Uso de telemóveis nas escolas

Telemóveis nas escolas: proibir ou permitir? Os prós e os contras

Formação e Tecnologia

A utilização de telemóveis nas escolas é um tema controverso, com argumentos a favor e contra. Saiba quais são. 25-01-2024

Tempo estimado de leitura: 6 minutos

Usar ou não usar telemóveis nas escolas? As opiniões dividem-se. De um lado, há quem defenda que os smartphones podem ser uma ferramenta útil no processo de ensino. Por outro lado, há quem argumente que os telemóveis não devem ser permitidos por serem uma distração, além de poderem ser utilizados para fins inadequados. Há ainda quem defenda que devem existir regras na sua utilização.

Em Portugal, há escolas que permitem o uso de telemóveis na sala de aula, desde que seja para fins educativos. Outras proíbem o seu uso na sala de aula, mas permitem que os alunos os utilizem nos intervalos ou em casa para trabalhos escolares. Recentemente surgiram alguns casos de escolas que começaram a proibir na totalidade.  Qual é, afinal, o melhor caminho a seguir?

 

Crianças, escola e telemóveis
O projeto Net Children Go Mobile, plataforma internacional que em Portugal é representada pela FCT e pela Universidade Nova, entrevistou 3 500 alunos em 2014, com idades entre os 9 e os 16 anos, de sete países europeus. Os resultados revelaram que os alunos portugueses estavam entre aqueles com maior liberdade para usar os telemóveis nas escolas. Em 2021, durante a pandemia COVID-19, um estudo realizado pela Boutique Research para a Hubside.Store referia que 95% das crianças portuguesas com 10 anos ou mais tinham o seu próprio telemóvel. Abaixo dessa idade, o número desce para 34%.

 

 

Usar ou não usar telemóveis nas escolas: o que dizem os especialistas

Há quem defenda a proibição e quem defenda a implementação de regras de utilização.

João Costa, professor catedrático e Ministro da Educação do XXIII Governo, referiu, em setembro de 2023, tratar-se de um tema complexo, pedindo, por isso, um parecer ao Conselho das Escolas. Elaborado no final de outubro, o parecer recomendou que fossem as escolas a decidir “pela imposição ou não de restrições à utilização do telemóvel no espaço escolar”, sendo que os conselheiros defendem a não proibição.

 

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A posição da UNESCO

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), no seu relatório de 2023 sobre a tecnologia na educação defende a limitação do uso de telemóveis nas escolas.
São apontados dois motivos principais para esta posição:

  • A proteção das crianças contra episódios de cyberbullying porque os telemóveis podem ser usados para intimidar ou assediar outros alunos;
  • As perturbações na sala de aula, uma vez que podem ser uma distração, prejudicando a concentração e a aprendizagem

A UNESCO recomenda que a utilização de telemóveis nas escolas seja exclusivamente limitada às atividades curriculares. No entanto, nos casos em que se perceba que esta integração não beneficia a aprendizagem ou perturbe o funcionamento das aulas, deve mesmo ser proibida.

Dependência e empatia

Alguns especialistas, como Carlos Neto, professor catedrático e investigador na Faculdade de Motricidade Humana, referem ainda o risco de sedentarismo e obesidade infantil, assim como a dependência online e a falta de contacto presencial relacionados com o não desenvolvimento de competências sociais como a empatia.

Ivone Padrão, psicóloga clínica e investigadora na área dos comportamentos e da dependência online, lembra que "o nosso cérebro precisa do toque, do cheiro, do contacto ocular que a tecnologia não permite". Na opinião desta especialista, é urgente que as escolas tentem encontrar uma solução que permita aos alunos viverem um equilíbrio entre os mundos online e offline.

 

O QUE A CAIXA PODE FAZER POR SI?
Além de um centro para a aquisição de competências, a escola oferece o contexto ideal para a socialização de crianças e jovens. Neste trajeto de preparação para o futuro das próximas gerações, existem outros fatores importantes ponderar.
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Tome Nota:
O tempo excessivo de ecrã em idade pediátrica tem vindo a ser associado ao subdesenvolvimento das capacidades físicas e cognitivas, contribuindo para a obesidade, problemas de sono, ansiedade e depressão.

 

Já o psicólogo Eduardo Sá afirma que crianças com menos de 12 anos não deviam ter telemóvel, nem na sala de aula nem no recreio. Em causa está o uso do telemóvel como distração quando o professor está a explicar ou quando se sentem aborrecidos na sala de aula. No recreio, defende que a socialização é fundamental, sendo preferível a ficar de olhos postos num ecrã dentro do ambiente escolar. 

 

O que diz a lei: os alunos podem usar tecnologia nas escolas?
Sim, mas em determinadas condições. No Estatuto do Aluno, Lei n.º 51/2012, Artigo 10.º é referida a proibição do uso de dispositivos tecnológicos nos locais onde ocorram aulas, atividades escolares ou reuniões com órgãos ou estruturas da escola. A exceção visa atividades expressamente autorizadas pela supervisão,  pelo professor ou pela pessoa responsável pela direção. Contudo, há já entidades escolares em Portugal, essencialmente privadas, que nos seus regulamentos têm incluída a limitação do uso de telemóveis durante os intervalos.

 

 

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Prós e contras dos telemóveis nas escolas

Os alunos devem usar telemóveis nas escolas? Não existe uma resposta definitiva a esta pergunta. No entanto, é unânime que os telemóveis devem ser utilizados de forma responsável, com o objetivo de potenciar os benefícios e minimizar os riscos.

Os prós e a sua utilidade didática

Os telemóveis podem ser uma ferramenta útil no processo de ensino e aprendizagem, pois permitem aos alunos:

  • Aceder a informação de forma rápida e fácil;
  • Colaborar em projetos com outros alunos;
  • Comunicar com os professores e colegas;
  • Aprender de forma autónoma;
  • Desenvolver competências digitais

 

Os contras

Os telemóveis também podem representar alguns riscos, como:

  • Distração;
  • Falta de concentração;
  • Cyberbullying;
  • Acesso a conteúdo inapropriado;
  • Leitura de fake news;
  • Dependência online.

 

Tome Nota:
O FOMO (Fear of missing out) é o medo de perder algo ou medo de ficar de fora, que pode levar à dependência online.

 

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Proibição ou negociação de limites?

Mais uma vez, as opiniões dividem-se entre especialistas, pais e professores. Há quem defenda a proibição de telemóveis nos espaços escolares. Exemplo é a petição pública Viver o Recreio Escolar, sem Ecrãs de Smartphones, iniciativa de um grupo de pais que propõe a revisão do atual estatuto do aluno quanto ao uso de smartphones nas escolas em prol da socialização das crianças nos recreios.

Mas, será que cabe ao Ministério da Educação legislar sobre este assunto? Para Rodrigo Queiroz e Melo, diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), esta questão é uma decisão pedagógica, que deve ser discutida e até promovida pelo governo, mas deve ser uma escolha de cada escola. O mesmo defende Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep). 

Há ainda quem defenda o estabelecimento de limites negociados com os alunos, como é o caso de Ivone Padrão e Carlos Neto que pensam ser necessário envolver os alunos numa "conversa democrática para estabelecer regras e limites".

 

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