Um dos principais impactos da pandemia foi a aceleração exponencial da mudança digital das organizações e dos seus colaboradores.
Os primeiros tiveram de encontrar formas de viabilizar o seu negócio, enquanto os seus colaboradores tiveram de se adaptar e conciliar as responsabilidades pessoais e profissionais num ambiente remoto.
O estudo sobre o Colaborador do Futuro envolveu respostas de mais de 3 200 profissionais e 34 entrevistas a especialistas de RH e líderes executivos de mais de 10 países.
Surgiu para conhecer o impacto destas mudanças nos sentimentos e preocupações das pessoas, identificar as competências que serão mais diferenciadoras nos colaboradores e líderes do futuro e, por fim, as expectativas em relação às organizações e ao futuro do trabalho daqui a cinco anos.
Apesar da caracterização da amostra, os resultados não destacam diferenças entre géneros, idades ou perfis.
Confiança no futuro do trabalho e crescente preocupação com saúde mental dos colaboradores
É certo que a pandemia despertou alguns sentimentos negativos, como a preocupação e a ansiedade, e ainda suscitou novos sentimentos como o Languishing, o sentimento de apatia generalizada durante o confinamento. Mas, apesar da incerteza e imprevisibilidade dos tempos vividos, o estudo revela que os colaboradores estão otimistas e confiantes em relação ao futuro do trabalho.
Colaboradores e organizações tiveram que se adaptar e adotar novos modelos de trabalho mais flexíveis e digitais, o que gerou alguma controvérsia. Apesar dos colaboradores defenderem a adoção de modelos híbridos, também demonstraram especial preocupação com o impacto da quantidade de trabalho na sua saúde mental, por se sentirem sempre “ligados” (87% dos inquiridos a nível global e 92% em Portugal).
Quanto à digitalização, que tem revolucionado as organizações, mais de três em cada quatro inquiridos teme que a tecnologia os possa substituir nas suas funções, ou receia não ter lugar no futuro do mercado de trabalho.
Os especialistas e executivos entrevistados, apesar de reconhecerem uma crescente tendência para a automatização e domínio da tecnologia, destacam antes o aparecimento de novas funções como resposta à necessidade de diferenciação, personalização e olhar crítico sobre o que a tecnologia oferece.
Aos olhos de mais de 60% dos inquiridos, isto representa um desafio adicional: a necessidade de adaptação constante.
Colaboradores e líderes: competências interpessoais e sensibilidade serão as mais diferenciadoras
Tanto em Portugal como a nível global, as características e perfis que mais se vão destacar no futuro do trabalho a cinco anos são as competências interpessoais. Na perspetiva dos especialistas e executivos entrevistados, a empatia e a resiliência, a comunicação, e a capacidade de influenciar e agir como pivôs serão essenciais.
Na perspetiva dos inquiridos, vão destacar-se os perfis com capacidade para aprender rápido, que sejam flexíveis, analíticos, curiosos e criativos, e que consigam equilibrar a vida pessoal e profissional. O domínio das plataformas digitais e tecnologia voltam a destacar-se. No entanto, para os especialistas e executivos, este será um requisito de entrada, mas não um fator diferenciador, pois a tecnologia não será sustentável de forma isolada. O lado humano continuará a ser essencial para criar, analisar e desenvolver.
Sobre o Líder do futuro, espera-se que estes sejam empáticos, integradores e team-players, que tenham capacidade para comunicar, sejam dotados de inteligência emocional e sensibilidade para endereçar os receios e frustrações das suas equipas. Em Portugal, a honestidade e a ética foram duas das características mais exigidas num líder, refletindo a necessidade de fomentar ambientes de trabalho transparentes e inclusivos, onde todos se sintam confortáveis para partilhar e contribuir.
O futuro é híbrido: 97% dos colaboradores preferem formato diferente do tradicional
O mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e os colaboradores são cada vez mais exigentes com as organizações, questionando os seus modelos, o que oferecem de diferenciador e as vantagens da sua integração na organização.
Entre outros, os critérios decisivos no momento de escolha são o formato de trabalho híbrido, com 97% dos inquiridos a afirmar que prefere trabalhar num formato diferente do tradicional, com respeito pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e com investimento no desenvolvimento e formação assim como na flexibilização dos benefícios apresentados.
Os desafios da globalização do trabalho e o investimento ainda por fazer
A pandemia potenciou a globalização do mercado de trabalho criando novas oportunidades e opções de escolha para os colaboradores que se tornaram mais exigentes. Na perspetiva das organizações, acelerou a digitalização, aumentou a competitividade por talento, imprimiu um novo ritmo de trabalho, mas também ofuscou a visibilidade sobre a saúde mental dos colaboradores.
Prevê-se que os colaboradores sejam cada vez mais pressionados a adaptar-se às contantes mudanças e reforcem as suas competências interpessoais. Por outro lado, é imperativo que as organizações se adaptem às novas exigências dos colaboradores, investindo em tecnologia que lhes permita estarem mais bem informadas sobre a sua força de trabalho e, com dados sustentados, revisitarem os seus modelos, políticas, programas e planos de desenvolvimento.
Rute Cardoso Sarmento
Manager da NTT DATA Portugal