Tempo estimado de leitura: 7 minutos
Sharenting é um termo que resulta da junção das palavras inglesas share (partilha) e parenting (parentalidade) e consiste na publicação de fotografias e vídeos dos filhos nas redes sociais. Contudo, este momento, aparentemente inofensivo, pode acarretar riscos e ter consequências graves para as crianças.
A partilha de conteúdos relacionados com os filhos começa muitas vezes com a simples publicação de uma ecografia como meio de anunciar a gravidez, seguindo-se fotos de momentos da vida da criança como, por exemplo, o primeiro aniversário ou a entrada na escola.
Leia também:
- 10 direitos no regresso ao trabalho após o nascimento de um filho
- O que é o cyberbullying e como ajudar as vítimas?
De acordo com um estudo de 2018 publicado pela comissária inglesa para os direitos das crianças, estima-se que os pais publiquem cerca de 1 300 fotos e vídeos do seu filho até aos 13 anos.
Mas quais os riscos associados a esta exposição? Que implicações pode ter quando os seus filhos forem adultos? E como partilhar conteúdos em segurança e com responsabilidade?
Leia também:
- Orientação vocacional e profissional: como podem os pais ajudar?
- Ensino individual e ensino doméstico: quais as regras?
Os riscos do sharenting no presente e futuro
A divulgação da imagem e dados das crianças pode acarretar riscos imediatos, mas também pode ter implicações a longo prazo.
Colocar a segurança da criança em risco
Um dos principais riscos do sharenting está relacionado com questões de segurança. Ao publicar nas redes sociais os pais podem estar a fornecer informações importantes sobre a criança sem sequer se aperceberem disso.
Tirar fotografias em locais específicos, como por exemplo, à porta de casa ou da escola, pode ser o suficiente para revelar a morada ou estabelecimento de ensino. Esta informação permite o conhecimento das suas rotinas e facilita o acesso de criminosos à criança, colocando-a em risco.
Uma vez partilhadas, as imagens podem também ser descarregadas e utilizadas para uso indevido por parte de criminosos e predadores. Podem ser nomeadamente, utilizadas para a construção de perfis falsos em que desconhecidos publicam as fotos das crianças como se fossem seus filhos.
Leia também: Educação financeira: ensinar aos mais novos a importância do dinheiro
Criar uma imagem que irá ficar associada à criança
Antes de colocar uma fotografia ou vídeo nas redes sociais dos seus filhos lembre-se que uma vez na internet, para sempre na internet.
As crianças estão em processo de formação de identidade. Ao publicar fotografias da criança, por exemplo, com camisolas de apoio a causas ou partidos, estará a associá-la a valores com os quais ela pode não se identificar quando for adulta.
Documentar e partilhar situações embaraçosas ou constrangedoras, também pode revelar-se prejudicial. De facto, algumas fotos e vídeos que os pais consideram engraçados podem, mais tarde, desencadear situações de bullying por parte de colegas, com consequências nefastas para a autoestima da criança ou jovem.
A construção de uma pegada digital desde muito cedo, pode ter ainda consequências ao nível profissional. Algumas empresas já fazem uma pesquisa ostensiva da presença digital dos candidatos e o que foi partilhado no passado pode ser decisivo em processos de pré-seleção e recrutamento.
Leia também:
- As 10 dicas para uma boa entrevista de emprego online
- Saiba quais os direitos do trabalhador para cuidar dos seus familiares
Colocar em causa os direitos da criança
O direito à imagem e à privacidade constam da Constituição da República Portuguesa (artigo 26.º) e do Código Civil (artigos 79º e 80º). E embora, a lei não estabeleça regras específicas para a partilha de fotos de menores no contexto da internet e das redes sociais, entende-se que é um dever dos pais proteger e respeitar a imagem e a privacidade da criança.
A este propósito, em 2015, o Tribunal de Relação de Évora decidiu, no âmbito de um processo de regulação das responsabilidades parentais, que os pais deviam abster-se de partilhar fotografias da filha nas redes sociais.
A decisão, pode ler-se no acórdão, tinha como objetivo a “salvaguarda do direito à reserva da intimidade da vida privada e da proteção dos dados pessoais e, sobretudo, da segurança da menor no Ciberespaço.”
Para o Tribunal, respeitar estes direitos “é uma obrigação dos pais, tão natural quanto a de garantir o sustento, a saúde e a educação dos filhos”.
Leia também: Despesas de educação no IRS: saiba o que pode ou não deduzir
Cuidados a ter quando partilha fotografias dos seus filhos
Se para si é importante partilhar fotos dos seus filhos, então tome alguns cuidados que podem reduzir os riscos e consequências associados ao sharenting.
Antes de mais, reveja as suas definições de partilha nas redes sociais. Permita que apenas os amigos chegados e familiares possam ver as suas imagens. Mesmo assim, esteja ciente de que estes conteúdos podem ser descarregados ou partilhados pelos seus contactos.
Se possível, partilhe apenas fotos onde o rosto não é muito visível. Certifique-se de que a imagem não contém detalhes pessoais que possam claramente identificar a criança, como por exemplo a bata da escola com o nome bordado, a idade da criança no bolo de aniversário, entre outros. Caso queira publicar fotografias da festa de anos, faça-o uns dias mais tarde.
Leia também: Ensino individual e ensino doméstico: quais as regras?
Se utilizar a câmara do telemóvel, desative a geolocalização e ao partilhar nunca identifique o local onde tirou a foto. Tenha ainda em atenção que alguns conteúdos, sobretudo quando publicados regularmente, permitem perceber as suas rotinas ou os locais que frequenta habitualmente.
Não partilhe imagens da criança sem roupa, por exemplo no banho ou na praia. E antes de tornar público seja o que for, pense se poderá embaraçar ou deixar o seu filho constrangido no futuro. Em caso de dúvida, não publique.
Leia também:
- Como defender-se da eventual subida das taxas de juro
- O grande guia da poupança
- Lixo eletrónico: o que fazer aos aparelhos em fim de vida?
- Como vender a sua casa sem ajuda da imobiliária?
- Europass: conheça a plataforma que ajuda a trabalhar na Europa
- Os 10 termos sobre empreendedorismo que precisa conhecer
- Divórcio e escrituras por videoconferência: como vai funcionar?
- Apoios sociais para idosos: quais são e como requerer
- O que faz subir o preço dos combustíveis?