O trabalho remoto está a pôr à prova a capacidade de liderança das chefias. Quais os desafios e boas práticas a adotar?
A pandemia e as restrições para evitar a propagação do novo coronavírus obrigaram a uma reinvenção das dinâmicas de trabalho nas empresas. A definição de uma política de trabalho remoto adaptada às exigências do contexto passou a ser condição sine qua non da nova realidade laboral, acarretando, por sua vez, um conjunto de novos desafios.
Isto é, se por um lado, o regime de teletrabalho obrigou muitas empresas a unir esforços e garantir as condições necessárias para promover a produtividade e motivação dos seus trabalhadores; por outro, desencadeou um conjunto de novos desafios que põe constantemente à prova a capacidade de liderança das chefias.
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Como fazer o mesmo trabalho de forma completamente diferente? Como motivar os colaboradores que se veem diariamente privados dos seus referenciais e padrões habituais? Como construir e manter relações fortes com as pessoas à distância? Como assegurar o cumprimento de objetivos e alcançar os resultados desejados?
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Será o trabalho remoto o futuro da realidade laboral?
Um estudo recente da PWC, revela que o trabalho remoto veio para ficar, ainda que a maioria das empresas não esteja devidamente preparada para abandonar completamente o espaço de escritório. Aliás, a tendência passa mesmo por adotar soluções de trabalho híbridas, conciliando numa mesma semana de trabalho, o trabalho remoto e o trabalho presencial.
Acredita-se que a combinação destes dois regimes de trabalho pode trazer vantagens não só para os trabalhadores, mas também para as próprias organizações.
Os trabalhadores poderão fazer uma melhor gestão do seu tempo e, por conseguinte, ter ganhos de produtividade. O tempo útil que vai deixar de ser gasto em deslocações pode passar inclusive a funcionar em benefício próprio, promovendo a sua qualidade de vida.
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As empresas, por seu lado, podem beneficiar da maior satisfação e conforto dos seus trabalhadores, ao usar o trabalho remoto como fator motivacional. Importa também não esquecer o potencial de poupança para as empresas. Quer em termos de custos com rendas (potencialmente, deixa de haver necessidade de ter escritórios de grandes dimensões ou workstations fixas), quer em termos de custos operacionais.
O estudo reporta-se, é certo, à realidade empresarial norte-americana, mas, num mercado global, esta realidade continua a ditar tendências. Tanto é assim, que um relatório da AON Portugal, publicado em janeiro de 2021, que contou com a participação de 156 empresas, das quais 58,82% portuguesas, revela que, no período pós-pandemia, as empresas perspetivam um número de dias de home office a disponibilizar aos seus trabalhadores, com 34% das empresas a apontar para três dias de teletrabalho, seguidas de outras que preferem aplicar cinco dias (24%), dois dias (23%), um dia (13%), e quatro dias (6%).
O mesmo relatório aponta ainda os desafios a montante do regime de teletrabalho. A preparação de chefias é um dos desafios apontados por 63,4% das empresas e a gestão dos trabalhadores é outro dos desafios apontados por 54,5% das empresas.
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Liderar à distância: o que dizem os especialistas
Se lidera uma equipa, com certeza concordará que não é propriamente a proximidade física que dita a maior ou menor capacidade de liderança. Um dos principais desafios poderá ser, na nossa perspetiva, o da comunicação. A interação cara a cara é um procedimento a manter (ainda que virtualmente), porém, talvez seja necessário adotar uma comunicação mais assertiva, clara, transparente, para que não haja lugar a interpretações dúbias.
A gestão de prioridades, a delegação de tarefas, a sua capacidade de resolução de problemas à distância também podem ser fatores decisivos para manter os níveis de produtividade e de motivação da equipa de trabalho.
No que diz respeito à delegação de tarefas, o grande desafio é dar o voto de confiança aos seus colaboradores. Acreditar no seu desempenho é uma prova para si mas também para os próprios colaboradores. Lembre-se que falta de confiança nos seus colaboradores, indicia sobretudo uma enorme falta de confiança em si próprio.
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André Fontes, consultor e professor de Gestão de Talento e Liderança na Porto Business School e IPAM, considera a este propósito que “é preciso muito diálogo, muita sinceridade e muita disponibilidade (...), uma vez que os vínculos estão a ser substituídos por eficácia e pelo acúmulo de bens”. Por esta razão, o especialista entende que, neste contexto, é necessário “dar mais possibilidades criativas e promover o sentimento de pertença (...)”.
Rui Aspas, especialista em desenvolvimento de Recursos Humanos, entende que “o principal desafio que as organizações enfrentam relativamente a um modelo laboral que já existia, mas que a pandemia veio impor, prende-se com a necessidade de readaptação das jornadas de produtividade e flexibilização de horários, assim como reforço da confiança nos colaboradores e na implementação de métricas a serem cumpridas, com vista ao reforço e consolidação dos objetivos delineados”.
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Este especialista considera ainda que “o presentismo do anterior modelo deu lugar a um modelo mais assente na cooperação entre os diferentes departamentos e na aplicação de sistemas de motivação assentes numa liderança mais democrática e ao mesmo tempo com um estilo coach”.
“Está provado que os índices de produtividade das empresas que se reinventaram neste contexto aumentou de forma considerável sendo que algumas estão mesmo a ponderar desenvolver um sistema totalmente remoto ou então um regime híbrido, mantendo desta forma o elo que anteriormente só era possível manter quando o trabalho era feito de forma mais presencial”.
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10 boas práticas na gestão de equipas em teletrabalho
O consultor e gestor André Fontes entende que - na gestão de equipas de trabalho à distância -, é necessário cultivar as seguintes boas práticas:
1. Promover culturas de feedback, de diálogo. Entende que deve dar-se mais atenção às pessoas;
2.Simplificar processos, no sentido de desburocratizar procedimentos.
3. Transmitir confiança, ser muito mais participativo do que diretivo nas abordagens com as equipas;
4. Criar empatia, compreender antes de agir;
5. Dedicar tempo ao autoconhecimento, uma vez que os líderes precisam de perceber bem quem são para, depois, se entregarem aos outros.
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Já na opinião de Rui Aspas, existem algumas boas práticas que podem ser implementadas para que a liderança e gestão de equipas à distância seja garantida de forma a manter ou aumentar os índices de motivação e produtividade dos colaboradores. Nomeadamente, as seguintes:
1. Comunicar de forma regular com os colaboradores com vista a alinhar os passos relativos a uma gestão de expectativas e cumprimento dos objetivos, perceber em que medida o colaborador pode melhorar o seu desempenho e realizar ações de team building virtual. Neste campo é de bom-tom também manter a comunicação via email com formações e iniciativas da organização, assim como realizar palestras online com convidados de outros setores de atividade para apoiar na definição das metas e, ao mesmo tempo, proporcionar atividades de envolvimento com vista ao reforço de competências.
2. Manter o hábito de dar feedback construtivo para apoiar o colaborador no seu desempenho diário e ajudá-lo a melhorar a sua produtividade.
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3. Atribuir responsabilidades na execução de tarefas para mostrar que confia no colaborador na realização daquele trabalho. Mostra, desta maneira, que a liderança da empresa está totalmente empenhada em assegurar, a cada profissional, um papel mais ativo e de destaque no crescimento da organização.
4. Flexibilizar a gestão do tempo, construindo horários que permitam ao colaborador conciliar a vida familiar e social com a vida profissional. Estabelecer pausas regulares de manhã e à tarde (por exemplo, uma pausa de 15 minutos a meio da manhã e outra de 15 minutos a meio da tarde sem esquecer a hora de almoço de uma hora) pode ser uma boa forma de manter o colaborador motivado. È importante permitir que o colaborador recarregue as baterias para prosseguir com as tarefas que lhe foram delegadas.
5. Sendo possível, apoiar o colaborador na adoção de políticas e benefícios extra salariais que podem passar por exemplo, por um plano de saúde com protocolos especiais, apoio no pagamento das despesas com internet e eletricidade, cedência de material informático ou outro para desempenho das funções. A boa liderança faz-se de atitudes que visem o bem-estar produtivo do colaborador e não apenas a pura realização de objetivos técnicos.
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