Os hedge funds surgem muitas vezes associados a duas palavras: lucro e risco. Saiba o que são e como funcionam.
Se tem interesse em temas relacionados com investimentos talvez tenha ouvido falar de hedge funds ou fundos de cobertura. E talvez tenha também ouvido falar em verbas avultadas, especulação e elevado grau de risco. Afinal, o que são e como funcionam os hedge funds?
Os hedge funds diferem dos investimentos tradicionais em vários pontos. Um deles é a diversificação do investimento, que abrange vários ativos com diversos níveis de risco. O objetivo é que, independentemente das oscilações do mercado, os investidores mantenham a rentabilidade. A forma como o conseguem é, no entanto, um pouco polémica.
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Os hedge funds são geridos por um gestor ou administrador, que tem liberdade para escolher os investimentos que entender serem os melhores. O facto de estes fundos gerirem quantias elevadas e a forma como se isentam das responsabilidades em caso de falência colocam, desde logo, algumas reticências.
Quais os principais riscos de investimento?
- Risco de Capital: risco de receber menos do que investiu;
- Risco de Mercado: risco de o valor dos ativos variar e afetar a rentabilidade do investimento;
- Risco de Crédito: risco de falência ou insolvência do emitente;
- Risco de Liquidez: risco de ter de esperar ou de ter custos para transformar um instrumento financeiro em moeda.
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O que são hedge funds?
A Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que supervisiona e regula os mercados financeiros, define os hedge funds como um fundo de investimento “não sujeito a regulação ou sujeito a regras menos exigentes que as aplicáveis aos fundos de investimento harmonizados”.
Isto é, enquanto os fundos harmonizados estão sujeitos a regras europeias, que lhes permitem ser comercializados dentro da União Europeia e garantir a proteção dos investidores, os hedge funds têm regras próprias.
A CMVM recorda que estes fundos funcionam sem regras de composição do património ou com regras estabelecidas pelo gestor.
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O regulador destaca também a utilização de “técnicas agressivas” como a alavancagem ou short selling.
Alavancagem e short selling: o que significam?
É um recurso do investidor para impulsionar a rendibilidade mas também risco de determinado investimento ou seja, os riscos de prejuízo ou perda. Ocorre, por exemplo, quando investe mais do que possui - através do recurso a empréstimos ou através de instrumentos financeiros derivados.
No short selling (ou venda a descoberto) vende-se algo em que não se investiu, esperando ganhar dinheiro com isso. Como? As ações ou outros instrumentos financeiros que está a negociar foram emprestados ou cedidos pela corretora, mas não comprados. O objetivo é ganhar dinheiro com a queda do preço desse instrumento.
Ou seja, vende o título ao antecipar a queda do preço; depois volta a comprar (mais barato) e devolve o título à corretora. O lucro é obtido através da diferença entre o preço de venda e o de compra. Esta operação pode demorar apenas alguns segundos.
Exemplo: vende uma ação “emprestada” a 20 euros. Como o preço desce, compra-a a 10 euros. Devolve à corretora, paga as comissões e ainda fica a ganhar.
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Outra característica dos hedge funds é que a frequência com que o investidor pode resgatar o investimento é determinada pelo gestor e obedece a estratégias próprias. Isto é, não pode “entrar” ou “sair” destes fundos quando quer.
Os deveres de informação aos participantes e ao mercado são, em regra, menos exigentes que as aplicáveis aos fundos de investimento harmonizados, alerta a CMVM. Isto significa que o nível de transparência pode ser menor e, no limite, pode até nem se saber qual a carteira de investimentos de determinado fundo.
Os hedge funds não são, por isso, recomendados a quem tem aversão ao risco ou não compreende totalmente o funcionamento dos mercados financeiros.
O QUE A CAIXA PODE FAZER POR SI?
À medida que for consolidado as suas poupanças, deve ter o cuidado de salvaguardar a melhor maneira de as aplicar e rentabilizar. Chama-se isso uma boa gestão do seu futuro financeiro. Procure a solução mais adequada ao seu perfil de risco e procure sempre a ajuda de entidades e profissionais habilitados.
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Como e porque surgiram?
O criador dos hedge funds, Alfred Winslow Jones, construiu a sua fortuna, nos finais dos anos 1940, ao usar duas práticas pouco comuns na altura. Recorreu à alavancagem para conseguir comprar mais ações e ao short selling para se proteger dos riscos de mercado.
Comprava o mesmo número de ações que vendia, pelo que as oscilações do mercado eram neutralizadas, não por fatores externos, mas pelas escolhas que, enquanto gestor, fazia, selecionando as ações que queria comprar ou vender. Jones ficava com 20% dos lucros obtidos pelo fundo.
A estratégia inovadora tornou-se mais comum nas últimas décadas. No entanto, a forma como os hedge funds operam tem gerado controvérsia.
Tome Nota:
Antes de investir em instrumentos financeiros, certifique-se que a entidade a que recorre para lhe garantir essa intermediação está autorizada. Veja no portal da CMVM a lista de entidades habilitadas, assim como os alertas aos investidores.
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Como funcionam os hedge funds?
Os investimentos destes fundos vão de ações a criptomoedas, mas incluem também dívida pública ou matérias-primas.
A designação hedge fund (fundo de cobertura) advém justamente da forma como operam: procuram evitar perdas através da limitação do risco. E, para alcançar esse objetivo, podem, por exemplo, recorrer a transações opostas.
Os ganhos são obtidos com as variações dos preços, e estão muitas vezes tanto na posição de vendedores como de compradores. Nos momentos em que os mercados estão em queda recorrem a vendas a descoberto ou ao naked short selling (que não é permitido em Portugal). Mas podem também aproveitar para comprar quando outros investidores, assustados, começam a vender.
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Isto é, os hedge funds podem influenciar o mercado e continuar a lucrar, mesmo que as bolsas estejam em queda. A ideia pode parecer boa, mas os riscos das estratégias seguidas, sem qualquer dever de informação aos investidores, representam riscos.
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O caso GameStop
Em janeiro, as ações da GME GameStop, uma empresa norte-americana de compra e venda de videojogos, disparam dos 14 para os 380 dólares e chegaram mesmo aos 480 dólares. Um feito extraordinário, sobretudo se tivermos em conta que esta empresa estava perto da falência.
O que aconteceu foi uma espécie de revolta contra os hedge funds. Pequenos investidores juntaram-se em fóruns e redes sociais e combinaram comprar ações da empresa que estava a ser usada para short selling. O aumento da procura fez subir o preço e desesperar quem, tinha apostado numa descida e queria lucrar com essa queda. Ou seja, quem apostava nestes fundos de cobertura.
O resultado foi-lhes altamente desfavorável. Cada dia que passava, aumentavam as comissões a pagar às corretoras pelo empréstimo. E a ideia de vender barato para comprar ainda mais barato caía por terra. As perdas terão sido bastante avultadas para os hedge funds. E os ganhos, para quem comprou em baixa e vendeu em alta, foram bastante elevados.
O valor das ações voltou a descer e estava, no final de fevereiro, perto dos 100 dólares. O impacto na bolsa norte-americana foi significativo e este caso poderá mesmo levar a alterações legislativas.
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