Focados em perceber melhor como poupam os portugueses, entrevistamos alguns cidadãos, que tiveram a amabilidade de partilhar connosco os seus casos concretos.
Confrontados com as questões: “Quais são os seus hábitos de poupança no dia a dia, como planeia o orçamento e o que consegue fazer com o dinheiro que poupa?”, as respostas, na sua globalidade, dão a entender que os portugueses - sobretudo os que têm filhos - fazem uma grande ginástica financeira para conseguir gerir os gastos e os ganhos mensais.
Otimizar os recursos passa por evitar gastos supérfluos, fazer muita poupança doméstica e planear bem o orçamento familiar. Há quem estabeleça um limite diário para gastar e outros que poupam por objetivos a curto, médio e longo prazo. Há também quem não consiga poupar, revelando alguma frustração por não ter uma almofada financeira. Estes, contam com o cartão de crédito para despesas inesperadas, mesmo sabendo que terão de cortar ainda mais no orçamento mensal para poder fazer face a estes encargos extra.
Além das despesas fixas (renda e prestações com créditos), as despesas com supermercado são as que mais sobrecarregam o orçamento. Há casos em que fazer compras no supermercado online acabou por ser uma forma de poupar algumas dezenas de euros ao final do mês.
Da amostra, selecionamos três depoimentos que retratam bem algumas singularidades. O caso de um casal com um filho; a poupança no feminino e a poupança no masculino.
Salomé Melo
Faro, 38 anos, casada e mãe de João, de 6 anos
“Desde que o João nasceu, a nossa vida deu uma volta de 180 graus. Olhando para trás, rapidamente percebemos que gastávamos mais dinheiro do que aquele que efetivamente precisávamos de gastar. Obviamente que as necessidades mudaram, mas temos alguma pena de, na altura, não termos pensado numa poupança para o futuro.
Hoje, o orçamento não é completamente à justa, mas pensar num segundo filho assusta-nos.
Temos uma despesa fixa com a renda e, recentemente, fizemos um crédito automóvel para comprar um carro familiar, sendo que as despesas inesperadas são geridas com o cartão de crédito.
Não temos margem para almoços e jantares em restaurantes (só mesmo em dias de festa) e, em termos de lazer, aproveitamos, sempre que possível, as atividades gratuitas. Tentamos planear de forma o mais rigorosa possível o orçamento familiar, mas raras são as vezes que o conseguimos cumprir à risca. Com filhos é impossível que isto aconteça.
No dia a dia, um de nós vai para o trabalho de transportes públicos e quem deixa o João na escola tem de ir necessariamente de carro. Contamos com o apoio dos avós para o irem buscar ao final do dia. Temos o hábito de levar marmita para o almoço e snacks para o dia. Este é um hábito de poupança que temos necessariamente de manter, pois estas despesas diárias podem ser um grande transtorno ao final do mês.
Ainda sobre os hábitos de poupança, tentamos seguir algumas boas práticas da poupança doméstica, sobretudo com gastos de água, luz e gás, sendo que a verdadeira dor de cabeça são as despesas com supermercado. Isto porque temos de estar atentos a todos os descontos e reunir os cupões. Quando encontramos uma boa promoção, temos por hábito comprar em quantidade, para, assim, conseguirmos amealhar alguns euros. Além disso, tentamos ser criativos com as refeições (nem imaginam a variedade de pratos que dá para fazer com frango).
Também temos a sorte de o João ter primos mais velhos e tios conscientes, que nos dão brinquedos dos rapazes e roupa que já não lhes servem, mas que estão em bom estado. Sempre que muda a estação, há sempre gastos com roupas para o João, mas felizmente, nesta idade, não há ainda outros gastos significativos.
O que em família conseguimos poupar mensalmente, por mínimo que seja, amealhamos numa conta poupança, para uma qualquer eventualidade. Além disso, começamos a preocupar-nos com os futuros gastos na educação do João. Mas, um dia de cada vez.”
Carolina Fernandes
Porto, 24 anos, solteira sem filhos
“Para mim a chave da poupança é a organização. É com pequenos esforços no dia-a-dia e com a definição de objetivos que conseguimos poupar ao longo do tempo.
Acho que é fundamental perceber porque queremos poupar porque isso ajuda a manter o foco. No meu caso, eu poupo porque tenho projetos para o futuro e porque quero ter um backup se algo não correr bem.
De seguida, tentar perceber para onde é que o dinheiro vai ao final do mês. Neste momento, tenho dividido por percentagens os meus ganhos, ou seja defino o que pretendo usar para as necessidades, para lazer e para guardar para outros projetos.
Acho que faz sentido alocar uma percentagem quer para planos de médio prazo (uma viagem, um carro), quer para planos de longo prazo (por exemplo, investir na carreira com algumas formações, na compra de uma casa ou a pensar já em orçamento para filhos, se fizer sentido). Isto vai sempre depender das prioridades de cada um. Eu diria que, para começar, separar uma percentagem do salário ajuda (digamos 50 ou 100 euros por mês, o que for possível). O importante, na minha opinião, é começar a ganhar esta rotina.
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Algumas das coisas que me têm ajudado a poupar ao longo do tempo são, por exemplo, levar marmita para o trabalho, quer para almoço quer para os lanches (parece que não, mas lanchar em cafés todos os dias ainda é significativo).
Também comecei, recentemente a fazer compras de supermercado online. É uma ótima maneira de controlar os gastos. Nas compras online, podemos atualizar total do carrinho enquanto compramos, o que não acontece nas compras em lojas físicas.
Também já me fui apercebendo que ao comprar produtos reutilizáveis podemos estar efetivamente a poupar. Normalmente, há um investimento maior na compra, mas acaba por compensar passado algum tempo. Na minha ótica, poupar não é simplesmente olhar ao melhor preço e comprar “cegamente”. Trata-se de perceber também a melhor relação qualidade-preço e ainda o impacte destas escolhas na minha poupança no futuro mas também no mundo.
Uma forma mais indireta de poupar no dia-a-dia é cuidar da saúde física e mental. Isto é, ir ao médico, dentista, fazer exercício físico, estar atenta aos sinais que o corpo dá e ir cuidando de mim. Isso pode evitar muitos custos de saúde e problemas no futuro.
Estes pequenos esforços e rotinas do dia-a-dia têm-me ajudado com alguns dos planos futuros e também com os mais imediatos. É importante pensar no futuro, mas o presente é agora e não nos podemos esquecer disso.
Mário Alexandre
Aveiro, 35 anos, solteiro, sem filhos
“Tenho planos, muitos planos, que exigem da minha parte um grande rigor financeiro no que toca à gestão de ganhos e gastos. Sempre encarei a poupança como um meio para atingir um fim. Aliás, todo o dinheiro que consigo poupar invisto em aplicações financeiras que me dão algum retorno.
Vou casar-me em fevereiro do próximo ano e, em vez de continuar a pagar uma renda, pretendo comprar uma casa. Vou recorrer ao crédito habitação. Neste momento, tenho um crédito automóvel, cujas prestações terminam em agosto do próximo ano. Recorro muito ao crédito para não ter de mexer no dinheiro que tenho investido. A relação custo-retorno, para já, compensa.
Como não tenho liquidez corrente, uma vez que tenho tudo aplicado, tento fazer a gestão do meu vencimento para conseguir fazer face às despesas e amealhar um montante por mês. Este montante é fixo e não tenho por hábito falhar com a poupança. Não tenho cartão de crédito. Na eventualidade de ter uma despesa inesperada, esta tem de ser gerida com o orçamento disponível.
Antes de ter filhos (gostava de ter dois), queria ainda viajar para dois ou três países que gostava mesmo de conhecer. Poupo por objetivos, sempre fui assim.
Quanto aos hábitos diários de poupança, foco-me sobretudo na poupança doméstica e não tenho por hábito gastar dinheiro na rua, isto é, em cafés, lanches, snacks e vou sempre almoçar a casa porque me compensa (vivo relativamente perto do local onde trabalho). Vou para o trabalho de transportes públicos e ando de carro sobretudo ao fim-de-semana (e quando há essa necessidade).
Não sou vaidoso, não gasto dinheiro em coisas supérfluas, apenas no estritamente necessário. Gosto, contudo, de sair com amigos ao fim-de-semana, mas sou muito regrado nas despesas".