Literacia financeira na infância: lições para cada idade

Casa e Família

Os mais novos passam o seu tempo em casa com os pais. Aproveite para lhes dar as primeiras noções de como gerir gastos e poupança. 30-04-2020

Com os miúdos também é preciso falar sobre dinheiro. Conheça algumas dicas para desenvolver a literacia financeira na infância.

Num mundo global e tecnológico, onde é cada vez mais comum o movimento do dinheiro através de aplicações digitais, e menos frequente a experiência com a manipulação do dinheiro em mão, os desafios em torno da educação financeira das crianças mostram-se algo complexos e exigentes.

Mas há algo que não muda. Também neste processo o mais importante será educar pelo exemplo, pois de nada adiantará conversar com o seu filho sobre o valor do dinheiro, a importância da poupança e da gestão de um orçamento familiar se o bom exemplo não vier de casa.

Quanto mais cedo começar a sensibilizar os mais pequenos para o valor do dinheiro e da importância da literacia financeira para um futuro mais seguro, melhor. Estar familiarizado com alguns termos e práticas relacionadas com o uso do dinheiro ajuda a tornar o processo mais natural e sem tabus.

Falar sobre como se ganha dinheiro; falar sobre o custo do que se consome ou mostrar, na prática, como gerir uma mesada facilita a que os valores sejam interiorizados. Tudo na dose certa e com a linguagem adequada a cada faixa etária.

Para o ajudar a refletir sobre estas questões, preparámos um guia por idades, que pode vir ser útil no processo de educar financeiramente os seus filhos.

 

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Como ajudar os seus filhos a desenvolver competências financeiras

 

Dos 4 aos 8 anos de idade

As lições a ensinar:

  • De onde vem o dinheiro
  • Os primeiros passos para poupar

 

Nesta fase, é aconselhável que as crianças comecem a ter algum contacto com o dinheiro. É importante começar a abordar a origem do dinheiro, ou seja, como se ganha dinheiro, e a partir daí começar a dar os primeiros passos para ensinar a poupar.

Imagine que o seu gostava de ter um determinado brinquedo. Porque não acordar uma poupança para o adquirir? Pode oferecer-lhe um porquinho mealheiro transparente, para que ele se aperceba que o dinheiro está a acumular e até dar-lhe espaço para propor formas criativas de ‘ganhar’ algumas moedas.

Por exemplo, ilustrar uns postais para a família, que podem contribuir com alguns euros em troca; ou comprar rebuçados e revendê-los à família com uma pequena margem de lucro. São meras dicas que deve saber adaptar à sua própria realidade e à personalidade do seu filho. Cada criança, será uma criança.

Tenha apenas atenção ao valor do brinquedo, garantindo que não é demasiado caro, pois poderá desmotivá-lo para a poupança.

O importante é que o seu filho sinta que não basta pedir. Estabeleça este compromisso com ele e, quando conseguir reunir o dinheiro, compre-lhe o brinquedo (mesmo se faltar alguns euros). Acompanhe e incentive. Sobretudo, não falhe com a sua palavra. É fundamental que o tempo de espera da criança venha ser, efetivamente premiado.

 

Dicas para transmitir bons valores financeiros às crianças

  1. Adotar esta tarefa como uma missão familiar a ser trabalhada no dia-a-dia
  2. Abordar a origem do dinheiro e a forma de ganhar dinheiro
  3. Explicar a diferença entre querer comprar algo e precisa comprar algo
  4. Mostrar bons exemplos e práticas financeiras saudáveis
  5. Permitir que o seu filho manuseie o dinheiro, por exemplo, deixe-o receber o troco no restaurante e faça com ele as contas
  6. Dar ao seu filho um mealheiro e uma semanada, ou um pequeno montante de dinheiro semanal. Apenas algumas moedas para que ele possa experimentar o exercício de poupar.
  7. Incentivar o seu filho a andar com o seu próprio dinheiro e em alguns momentos usá-lo para pagar pequenas coisas
  8. Estimular o seu filho a fazer pequenos contributos para as despesas ou poupanças familiares. Por exemplo, participar simbolicamente na gorjeta do restaurante.

 

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Dos 09 aos 12 anos

Lições a ensinar:

  • Fazer escolhas financeiras
  • Poupar com uma finalidade

 

Nesta fase, é importante que o seu filho se aperceba do conceito de escolha, tal como da consequência dessa escolha. Por isso, é importante que comece a desenvolver a capacidade de distinguir um bem essencial de um bem secundário.

Ao confrontá-lo com a necessidade de uma decisão de escolha entre dois bens, tente intrometer-se o mínimo possível, dê-lhe espaço para pensar por si próprio.

Para que este conceito de escolha seja progressivamente interiorizado, pode deixar o seu filho participar em algumas decisões financeiras do dia-a-dia. Por exemplo, quando for ao supermercado peça-lhe ajuda para escolher os produtos a comprar e incentive-o a comparar os preços entre marcas.

À medida que ele for fazendo as suas escolhas, converse e questione-o sobre o assunto. “Será que esses produtos são mesmo necessários?”; “Não seria melhor optar por artigos mais prioritários?”

Nesta idade, as crianças já terão algumas noções sobre a importância da poupança e, após terem passado a fase de alcançar objetivos a curto prazo, esta é a altura ideal para prepará-los como vista a alcançar objetivos de médio e longo prazo através da poupança.

Vamos considerar que andam interessados em comprar um tablet ou um outro qualquer gadget. Como este tipo de artigos exigem um grande esforço financeiro, por que não conversar com ele sobre o conceito de juros? Isto é, se é fundamental amealhar dinheiro, também é importante saber como fazê-lo crescer.

Familiarize-o com o funcionamento, por exemplo, das contas-poupança ou dos depósitos a prazo e, progressivamente, converse com ele sobre a diferença entre cartões de crédito e débito ou sobre outras aplicações financeiras.

Este também é um bom momento para introduzir o conceito de economia doméstica e as suas contrapartidas para a poupança. Rapidamente poderá estar mais atento quando as luzes ficam acesas, ou a estar mais consciente da necessidade de tomar banhos menos demorados, de usar menos os dados móveis do telemóvel ou mesmo de contrariar o desperdício alimentar.

Nesta fase, poderá até estabelecer um concurso de poupança em relação às faturas da água, luz e gás. Se o valor destas faturas diminuir no mês seguinte, poderá dar-lhe esse valor que foi poupado.

 

Dicas para ajudar o seu filho a fazer boas escolhas e a conseguir poupar

  1. Dar uma mesada, mesmo que simbólica, ajudará na gestão prática do dinheiro e fará com que a criança sinta mais responsabilidade pelas suas escolhas. Se gastar o dinheiro antes de terminar o mês, não lhe dê mais. É uma forma de ir aprendendo pequenas lições com os seus pequenos erros. Entre os especialistas não há um consenso sobre o valor concreto, apenas que deve ser adequado à idade e maturidade da criança assim como ao tipo de despesas a suportar (por exemplo, transportes, alimentação, vestuário).
  2. Estimular o seu filho a ganhar o seu próprio dinheiro e, assim, conseguir complementar a mesada e poupar mais, é uma forma de ensinar o valor do dinheiro. Pode, por exemplo, remunerar simbolicamente algumas tarefas domésticas, adequadas à idade da criança.
  3. Explicar que as compras online são feitas com dinheiro real.
  4. Deixar que os seus filhos saibam o valor das despesas domésticas, da conta de água, luz, renda, combustível.
  5. Estimular a reflexão sobre o preço dos bens e serviços, questionando se é caro ou barato.

 

 

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Dos 13 aos 18

Lições a ensinar:

  • O valor do trabalho
  • O valor do dinheiro

 

À medida que o seu filho se vai tornando um adolescente e jovem adulto, poderá começar a sensibilizá-lo para conceitos financeiros mais complexos.

Por exemplo, se tem crédito habitação ou um crédito automóvel explique-lhe a responsabilidade das prestações mensais que tem para pagar, assim como o seu peso no orçamento familiar (ou seja, a taxa de esforço).

O conceito de crédito em si é fundamental para que o seu filho perceba que os créditos podem ser bons instrumentos de gestão financeira, desde que bem planeados e geridos - e de que o dinheiro não é emprestado sem contrapartidas.

Nesta idade é natural que o seu filho esteja mais predisposto a pensar em formas de rendimento, até porque as necessidades de consumo também aumentam. Incentive-o, por exemplo, a aceitar um trabalho sazonal ou a ficar responsável por certas tarefas domésticas em troca de um pequeno salário.

É importante que o seu filho perceba a relação entre o tempo dedicado ao trabalho, o nível de exigência e o valor que recebe de salário. Nesta fase também, é importante incentivar o jovem  a contribuir financeiramente, ainda que de modo simbólico, com alguma despesa da casa ou passar a assumir uma despesa pessoal que antes era financiada pela família.

 

  Dicas para ensinar um adolescente a ter responsabilidade e sabedoria financeira

  1. Encorajar a ter uma ocupação durante as férias escolares ou alguma forma de rendimento a partir de conhecimentos ou habilidades pessoais. Por exemplo, dar explicações ou aulas de um instrumento musical.
  2. Gradualmente, ir adicionando responsabilidades financeiras à sua vida.
  3. Ajudar o seu filho a gerir e planear os gastos mensais e a poupar.
  4. Estimulá-lo a fazer planos e ajudá-lo a criar uma estratégia de poupança para concretizá-los.
  5. Incentivá-lo a estudar e a pesquisar sobre investimentos financeiros.
  6. Ensinar o poder da literacia financeira desde cedo.

 

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