endividamento familiar

Como gerir o endividamento em família?

Casa e Família

João Barbosa deixa-nos alertas e sugestões para a gestão sustentável do endividamento familiar. Descubra o roteiro completo. 21-05-2021

O tema do endividamento caracteriza as famílias portuguesas. Dizemos isto sem qualquer conotação negativa, pois somos da opinião de que o crédito é uma ferramenta importante na gestão das finanças familiares.

Mas, o facto é que temos uma sociedade endividada e, muitas vezes, em excesso. Infelizmente, somos confrontados com alguns excessos quando vem uma crise económica que abala os nossos alicerces. E esta crise veio em forma de um pequeno vírus.

Um alerta…

Tendo como pano de fundo uma sociedade muito endividada, é importante constatar que o custo da dívida tem estado em valores muito baixos. Aliás, como saberá, as taxas de juro atingiram valores negativos (e aí permanecem), algo que em muito beneficia quem tem dívidas, embora prejudicando quem tem poupanças.
O facto de o custo da dívida ter caído bastante serviu de importante almofada, pois reduziu fortemente o valor das prestações com créditos. Pela negativa, não será de esperar reduções substanciais (a acontecerem será muito mau sinal). Logo, vamos ter de encontrar alternativas (de poupança) noutro lado.

 

Um facto…

Uma das medidas de estímulo ou de apoio às famílias foi a constituição de moratórias nos créditos. Na realidade, uma moratória é um adiar do pagamento do capital e dos juros devidos num empréstimo, prolongando o empréstimo por um prazo idêntico ao da moratória. De notar que a moratória não é um perdão de dívida e que as famílias terão de suportar os encargos com os juros.
Acontece que as moratórias têm vindo a ser retiradas de forma progressiva, tendo em Março acabado a moratória privada e esperando-se para Setembro o fim de todas as moratórias. Logo, iremos voltar a ser confrontados com a necessidade de retomar os pagamentos o que pode ser difícil para muitas famílias. O que fazer?

 

Ataque o problema de frente

A primeira e talvez mais importante ideia sobre a gestão do endividamento passa por não esconder o problema. Na realidade, temos de assumir que existe uma dívida. Que esta dívida tem de ser paga. E que falamos de um assunto de toda a família. De nada vale esconder o problema do marido ou da mulher e, muito menos, fingir que não existe.

Assim, sugerimos que tenham uma conversa franca em casa e que procurem identificar todos os créditos que têm e as suas características. Se for preciso, façam uso do Mapa de Créditos do Banco de Portugal, tendo em mente que cada membro do casal tem o seu. Sim, pode acontecer conhecer uma dívida que não sabia que existia.

Quando falamos da família, não poderemos ignorar os filhos. É certo que não faz muito sentido estarmos a partilhar com os filhos os problemas financeiros e muito menos falar-lhe sobre créditos e afins. No entanto, é bem provável que a família tenha que reduzir o seu nível de vida no futuro próximo, pelo que ganhamos muito em envolver os filhos no nosso esforço de corte de custos em casa. Quem tem filhos sabe o difícil que é negar-lhe algumas coisas, especialmente quando não podemos suportar o encargo.

 

Fale com o seu gestor de conta

A segunda ideia consiste em falar abertamente e de forma proativa com o seu gestor de conta. Tenha em mente que o banco não tem qualquer interesse em que os seus clientes tenham atrasos de pagamento ou mesmo incumprimentos. Logo, exponha as suas dificuldades e procure analisar diferentes soluções com o banco. Estas soluções poderão passar por:

  1. Atribuição de períodos de carência de capital, período em que a pessoa paga apenas os juros do crédito;
  2. Prolongamento do prazo do contrato, mantendo, no entanto, o pagamento de uma prestação que agora é mais baixa;
  3. Redução de taxa de juro dos seus contratos;
  4. Transformação da dívida de um cartão de crédito num crédito pessoal, garantindo assim que liquida o seu crédito.

 

Olhe para o lado

Quando temos dificuldade no pagamento de uma determinada despesa tendemos a sofrer do efeito de tunelamento. Ou seja, focamos nesse problema de tal forma que acabamos por desconsiderar outras variáveis que estão na periferia. Aplicando concretamente ao crédito, podemos ter dificuldade em pagar determinada prestação e ignoramos outras fontes de desperdício.

Por exemplo, poderemos estar a pagar demasiado nos contratos de seguros, nas telecomunicações ou nos serviços domésticos como água, luz e gás. Para todas estas despesas existem formas de reduzir os encargos. Acredite ou não, já nos cruzámos com pessoas que não conseguem pagar o seu crédito habitação e que têm demasiadas despesas tipicamente superficiais como tabaco ou telecomunicações completamente descontroladas.

 

Pensamento positivo

Se encarar o problema de frente e com união familiar irá perceber que existe uma luz ao fundo do túnel. Se não tem nenhum problema financeiro aproveite estas ideias para melhorar a sua vida financeira e, quem sabe, começar ou reforçar as suas poupanças. Se prevê que venha a ter maiores dificuldades, então comece já a preparar o fim das moratórias para que quando chegarem não tenha surpresas. Com pensamento positivo!

 

João Morais Barbosa
Administrador da Reorganiza