A expressão “vivemos momentos únicos” tornou-se corriqueira. Atravessamos, de facto, um momento que possivelmente irá ficar marcado por um Antes do Covid e por outro Após o Covid.
Como em todas as mudanças, será necessário perceber os seus impactos e falar sobre eles. Neste artigo vamos abordar algumas das ramificações desta nova crise e como poderemos e deveremos falar sobre elas aos nossos filhos.
Impacto desta nova crise será inegável
A primeira ideia que deveremos ter presente prende-se com os grandes impactos desta crise nas sociedades. Com maior ou menor extensão e profundidade, o certo é que as nossas vidas irão mudar em vários campos, desde o relacionamento pessoal e profissional às consequências nefastas ao nível do emprego e das condições de vida de muitas pessoas. Impactos inegáveis que deverão servir de mote ou pretexto para introduzir conversas com os nossos filhos.
Como pais, deveremos transmitir confiança aos nossos filhos mas também prepará-los para as mudanças que se vão apresentando nas suas vidas. Algumas ideias poderão ajudar a enquadrá-los sobre diversos aspetos:
A sociedade e as empresas
- Impactos da crise nas empresas – Ajustando os conteúdos às suas ideias, poderemos explicar os impactos que o confinamento tem no curto prazo e no longo prazo. Será fácil que se crie uma proximidade, pois as crianças foram forçadas a estar fechadas em casa e já têm alguma noção de que algo não está bem;
- Explicar como funcionam as empresas – Podemos aproveitar para explicar como funcionam as empresas, o emprego e a economia, mostrando a importância do consumo responsável para a criação de emprego e geração de riqueza. Talvez, também, reforçar a importância dos estudos e da busca da excelência como forma de promover a melhoria das condições de vida;
- Introduzir os conceitos de solidariedade – Nunca será de mais reforçar a importância dos valores em torno da solidariedade, especialmente numa altura em que muitas pessoas irão perder os seus empregos. Podemos sensibilizar os nossos filhos para a importância de olharmos os outros e os seus problemas, reforçando alguns valores que poderão ajudá-los a ser melhores adultos;
As atitudes para a vida
- Alertar para a necessidade de fazer ajustes – Com grande probabilidade a sua família terá de fazer alguns ajustes financeiros. Assim, podemos aproveitar os conceitos falados acima para envolver os filhos no esforço de contenção em casa, talvez reforçando a distinção útil e necessária entre aquilo de que precisamos e aquilo que queremos. Aliás, o que esta crise nos vem ajudar a distinguir é aquilo que é essencial daquilo que é acessório, uma reflexão que talvez nos ajude a recentrar no essencial;
- A importância da prudência – Infelizmente tendemos a viver na corda bamba, achando que os problemas só acontecem aos outros e evitando uma postura de prudência. É certo que ninguém previa uma crise tão repentina. Mas também já era certo que os níveis de poupança e de endividamento das famílias se vinham tornando incomportáveis. Como sabemos que a poupança serve para imprevistos, podemos reforçar a importância de pouparmos e de vivermos abaixo das nossas possibilidades como forma de termos mais segurança financeira e precaver o futuro;
- Mostrar que o valor está nas pessoas – Uma expressão que gostamos muito é considerar que o valor das pessoas está naquilo que elas são e não naquilo que têm. Parece-nos evidente que nesta discussão sobre aquilo que é de facto importante acabamos por concluir que as melhores coisas da vida, aquelas que têm mesmo valor, não têm um preço. Facilmente percebemos quais são estas coisas e devemos reforçar a sua importância junto dos nossos filhos. Falamos de algo como as relações pessoais, a importância da família, da liberdade, da natureza, entre tantas outras coisas. Já reparámos no valor disto tudo e da ausência de preço? Será que poderemos começar a valorizar mais uma ida à praia ou um jantar em família do que um dia passado à frente de uma Playstation?
Estas e outas ideias podem-nos ajudar a colocar a crise e os seus impactos em perspetiva. Pela positiva, sabemos que já passámos por outras crises e que a nossa resposta será fundamental para a forma como a vamos suplantar. Pela negativa, avizinham-se anos de dificuldades que deverão ser colocadas em contexto e superadas - unidos às nossas famílias.
João Morais Barbosa
Administrador da Reorganiza