,4%, o que, de acordo com o Banco de Portugal representa um pulo significativo e o máximo de um histórico que a dezembro de 2008. E o motivo não reside exclusivamente no crédito habitação.
O volume de dinheiro emprestado às famílias também subiu por causa de outros tipos de crédito. Por exemplo:
- Crédito pessoal para educação ou obras em casa; compra de mobiliário; intervenção para melhoria da eficiência energética;
- Crédito automóvel
- Cartões de crédito
- Consolidação de crédito
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10 Dicas para gerir o seu endividamento
1. Avalie a sua capacidade financeira
Antes de contrair qualquer crédito, analise o seu orçamento mensal. Garante que tem margem para suportar a prestação sem comprometer despesas essenciais ou de crédito já contraídos. Ou seja, se o seu crédito pode ser acomodado na sua taxa de esforço. Evite que o seu nome possa figurar na lista negra do Banco de Portugal.
2. Planeie o orçamento com racionalidade
Liste todas as receitas e despesas fixas. Reserve uma percentagem para poupança e outra para amortização de dívidas. Evite os créditos para bens não duradouros (como férias ou tecnologia). Se não consegue pagar a pronto, considere adiar a compra. Nada de se envidar sem liquidar créditos passados. Comece pelos que têm maiores taxas de juro.
3. Compare taxas e condições
Ao decidir pedir um empréstimo, utilize simuladores como o do Banco de Portugal ou do seu Banco para comparar TAEG e MTIC entre instituições. Pequenas diferenças podem representar centenas de euros ao longo do contrato.
4. Priorize a poupança
Tentar sempre canalizar parte do rendimento para poupança automática é importante. Tente fazer o exercício ao contrário. Primeiro, poupe e depois gaste. Reduza a dependência do crédito para lidar com situações imprevistas.
5. Crie um fundo de emergência
Reserve pelo menos 3 a 6 meses de despesas para evitar recorrer a crédito em situações inesperadasou crie um fundo de emergência. Mas não só. Tão importante como ter uma reserva de dinheiro sempre disponível é ter outra capaz de fazer crescer as poupança com um fundo de oportunidade para investir e rentabilizar o seu esforço de poupança. Tire proveito do efeito maravilha dos juros compostos.
6. Faça um uso moderado dos cartões de crédito
Os cartões de crédito podem ter têm taxas de juro mais elevadas que um crédito tradicional. E isso pode gerar-lhe um fenómeno de dívida rotativa. Use-os com controlo e numa perspetiva de pagar o saldo total mensalmente. Podem ser um recurso para equilibrar contas mas, sem que isso implique uso intensivo ou dependência.
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7.Negocie com as Instituições Financeiras
Se antecipa dificuldades, contacte o banco para renegociar prazos ou taxas antes de entrar em incumprimento. Existem muitas alternativas em cima da mesa, nomeadamente a consolidação dos créditos, que pode fazer reduzir a prestação mensal ainda que aumente prazos e custo total.
8. Consulta Apoio Especializada
Se já está em situação de sobre-endividamento, deve procurar ajuda junto de entidades como o Gabinete de Apoio ao Sobre-Endividado.
9. Invista em Literacia Financeira e seja prudente
Quanto mais informado estiver, melhor decisão tomará. Se investir em informação , conseguirá compreender os conceitos e calcular as suas finanças pessoais, simular e compreender as propostas. Os baixos níveis de literacia financeira levam a más decisões quer de poupança quer de crédito. A prudência e o planeamento a longo prazo fazem a diferença entre estabilidade financeira e sobre-endividamento.
10. Acompanhe a evolução das taxas de juro
Antecipe sempre os cenários e evite surpresas. As taxas Euribor são fundamentais para calcular as taxas de juro a que paga os seus empréstimos.
E como estamos a poupar?
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de poupança das famílias portuguesas fixou-se em 12,6% do rendimento disponível no segundo trimestre de 2025, uma subida de 0,2 pontos percentuais face ao primeiro trimestre. Este aumento surge após uma recuperação sustentada, refletindo o crescimento dos rendimentos (1,5%) superior ao das despesas de consumo (1,4%).
Apesar da melhoria, Portugal continua abaixo da média da Zona Euro para este indicador de poupança que em Outubro de 2025 se situa em 15,5%. A importância de equilibrar poupança e crédito é fundamental para garantir estabilidade financeira e para que isso ocorra, os indicadores de literacia financeira devem igualmente melhorar.
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A informação deste artigo não constitui qualquer recomendação, nem dispensa a consulta necessária de entidades oficiais e legais.
