Economia do Mar

Economia do Mar: saiba por que é um setor estratégico para Portugal

Negócios

Rúben Eiras da Associação Empresarial da Economia do Mar fala sobre oportunidades e desafios desta fileira. 10-08-2020

Conversámos com Rúben Eiras, da Associação Empresarial da Economia do Mar, sobre oportunidades e desafios da Economia do Mar.

A Economia do Mar, em Portugal, é um setor em franco crescimento, muito próximo de atingir os 5% do PIB. A nível do valor acrescentado bruto, já se situa nos 4%. Em entrevista ao Saldo Positivo, Rúben Eiras, que exerce as funções de coordenador da Economia Azul do Fórum Oceano - Associação Empresarial da Economia do Mar, fala-nos sobre as diferentes áreas que integram esta economia e sobre o seu potencial de investimento.

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A Economia do Mar em transformação

A crise gerada pela pandemia por Covid-19 acelerou uma série de mudanças na Economia Azul, que tem vindo a registar um crescimento contínuo na segunda metade desta década.

O anterior diretor-geral da Política do Mar não tem dúvidas de que “o primeiro embate que nós vamos viver será muito negativo, mas a verdade é que está a criar um espaço para fazer determinado tipo de mudanças que de outra forma levariam mais tempo a ser feitas”.

Rúben Eiras considera que “há muitos negócios e muitas indústrias que vão desaparecer, das emergentes às antigas. Mas é um processo de destruição criativa, pois vai criar um espaço muito interessante para que novas indústrias emerjam com outro tipo de paradigma”.

Quando falamos de Economia Azul falamos de uma economia que abrange áreas muito diversas, como a pesca, a aquacultura, a indústria de transformação de pescado, o setor dos portos, do turismo, da náutica de recreio, do shipping (transporte de mercadorias), da construção naval, da energia, da ciência e tecnologia e da extração de minerais.

Para Rúben Eiras, esta é uma área com muito potencial, no entanto, adverte que “há algo que tem de mudar no modelo. A Economia do Mar tem de ser sustentável. Isto significa que o impacte ambiental de todas as atividades tem de ser mitigado ou eliminado. Atualmente, os projetos quando são pensados têm de ser pensados de forma integrada com o ecossistema. Temos de pensar em formas de produzir e eliminar o impacto ambiental, em simultâneo. E o mercado mostra que quem faz investimentos que cumprem critérios ambientais e sociais ganha mais dinheiro”.

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Os setores da Economia do Mar com maior potencial de crescimento

Rúben Eiras, que já exerceu as funções de gestor de Ciência e Tecnologia na Direção de Investigação e Tecnologia da Galp Energia, revela quais os setores que têm, na sua opinião, maior potencial de crescimento, em Portugal, seguindo um modelo de sustentabilidade:

 

Aquacultura sustentável

A União Europeia, no último relatório da Economia Azul, classificou o setor da aquacultura como um setor totalmente dissociado do aumento das emissões de CO2.  Por isso, este é um setor que apresenta “imenso potencial” e permite colocar no mercado uma grande diversidade de espécies.

Rúben Eiras, que foi diretor do Programa Segurança Energética da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, defende a criação de modelos de aquacultura multitrófica, que consistem em replicar o ecossistema. Neste modelo, coexistem diferentes espécies de pescado e bivalves, num ambiente equilibrado, o mais autossustentável possível, através da recriação do que acontece no meio natural.

Deve apostar-se em “criar produtos de alta qualidade, em que não é preciso gerar tanta produção em massa, para ter lucro”. A título de exemplo explica que “enquanto uma dourada, ou um robalo se vende a cinco euros no mercado, um lírio (ou charuteiro, como também é conhecido) de dois quilos e meio é vendido a 60 euros no mercado. E o lírio é um pescado que existe endogenamente no nosso mar e que se presta à aquacultura. Portanto, um lírio neste momento vale mais do que dois barris de petróleo”.

 

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Não podemos esquecer que Portugal não é só Portugal continental, temos também os arquipélagos dos Açores e da Madeira com potencialidades totalmente diferentes. Portanto, “temos aqui uma frente muito forte para explorar”.

A aquaculturamultitrófica em off-shore, ou seja, em mar aberto, “com jaulas submersíveis, é a melhor solução para o nosso mar que é muito agitado e com forte ondulação marítima”, explica Rúben Eiras. E aqui há também oportunidades de negócio na manutenção das jaulas, aluguer dos navios de operações para fazer a manutenção das jaulas e recolha do pescado. Também no que concerne à redistribuição do pescado “há ainda muito para fazer”.

 

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Área portuária e do shipping

Na área portuária e do shipping, a oportunidade “está na digitalização e automação dos portos, bem como na melhoria do desempenho ambiental, em conjunto com a descarbonização do shipping”.

Descarbonizar o shipping significa os navios deixarem de utilizar o fuel e começarem a usar tecnologias que reduzam as emissões de CO2 ou as eliminem totalmente, usando, por exemplo, o gás natural, eletricidade, hidrogénio, entre outros. Preparar os portos com postos de abastecimento que utilizem este tipo de tecnologias vai fazer com que recorram a Portugal para se abastecer.

 

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Turismo

Este é um setor que já está em crescimento, mas que ainda vai aumentar o seu potencial, por isso “é preciso criar novos modelos de negócio”.

Um dos efeitos da pandemia na náutica de recreio foi um crescimento da procura de embarcações de recreio para utilização nas férias e ocupação de tempos livres. Para Rúben Eiras é fundamental “democratizar a náutica de recreio, tornando as embarcações mais acessíveis. Neste setor, há um trabalho a nível do modelo de negócio que é preciso fazer” e lança um desafio: “por exemplo, existe uma Uber das viaturas, será que pode existir uma Uber das embarcações?”

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Pesca

Para o coordenador da Economia Azul do Fórum Oceano, esta é uma área na qual tem de haver, efetivamente, mudanças. A pesca de arrasto, cada vez mais, tem de ser reduzida e muito controlada, porque o arrasto destrói os ecossistemas.

Porém, os pescadores também têm de ganhar dinheiro. Por isso, é preciso encontrar um equilíbrio. “E é aqui que entram as tecnologias digitais”, esclarece, acrescentando “a tecnologia digital no mar já permite identificar cardumes e o arrasto é feito porquê? O arrasto é feito porque nós somos cegos no mar. Nenhum humano consegue ver dentro do mar. Portanto, o digital ajuda-nos a ver o mar. Já existe aquacultura de precisão, é preciso fazer esse trabalho na pesca. O digital tem ainda a vantagem de permitir combater a pesca ilegal”.

 

Energias renováveis marinhas

No que diz respeito à energia dos oceanos, Portugal vai ter o maior parque eólico flutuante offshore do mundo, o Windfloat Atlantic. A operar em Viana do Castelo, inclui tecnologia de ponta para reduzir o impacte ambiental e produzir energia eólica em alto mar. Também a tecnologia para a extração da energia das ondas e das marés já está em desenvolvimento no nosso país.

Esta também “é uma área onde há muitas oportunidades, nomeadamente para empresas de manutenção e produção de componentes a nível industrial”. 

 

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Tecnologia

A tecnologia é transversal a todos os setores, mas é uma área na qual há ainda muito a fazer: “É preciso digitalizar a área das pescas, aquacultura, portos, shipping e energia. A digitalização é uma oportunidade para startups e microempresas”.

 

Aquacultura de macroalgas e reflorestação marinha

Desde tempos imemoriais, existe no Norte do país, em Aveiro, o moliço que é uma mistura de sargaço com macroalgas. Trata-se de um fertilizante natural que também é produzido, na Ásia, há muitos anos.

As macroalgas podem ser cultivadas como uma alface ou outra planta e têm uma grande vantagem: absorvem imenso CO2, e têm múltiplas aplicações, ou seja, podem ser processadas para fazer farinhas, óleos, alimento para peixes ou podem servir para alimentação humana.

Portugal “tem uma costa muito interessante para este tipo de indústria. Aliás, exemplo disso mesmo é uma empresa que existe no Norte do país, que está a prosperar nesta área”.

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Extração de minerais

O mar português tem imensos repositórios de minerais raros, que são fundamentais para desenvolver tecnologias de energias renováveis e para a utilização na área digital.

A extração de minerais é polémica, devido ao impacto ambiental que causa. Não obstante, para substituir o petróleo e o gás vamos precisar de tecnologias de energias renováveis que para serem capturadas dependem de metais raros.

Rúben Eiras conclui: “o nosso mar tem depósitos destes minerais. Portanto, a riqueza está lá, mas tem de ser extraída de uma forma sustentada. E isso cria uma oportunidade, que é criar a tecnologia para fazer isso”.

 

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Tem um negócio ou quer investir na Economia do Mar?

 

Conheça os apoios e iniciativas

Fundo Azul
Se procura apoios e iniciativas no âmbito da Economia do Mar, visite a página do Fundo Azul.Aqui, poderá encontrar as informações de que precisa sobre fundos públicos nacionais, europeus ou outros, que podem apoiar os seus projetos.

Recorde-se que o Fundo Azul é um mecanismo de incentivo financeiro criado pelo Governo, que visa apoiar o arranque de muitas das atividades ligadas à Economia do Mar, da proteção do património natural, da investigação científica e da investigação e desenvolvimento empresarial.

Está enquadrado legalmente pelo Decreto-Lei n.º 16/2016 de 9 de março, diploma que define as principais diretrizes do financiamento ao desenvolvimento da Economia do Mar, tal como os seus mecanismos.

 

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Programa Crescimento Azul

No âmbito do desenvolvimento de negócios, inovação e PME, destacamos o Programa Crescimento Azul, gerido pela Direção-Geral de Política do Mar do Ministério do Mar, que está alinhado com as EEA Grants 2014-2021. Aconselhamos a análise das linhas orientadoras do programa, dos projetos pré-definidos e das candidaturas que estão a decorrer.

Também no Calendário de Avisos, terá uma noção do global dos fundos destinados a cada concurso e da sua data de abertura. Especificamente no domínio do Desenvolvimento de Negócios, Inovação e PME, o próximo concurso abrirá já em outubro de 2020.

 

Programa Operacional Mar 2020

Ainda neste fórum, importa também destacar o Programa Operacional Mar 2020, focado na competitividade do setor das pescas, aquicultura e transformação e que, neste momento, já conta com alguns milhares de projetos aprovados na área da Economia do Mar. No site encontrará toda a informação de que precisa para apresentar uma candidatura.

 

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