Ikigai

Já conhece o seu Ikigai? Saiba como pode ser útil na carreira

Trabalho

Encontrar um rumo na carreira, sobretudo quem prepara o seu início, é determinante. É para isso que serve o Ikigai. Veja como. 22-12-2021

Tempo estimado de leitura: 12 minutos

Será o Ikigai o segredo para uma vida melhor? Conheça esta filosofia japonesa e saiba como aplicá-la no seu dia-a-dia.

Qual a relação entre uma ilha no Japão e um estudante universitário em Portugal? Se nunca ouviu falar emIkigai, talvez não perceba imediatamente a ligação. No entanto, esta filosofia japonesa pode ser útil para melhorar a saúde física e mental de quem está numa fase de decisões importantes, como explica a psicóloga Daniela Roda, especialista em Ikigai que falou com o Saldo Positivo.

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Mas o que é, afinal, Ikigai?

Na essência é uma palavra japonesa, que pode ser traduzida por razão de viver, ou a força motriz que nos faz acordar e viver cada dia. Ou, simplesmente, o propósito da vida.

Percebeu-se que Ikigai não era algo que exigisse estudo ou dedicação plena, mas apenas uma forma de encarar a vida, vivendo-a de um acordo com um propósito.

Um princípio que pode ajudar qualquer pessoa nas múltiplas valências da sua vida – nomeadamente na profissional. 

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O que dizem os especialistas?

O Ikigai, enquanto forma de autoconhecimento, pode ser aplicado em todas as fases da vida, mas pode ser especialmente importante nas alturas em que se tomam decisões críticas como é o caso do início da idade adulta.

Daniela Roda, Psicóloga Clínica e da Saúde, tem ajudado pessoas de todas as idades na descoberta do Ikigai. No caso concreto dos estudantes universitários, há várias razões para que o Ikigai tenha uma utilidade acrescida.

“Sendo esta uma fase de preparação para a vida adulta, é um tempo de ensaio e descoberta para o verdadeiro comprometimento em cada uma das áreas da vida futura. É um tempo de formação, não só académica, mas também para a tomada de grandes decisões no amor, na carreira, no estilo de vida”, explica a responsável pelo site O Seu Ikigai.

É, também, uma altura em que “o principal marco é poderem fazer escolhas de forma mais autónoma e, com isso, traçar os seus próprios caminhos”. Ou seja, nesta fase descobrir a tal força motriz pode ser fundamental para clarificar as escolhas a fazer.

“Saber qual é o meu Ikigai é estar ciente do que é que me faz querer levantar todos os dias de manhã com vontade de abraçar o dia. É compreender o que me dá a energia e a confiança necessárias para enfrentar e resolver os desafios do dia-a-dia comigo e com os outros”, defende.

Na sua opinião, “quanto mais cedo a pessoa perceber quais são os seus motivos de vida, mais facilmente será assertiva na orientação da sua própria vida e na escolha do que a completa verdadeiramente”. Os benefícios desta descoberta ultrapassam as questões relacionadas com as opções profissionais, como acrescenta, “aquilo que o Ikigai nos traz é a possibilidade de alcançarmos um estilo de vida com maior bem-estar, mais equilíbrio e felicidade. Um estilo de vida em que a pessoa se identifica sinceramente e é fiel a si própria”.

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Como descobrir qual o seu Ikigai?

A descoberta é um caminho pessoal, já que, como lembra Daniela Roda, “existem tantos Ikigai quanto pessoas”.

“Cada um de nós tem o seu, tão único como genuíno. Por isso, descobri-lo é uma viagem que começa e termina em cada um, sendo que é na prática diária e na relação com os outros que são feitas as maiores descobertas pessoais. É através das atividades da vida que se desenvolve a consciência de quem somos, do que verdadeiramente queremos e do que garantidamente nos faz mal. E é deste autoconhecimento que surge a descoberta do Ikigai”.

Para a psicóloga, “o primeiro requisito para descobri-lo é querer e fazer mesmo por encontrá-lo”. Por onde começar? A resposta é simples: “Dentro de si, porque o Ikigai é fruto da consciência de nós próprios, ou seja, do autoconhecimento. Por isso, quanto melhor se conhecer, melhor se vai entender o que traz sentido à sua vida, o que o torna mais forte e o que o enfraquece”.

Os caminhos para essa descoberta começam, segundo a especialista, por “investir no conhecimento da pessoa que se é e da sociedade e cultura em que se vive”.

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A inércia é um obstáculo a esta descoberta. Daniela Roda aponta alguns caminhos que os jovens (e, na verdade, as pessoas de qualquer idade) podem seguir: “Estar em casa à espera do tempo passar é tudo o que não se deve fazer. Simplesmente porque isso não acrescenta qualquer valor ao conhecimento sobre a vida lá fora e, portanto, não aumenta a consciência sobre a posição da pessoa perante a vida”.

Por isso, considera que “é preciso ter atividades diárias e estar atento às conclusões que podemos tirar de cada uma delas. E arriscar, arriscar …e estar atento! Porque mesmo quando percebemos que as decisões que tomámos foram erradas, essa informação é igualmente útil e infinitamente mais valiosa do que não fazer nada”.

A especialista explica que “a análise individual tão necessária para a descoberta do Ikigai é uma competência que se desenvolve na vida prática, na relação com os outros e consigo mesmo, todos os dias”. E como “não é de todo fácil conseguir fazer estas reflexões pessoais tão profundas”, existe sempre a possibilidade de “investir numa orientação profissional, encontrando este reforço na psicologia clínica e da saúde, na psicanálise, no coaching, entre outros”.

Qual a relação entre o Ikigai e a sua saúde?

O Ikigai já foi estudado e as conclusões científicas parecem comprovar que ter uma razão para viver é bom para a saúde.

O Estudo Centenário de Okinawa começou em 1975 e analisou a dieta, hábitos de exercício físico, genética, comportamento e padrões sociais dos habitantes locais. As conclusões mostram que os locais, além da longevidade, têm menos 80% de hipóteses de sofrer de doenças cardíacas ou oncológicas

Outro estudo, feito por membros da Escola de Medicina de Tohoku, no Japão procurou determinar a relação entre o Ikigai e o risco de mortalidade. Concluiu que os fatores psicológicos desempenham um papel importante na longevidade.

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Dicas para encontrar o Ikigai

1. Perceber o que gosta de fazer

Sendo o Ikigai a razão de viver, uma das principais formas de o levar para o dia-a-dia é identificar as coisas que gosta de fazer. Estar com os amigos, dar uma caminhada pela manhã, cozinhar, dançar, ajudar a sua família em algumas tarefas são exemplos de situações que podem ser fonte de prazer e que, por isso, tornam a sua vida mais agradável. Se gosta, tente fazê-las mais vezes e faça delas a razão para viver cada dia.

 

2. Começar pelas pequenas coisas

O Ikigai não remete imediatamente para os grandes objetivos, como encontrar um bom emprego ou ter uma carreira de sucesso. Sendo objetivos importantes, não podem dominar a sua vida, sob pena de se tornarem algo tiranos.

Pode começar pelas pequenas coisas (por exemplo, comer de forma mais saudável, ler mais, passar menos tempo nas redes sociais). À medida que estes pequenos objetivos vão sendo alcançados, é mais fácil avançar para metas maiores.

Se ainda não encontrou os seus objetivos e ainda não sabe o que quer, pode começar por definir o que não quer. A partir daí é mais fácil descobrir o Ikigai.

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3. Viver no presente

Só poderá tirar partido de cada momento que lhe dá satisfação se o viver realmente. Isto é, estando presente naquela atividade, em vez de pensar no que vai fazer a seguir. Este é outro segredo do Ikigai: viver no presente.

 

4. Perceber que o Ikigai é pessoal

Os seus objetivos e os seus gostos não têm de ser iguais aos das outras pessoas. Por isso, o Ikigai é pessoal e único. Mais ainda porque não é algo que alguém possa descobrir por si. Além disso, um Ikigai não precisa de aprovação por parte dos outros e não se centra nas expectativas externas, mas nas suas.

 

5. Perceber que pode ter vários objetivos

Ninguém tem apenas um objetivo na vida e também não é necessário ter só uma razão para viver. Assim, pode descobrir que tem um Ikigai maior, que pode ser, por exemplo, fazer um estágio fora do país. Essa será a força motriz para estudar, para ir às aulas e para procurar ter boas notas. Mas depois pode ter vários Ikigai: conseguir jogar futebol com os amigos duas vezes por semana, ver a sua série preferida antes de dormir ou tomar um banho relaxante ao chegar a casa. 

Quer saber mais sobre Ikigai?

Héctor García e Francesc Miralles são dois dos responsáveis pela divulgação do Ikigai no Ocidente. Além de terem publicado livros sobre o tema (já traduzidos para Português), também fazem cursos online no Ikigai Institute Ken Mogi, neurocientista japonês, também se interessou pelo Ikigai. A sua obra “O Pequeno livro do Ikigai”, disponível em Português, já vendeu mais de um milhão de exemplares.

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