Plásticos no Oceano

A ameaça do plástico é grave

Sustentabilidade

A presidente da SOS Animal dá conta do risco e efeitos do uso excessivo do plástico na fauna e flora do planeta. 13-10-2020

O plástico foi um elemento revolucionário, que permitiu grandes mudanças nas sociedades, tendo mesmo resolvido vários problemas que as industrias detinham, no processo de embalamento e distribuição dos seus produtos, e baixando assim consideravelmente o custo dos próprios produtos.

Se olharmos à nossa volta, grande parte dos objetos do nosso quotidiano são feitos de plástico, é um facto incontornável.

Depois de descoberta a sua fórmula sintética, em meados do século XX, teve ao longo do tempo uma evolução rápida e diversificada, tendo sempre como base componentes derivados de petróleo e outras fontes fósseis.

Sem dúvida que não podemos negar aquilo que nos proporcionou. No entanto hoje em dia, o plástico é uma ameaça. Deixou de ser um reflexo de progresso para ter um impacto negativo em todo o planeta.

 

As provas deste impacto são evidentes

Quanto mais a ciência avança, mais se demonstra até que ponto a presença do plástico está a ser nefasta para todos os seres vivos, das plantas aos animais humanos e não humanos, todos serão afetados pelas suas múltiplas presenças. Incluindo o nosso organismo.

Um dos estudos mais recentes revela que foram encontradas nanopartículas de plástico (com menos de 0,001mm) em orgãos como rins, fígado, baço e pulmões. Apresentados pela American Chemical Society. Está provado que o plástico se encontra presente na água que bebemos, nos alimentos que comemos e no ar que respiramos. É invisível, mas está lá.

Ao longo da vida, respiramos e ingerimos uma média de 50 mil micropartículas de plástico por ano (segundo um outro estudo, liderado pela Universidade de Victoria, no Canadá, e publicado na revista Environmental Science and Technology). Quer isto dizer que ninguém está a salvo, nem mesmo os negacionistas ou os agentes de um forte lobby que protege os fabricantes de plástico.

 

A vida animal e nos oceanos está em risco

Na vida animal, o impacto do plástico está a levar à extinção de várias espécies e a destruir os ecossistemas que mais contribuem para o equilíbrio da natureza. É desconhecida a verdadeira dimensão deste problema.

Só recentemente se desenvolveram ferramentas para avaliar a presença de plástico no fundo dos mares, como a Al Moonshot Challenge, um projecto que vai dar início a um mapeamento sub-aquático para detectar plástico.

Cerca de 80% dos oceanos estão ainda por explorar. Há muito por conhecer, incluindo a quantidade de espécies que se encontram nos ecossistemas marinhos, e que fazem parte de uma enorme cadeia trófica.

Sabemos que são muitos os animais que são vítimas das redes de pesca, que ficam asfixiados ou lesionados.

Sabemos que todos consomem plástico. Grande parte da vida marinha movimenta-se junto à costa, é lá que peixes, aves e outros animais encontram o seu alimento, tantas vezes confundido com peças de plástico. Está provada a relação deste tipo de poluição com a infertilidade de diversas espécies de peixes, assim como doenças inflamatórias e cancerígenas.

 

A indiferença persiste

Tudo aquilo que vai parar ao fundo dos mares, rios e oceanos está longe do olhar humano, por isso cria a indiferença que explica a não ação humana contra este flagelo ambiental. Só quando nos deparamos com o nível e impacto desta poluição é que percebemos até que ponto o plástico é uma das grandes causas de morte e mutilação de milhares de animais, assim como de ecossistemas como os corais, os mangais, as pradarias marinhas e os estuários.

Além de serem o habitat de muitas espécies, são muito eficazes na captação de CO2, no entanto, são ambientes muito vulneráveis à invasão do plástico e dos materiais poluentes descarregados pelas indústrias e produções agrícolas onde se utilizam componentes químicos.

A quantidade de plástico que se acumula nos mares, rios e oceanos é já enorme. São já conhecidas do grande público as ilhas de plástico do tamanho de países como França. Movem-se de um lado para o outro, causando a morte de todo o tipo de vida.

 

É preciso ir além dos três R

Reduzir, Reciclar e Reutilizar são os três R mais importantes de momento, mas não são suficientes. A maior parte do plástico é dispensável, não precisamos dele. Parte também de uma fiscalização eficiente, não só nas descargas que acontecem diariamente em todo o mundo, como na forma como muitas técnicas de pesca continuam a ser praticadas e materiais produzidos. É ainda fundamental criar incentivos económicos às empresas que procuram reduzir a utilização de plásticos ou mesmo encontrar soluções alternativas.

Se em tempos foi lucrativo, hoje o plástico está a destruir o nosso planeta.
Sem mudanças na economia mundial e no comportamento do consumidor, as alterações climáticas resultantes da poluição que fazemos hoje vão custar 4,6 biliões de euros por ano até 2070, aumentando cada vez mais a partir daí, segundo um relatório divulgado pela organização Carbon Disclosure Project (CDP) .

A campanha da SOS Animal Portugal, Se Nada Fizermos, Em 2050 Teremos Mais Plástico do que Peixes no Mar, pretende ser um alerta, uma fonte de inspiração para a mudança de hábitos de consumo de cada um de nós.

É preciso mais e melhores campanhas de sensibilização dos consumidores. São eles que vão exigir a mudança às indústrias e são eles que podem ser o grande motor da mudança, que todos precisamos desesperadamente para conseguir salvar a única casa que realmente temos, o planeta Terra.

 

Sandra Duarte Cardoso
Presidente da Direção – SOS Animal Portugal
Médica Veterinária, DVM, MSc & PhD Student
Investigadora CECA-ICETA – ICBAS Universidade do Porto