Por esta altura começamos a ser bombardeados pelo esforço de marketing natalício, num frenesim que irá ganhando força até ao dia 25. Este ano vai ser um ano diferente, porque vamos viver o Natal em pandemia.
Assim, talvez possamos aproveitar a oportunidade para viver o Natal de uma forma mesmo diferente. De seguida, irei falar-lhe dos desafios financeiros do Natal e trazer-lhe a ideia de prudência.
Criar foco no essencial
É extraordinário como nos deixamos vencer por todos os estímulos de consumo. Não é fácil resistir e acabamos por ceder às tentações, muitas vezes colocando em perigo o nosso orçamento familiar.
Acredite ou não, não são poucos os casos de excesso de consumo que acabam por nos contactar na Reorganiza para solucionar problemas de excesso de endividamento no início do ano, após os excessos de Natal e as resoluções de ano novo.
É certo que algum consumo não faz mal a ninguém. Aliás, o consumo é uma face visível do esforço que fazemos ao trabalhar todos os dias. É bom gastar dinheiro e é bom ter qualidade de vida. Mas ter qualidade de vida não é necessariamente sinónimo de padrão de vida. Ou seja, como a pandemia nos ensinou, as melhores coisas da vida não têm um preço. Têm muito valor, mas não estão à venda. Assim, nesta altura tão especial, por que não começarmos por procurar focar no essencial?
Como mostrar ao meu filho o que é essencial?
Cada família saberá quais são as suas prioridades, mas em primeiro lugar é necessário que as identifiquemos com rigor. Em família, procurem definir o que é mais importante nas vossas vidas. Falar com as crianças da família, do trabalho dos pais, das pessoas que certamente irão perder os seus empregos, da importância das amizades. Aproveitemos o exemplo da pandemia e dos esforços que nos estão a ser pedidos e certamente que teremos inúmeros exemplos para debater e para educar os nossos filhos.
Transmita confiança
Em todas as crises (e não só) é fundamental passar uma mensagem de esperança e de confiança. Acreditamos que não é sempre recomendável ocultar os problemas em casa. Aliás, parece-nos evidente que estes podem ser encarados com otimismo, com uma pitada de realismo, mas com o sentido de segurança que todos os pais devem transmitir aos seus filhos. A verdade é muito poderosa e as crianças percebem quando lhes estamos a ocultar alguma coisa. Aproveitemos, adicionalmente, para com isto envolver os nossos filhos nos esforços de contenção em casa, o que poderá desde já ajudar a reduzir a lista de presentes.
Fomente uma postura de prudência
Sendo certo que é impossível prever uma crise desta magnitude, também é certo que uma postura de prudência nunca fez mal a ninguém. Podemos ser destemidos ou receosos, mas no meio está a virtude. Aliás, foi um comportamento de grupo imprudente que deixou muitas famílias sem reservas para encarar esta fase de grandes desafios. Simplesmente, decidimos voltar ao consumo e cortar com as nossas poupanças, o que nos deixa, enquanto sociedade, muito mais permeáveis a incertezas.
Em finanças pessoais, a postura de prudência é desenvolvida através de hábitos saudáveis de poupança. Sendo Animais de hábitos, conseguimos atingir os nossos objetivos se colocarmos os nossos comportamentos em piloto automático, o que pode passar por criarmos esquemas de poupança que se reforcem no tempo.
Uma sugestão em tempos de Natal pode passar por começar ou reforçar uma conta de poupança da família, que nos permitirá acumular algum património para imprevistos mas, também, para fazer face a um objetivo de família que seja mais dispendioso.
Ofereça poupança no Natal
São inúmeros os casos de famílias que têm optado por “desviar” parte dos presentes de Natal para contas poupança. Tios, avós ou padrinhos acabam por presentear as crianças com a contratação de algum produto financeiro que possa ser usado mais tarde. Diz-nos a experiência que a maioria dos presentes tem um valor efémero e acaba por ficar estragado ou abandonado ao fim de pouco tempo.
A poupança, pelo contrário, aumenta em valor com o tempo. No curto prazo pode não ser muito valorizada, mas quando servir para pagar a carta de condução ou para comprar o primeiro carro, será certamente ocasião de alegria.
Natal em tempos de pandemia. Quem diria que uma doença poderia ajudar a curar uma outra doença, a doença do consumo e do imediatismo?
João Morais Barbosa
Administrador da Reorganiza