Idade recomendada de leitura: Dos 6 aos 8 anos

E SE TODOS PUDÉSSEMOS ARRUMAR O PLANETA?

O Sebastião adora ter que fazer. Por isso nada o impediu de naquele dia, cheio de chuva e com grande ventania, sair de casa para visitar os seus tios que precisavam de ajuda para arrumar um dos móveis.

Antes de sair, porém, não se esqueceu de levar consigo o Bento, o grilo que os tios lhe tinham oferecido e a quem devia dar uma folha de alface todos os dias. 

Vestiu o impermeável e lá foi rua abaixo até à sua casa, ali perto. Ao bater à porta, sentiu uma forte pancada nas costas. Mal teve tempo de se virar para ver o que se passava, sentiu outra e mais outra que lhe caiam em cima, como a chuva forte.

O Bento que dormitava, aninhado no bolso da gabardina, assustou-se.

Percebeu então que eram uma, duas, três embalagens de iogurte que tinham sido largadas sem qualquer cuidado e que agora voavam ao sabor da tempestade.

O que fez o Sebastião?

Mal entrou em casa dos tios, explicou-lhes o que se tinha passado e acrescentou:
- Temos que ajudar a arrumar esta rua. Está toda virada do avesso… os tios olhavam um para o outro sem perceber.

Parece que a tempestade tinha levantado todo o lixo lá da rua e de repente tudo se descontrolava. Seria a revolta do lixo? Uma revolta contra quem o tinha produzido? Ou seja,  os moradores lá da rua? Mas como pôr ordem naquela confusão?
As perguntas do Sebastião eram tantas como tudo o que rodopiava em desordem lá fora. 

Embalagens de cartão flutuavam perdidas, embrulhos usados de papel escapavam pelas ruas como se fugissem de alguém e acabavam a entupir os esgotos; garrafas e copos chocalhavam furiosos uns contra os outros.

E o que é o lixo?

Podes tu perguntar. E o Sebastião responde:

- O lixo são muitas coisas. Todas diferentes. Por isso devem ser tratadas de modo diferente. Daí a algazarra. É que os jornais, com o seu noticiário, fotografias e opinião de gente ilustre, não queriam acabar os seus dias no mesmo sítio das cascas de batata, as cascas de batata não se queriam misturar com as cascas da fruta, as garrafas de vidro exigiam respeitinho e achavam-se com mais direitos que as garrafas de papel.

E foi no meio de tantos encontrões e safanões que nesta estória se ouve a voz do Bento. Primeiro, mostrou uma das suas antenas, a mais comprida, e depois a outra mais curta. E Por fim, explicou-se.

-  CRIC….E se todos ajudássemos a arrumar o planeta para pôr ordem nesta grande confusão! CRIC…CRIC!...

Qual é o valor do lixo?

Disse o Bento:

- O lixo lá por ser lixo, não precisa de ser lixo o resto da vida. Cric, cric… É que quanto mais sobrar daquilo que deixarmos de usar, mais difícil se torna arrumar. Por exemplo, embalagens, desperdício de comida; plásticos ou papel.

O Sebastião concordou. Em vez de depositar aquilo que deixamos de usar, o remédio está mesmo em reciclar. Ou seja, transformar.

Mas que ideia tão bonita, Bento! Pensou o Sebastião.

Parece magia, como aquela de que os tios lhe falavam nas férias, ao serão, e que transformava sapos em príncipes ou botas velhas em lindos coches dourados.

O que é isso de reciclar? Qual a magia para o conseguir

E o grilo continuava:

- Por exemplo, um lote de jornais e papéis velhos pode ser usado para produzir novas embalagens de cartão. Cric..Cric…E essas embalagens, depois de usadas, podem ser novamente transformadas. Esta transformação é permanente e faz-nos poupar muito em recursos novos. CRIC…CRIC…CRIC…

O Sebastião sabia - porque já separava o lixo lá em casa. Só não sabia era por que motivo tinha que depositar cada peça num recipiente diferente. É que sem separação, não podia haver transformação.

Agora sabia-o com a ajuda do Bento que aproveitou para falar uma vez mais, antes de se encolher novamente no bolso do Sebastião: Então e a minha folhinha? CRIC… A alface? Se continuar a falar sem me alimentar é mesmo no lixo que irei acabar…CRIC!!

O Sebastião foi ao frigorífico tirou as últimas folhas de alface que ali encontrou, deu-as ao Bento. No fim, a embalagem de plástico foi direitinha para o pequeno depósito amarelo que os tios tinham na cozinha.