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Já ouviu falar em indicadores da política monetária? Saiba como interferem com a sua poupança e com a gestão das suas finanças.
Como é que os indicadores da política monetária europeia influenciam o empréstimo da sua casa? Qual a importância de saber que, amanhã, o preço do pão será igual ao de hoje? Veja como as decisões financeiras tomadas no âmbito da União Europeia têm implicações em pequenos gestos do seu dia-a-dia.
Quando se fala em Banco Central Europeu, política monetária ou estabilidade de preços, nem sempre se percebe a importância que estas entidades e conceitos podem ter na nossa vida quotidiana.
Se tem um crédito habitação, terá certamente alguma atenção às oscilações das taxas de juro. E já terá percebido que, se a Euribor estiver em queda, a sua prestação baixa. Estes são apenas exemplos de como os indicadores da política monetária acabam por influenciar as suas finanças pessoais.
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O que é a política monetária?
A União Europeia (UE) visa uma união económica e monetária. Isto significa que, além da maioria dos países usarem uma moeda única (o Euro), são também implementadas políticas comuns nas esferas económica e financeira.
As decisões são tomadas pelo Banco Central Europeu (BCE), sempre com uma meta em mente, a estabilidade dos preços. Isto é, uma forma de garantir, por exemplo, a manutenção do poder de compra dos cidadãos.
As decisões do BCE têm influência nas taxas de juro e na disponibilidade de moeda em circulação. E estes são instrumentos que, por sua, vez, influenciam o consumo e o investimento.
Tome Nota:
A política monetária parte de decisões tomadas pelo Banco Central e influencia as taxas de juro e a disponibilidade de moeda em circulação. O objetivo é afetar o consumo e o investimento. A autoridade monetária na zona euro de que fazemos parte é o Eurosistema. Saiba mais aqui.
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Eurosistema: o que é?
O Eurosistema é composto pelo BCE e pelos bancos centrais nacionais dos países que usam o Euro.
Tem como objetivo central a manutenção da estabilidade de preços e apoiar as políticas económicas gerais relacionadas com emprego e crescimento. As suas incumbências envolvem as seguintes frentes de acão:
- Definir e executar a política monetária;
- Realizar operações cambiais;
- Deter e gerir as reservas cambiais oficiais dos países da área do euro;
- Promover o bom funcionamento dos sistemas de pagamentos;
- Contribuir para as políticas que visam a estabilidade do sistema financeiro;
- Exercer funções consultivas relativamente à legislação comunitária e à legislação nacional;
- Compilar informação estatística;
- Emitir notas de euro.
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A política monetária do Eurosistema é definida pelo Conselho do BCE e executada pela sua Comissão Executiva. É depois posta em prática pelos bancos centrais nacionais, como o Banco de Portugal.
Na UE existe também o Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), que é mais alargado, já que inclui os bancos centrais de todos os Estados-Membros da UE. O Banco de Portugal pertence a ambos.
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Qual a importância da estabilidade de preços?
Já terá percebido que “estabilidade de preços” é mesmo a expressão mais importante na política monetária europeia. Mas porquê? Lembra-se da importância de saber que amanhã vai comprar pão pelo mesmo preço que comprou hoje?
Ou seja, sabe que com uma moeda de dois euros pode comprar um determinado número de pães. E, com preços estáveis, não perde poder de compra. Ou seja, o seu ordenado deste mês dará para pagar as mesmas despesas que pagou no mês passado. Por isso, sabe que se tiver um aumento vai conseguir comprar mais coisas.
A estabilidade de preços é, assim, importante para que pessoas e empresas possam planear decisões e investimentos.
Além disso, evita que as taxas de juros subam. Taxas de juro altas beneficiam quem tem dinheiro no Banco, mas prejudicam o financiamento, incluindo os créditos, como o crédito habitação ou os empréstimos feitos pelas empresas ou pelos próprios bancos, quando precisam de se financiar.
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Da mesma forma que se evita a subida dos preços (inflação), também se procura impedir a deflação (período prolongado de preços cada vez mais baixos).
Enquanto consumidor, pode achar vantajoso ter preços cada vez mais baixos, mas pense numa perspetiva mais abrangente.
Imagine que trabalha numa empresa que produz eletrodomésticos. Como os preços estão sempre a descer, as pessoas adiam a compra, porque estão à espera que aquela televisão fique ainda mais barata.
A empresa deixa de vender e poderá ter de cortar postos de trabalho. Se perder o seu emprego, provavelmente terá dificuldade para pagar as suas contas e, como consequência, vai passar a consumir menos. Logo, as empresas que lhe fornecem produtos e serviços vão também ser afetadas.
Podemos agora transpor esta situação para a economia de um país. Isto, é menos rendimento, implica menos impostos, mais despesas com prestações de desemprego. O Estado terá também mais dificuldades para cumprir os seus compromissos, incluindo os empréstimos que contraiu.
Tome Nota:
A inflação na zona Euro mede-se pelo Índice Harmonizado de Preços do Consumidor (IHPC). Este índice indica a despesa média das famílias com base num cabaz de produtos.
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Como se mantém a estabilidade dos preços?
A forma mais comum de manter a inflação nos parâmetros ideais é através do controlo das taxas de juro. Estas taxas são definidas pelo Eurosistema, garantindo liquidez ao setor bancário para que possa obter financiamento junto do BCE e conceder financiamento a pessoas e empresas.
As chamadas taxas de juro diretoras influenciam as que os bancos cobram aos clientes quando lhes concedem empréstimos.
O BCE dá pistas sobre o futuro?
Em 2013, o BCE começou a dar indicações sobre a orientação futura da política monetária.
Estas orientações são importantes para que Bancos, empresas e consumidores possam ter uma ideia sobre o comportamento futuro das taxas de juro e assim possam investir, poupar ou recorrer a financiamento.
Vejamos um exemplo de causa e efeito:
- O BCE anuncia que espera que as taxas de juro diretoras permaneçam baixas.
José quer comprar uma casa. É provável que o seu Banco conceda uma taxa de juro mais baixa, pois sabe que, se precisar, pode financiar-se também a um preço mais baixo. - Com juros mais baixos, José pode recorrer mais facilmente ao empréstimo para comprar casa.
- Empresas e consumidores, em geral, sentem-se confiantes para investir.
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Qual a resposta do BCE à COVID-19?
Tempos complicados exigem outro tipo de medidas. Procurando responder às dificuldades causadas pela pandemia, o BCE aumentou as chamadas compras de ativos. Ou seja, adquiriu títulos da dívida pública (dos países) e privada (empresas e famílias).
Como é que esta compra de ativos vai influenciar a economia? Existem três efeitos, como explica o BCE.
Quando o Banco Central Europeu compra ativos do setor privado ligados a empréstimos de particulares e empresas, o aumento da procura faz subir o preço desses ativos. É uma forma de encorajar os bancos a conceder mais empréstimos.
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As compras do BCE são feitas a investidores, como fundos de pensões, bancos e pessoas singulares. Com esse dinheiro, os investidores podem comprar outros ativos. O aumento da procura leva a uma subida dos preços e diminui as taxas de rendibilidade. A taxa de juro desce, facilitando o financiamento.
A redução dos custos de financiamento incentiva o investimento e o consumo. E isto, por sua vez, contribui para que a inflação se mantenha perto dos 2%.
Estas compras do BCE servem também como indicação de que as taxas de juro diretoras vão manter-se baixas. Como já vimos, este tipo de orientação é importante para que exista confiança no investimento e para que os bancos definam taxas de juro mais baixas para os créditos que concedem.
Tome Nota:
A taxa de 2% é o valor definido como limite ideal para a inflação. A ideia é que este valor não seja ultrapassado, mas também não pode ficar muito abaixo. Um nível inferior mas próximo de 2% dá margem de segurança contra a deflação, mas permite também acomodar diferenças entre países.
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