"O princípio é simples: se algo não foi feito, está na altura de o fazer”
Ana Ventura Miranda é o rosto do Arte Institute, um projecto que nasceu em 2011 e que tem como objetivo a promoção internacional da cultura portuguesa. Plataforma de inspiração intercultural, o Arte Institute é também o motor da iniciativa Revolution Hope Imagination (RHI), a partir do qual se pretende fomentar o diálogo entre Arte, Negócios, Cultura e Turismo, com talks, workshops e espetáculos um pouco por todo o país. Falamos com Ana Miranda em Guimarães, durante mais uma edição dos Encontros Fora da Caixa, onde foi uma das oradoras convidadas.
O projeto RHI, assim como outros que leva a cabo em Nova Iorque e noutros pontos do mundo, encarnam um novo espírito de gestão da Cultura e da Arte?
O Arte Institute e todos os projetos que desenvolve, com especial enfoque no RHI, pretendem aliar a cultura e a marca Portugal como formar de promover o País - como um todo e principalmente no aspeto económico.
O modelo de negócio do Arte Institute, a sua sustentabilidade e crescimento, é um novo espírito de gestão. Parte de uma visão integrada de como artes e cultura devem funcionar, através de parcerias e redes de países - a base da nossa internacionalização e dos artistas portugueses. A isto, aliamos a proximidade com empresas nacionais (que estão nos mesmos países que o Arte Institute) e daí desenvolvemos estratégias comuns com um modelo win-win, para as empresas e para a promoção cultural portuguesa.
Se o pudéssemos sintetizar em termos de boa gestão o que poderíamos destacar deste projeto?
Diria que há três vetores fundamentais. Desde logo, a diminuição dos custos graças à ampla rede de parcerias em todo o mundo e mercados para onde nos queremos internacionalizar. Depois, a proximidade com as empresas nacionais e o entendimento das missões das mesmas em cada um dos países. Finalmente, a criação de uma rede entre empresas nacionais, em que o Arte Institute, através do seu membership com essas mesmas empresas, faz a ligação e promove a marca Portugal como um todo.
Acredita que estes princípios podem ser aplicados a outras áreas de atividade e de negócio?
Hoje em dia, para qualquer empresa ou área de negócio, as parcerias são fundamentais. Principalmente quando se fala em internacionalização. Os parceiros locais para onde nos pretendemos internacionalizar são cruciais para sabermos como entrar, agir e perceber o comportamento desse mercado.
A Arte e a Cultura podem efetivamente ser lucrativas?
A Arte e a Cultura, como qualquer área de negócio, ou como qualquer sector da sociedade, deves ser lucrativas. Infelizmente o próprio sector, por norma, ainda se vê completamente apoiado nos subsídios e não tenta procurar alternativas viradas para as empresas. Há ainda muito caminho a percorrer em termos de mentalidade.
Como plano de negócio, como estratégia, o caminho é muito menor e com o RHI exemplificamos isso mesmo. Tentamos passar o nosso know how mas, para haver uma mudança no sector, é preciso que o sector queira. Enquanto isso não acontecer, continuaremos a ver as queixas nas redes sociais, o que em nada ou muito pouco abrirá um novo caminho.
Se continuarmos a fazer da mesma maneira, o resultado será sempre igual. A primeira e a mudança crucial é a mentalidade do sector cultural. As empresas estão abertas e dispostas a essas mudanças.
Acredita que a internacionalização, designadamente, em termos culturais, é possível?
Sim, o mundo é global e é uma visão muito pequena e quase descabida deixar a internacionalização fora de uma estratégia a médio, longo prazo. Para a cultura então, é cada vez mais necessária. No Arte Institute, continuamos a acreditar que a cultura e as artes são a melhor forma de promover um país e a sua economia.
O facto de Portugal já ser reconhecido como um destino turístico é uma grande conquista e avanço para nós, mas isso não significa investimento, nem que somos um destino cultural turístico.
Falta apenas uma estratégia e uma visão coletiva para isso acontecer. Parece um passo de gigante, mas para o Arte Institute, que está há mais de 8 anos a promover esta fórmula no terreno, temos a certeza que é um pequeno passo.
Quais foram as resistências iniciais que encontrou e como as superou?
Eu costumo dizer que até quem tenta deitar um projeto abaixo, se cansa, e que não podemos ser nós os primeiros a cansar-nos. Nunca deixei de acreditar e quanto mais andava e concretizava, mais via que era possível.
As resistências são sempre as mesmas em Portugal: "é impossível"; "é uma ideia megalómana"; "o país não tem dimensão para isso" e o famoso “não querer fazer” mas, pior é alguém querer fazer.
No Arte Institute, já se provou que tudo o que tivemos a visão para fazer fizemos. Com muito trabalho, persistência, avançamos sempre com a mesma convicção e certeza. Quando me dizem, "nunca foi feito", respondo sempre "ótimo, então está na altura de ser feito". E até hoje, mesmo os RHI que me diziam que era muito ambicioso, não ficou nada por fazer.
O dinheiro público acomoda as Artes?
Obviamente que deve haver dinheiro público na Cultura, como há na Saúde ou na Educação. No entanto, nas artes, não podemos ter um único meio de financiamento. Temos que olhar para o lado, descobrir novas metodologias, designadamente com as empresas, que também precisam de nós para chegarem aos públicos e fazerem passar as suas mensagens. Tem que existir um diálogo que vá muito além de simplesmente existir uma troca de logotipos e dinheiro.
Acredita portanto no poder da Cultura ...
O poder da cultura vai muito além do aquilo que se imagina - designadamente em termos de retorno económico. Enquanto classe artística, somos iguais aos outros, ou seja, temos direito a subsídios, como acontece noutras áreas da vida do país, mas também temos obrigações.
É fundamental encontrar novas modalidades para não nos virem depois chamar de subsídio-dependentes. Compreender melhor os dias de hoje e de como vamos desenvolver o nosso modelo de negócio é importante. Isto não influi na criatividade, nem as empresas nos vão dizer como temos de fazer as coisas.
No meu caso, e no caso do Arte Institute, nunca alguém nos limitou em termos de liberdade artística. Temos que fazer diferente e não devem existir pruridos, porque toda a gente tem que pagar contas. E isto não acontece só em Portugal, acontece na Europa toda.
5 dicas para ser um grande empreendedor:
Ana Ventura Miranda tem o discurso de uma verdadeira empreendedora, capaz de transformar as dificuldades em oportunidades. Percebe o caminho a percorrer para fazer vingar um projeto. E neste campo, a cultura não será muito diferente do mundo dos negócios. O foco é o mesmo e aplica-se de igual maneira. Por isso, pedimos-lhe algumas dicas para os novos empreendedores. E afinal está tudo dentro de cada um.
- Ter paixão e empenho em tudo o que fazem;
- Fazer tudo pelas razões certas;
- Acreditar que é possível mesmo que todos digam o contrário;
- Não fazer nada ao caso. Ter uma estratégia;
- Trabalho, trabalho, trabalho.
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