Acompanhar os filhos em idade escolar nestes tempos de teletrabalho e ensino em casa pode ser complexo.
Desiluda-se, portanto, se parte do princípio de que estando em casa, em teletrabalho, com os seus filhos mais perto, no novo regime de ensino à distância, isso pode trazer-lhe maior controlo sobre o que se passa com as crianças. Nada disso.
Trata-se de um exercício que exige esforço, disciplina mas também flexibilidade. As dicas que aqui lhe deixamos - neste roteiro de boas práticas e conselhos – incluem ainda um alerta para proteger a sua família do ciberbullyng, uma das potenciais do tempo de exposição dos seus filhos ao computador.
Leia também: Tenho COVID-19 e vivo sozinho. A que tipos de apoio posso recorrer?
O novo dia-a-dia
Nada de novo, e que a generalidade das famílias já não tenha experimentado em março e abril do ano passado, por altura do primeiro confinamento. As rotinas de casa e do trabalho voltaram a acumular com o acompanhamento das rotinas escolares dos filhos.
Se aqui não incluirmos toda a preparação logística que precedeu esta etapa, por exemplo assegurar que as ferramentas de trabalho, como computadores e largura de banda da internet, estavam realmente a postos, para a escola à distância, o que resta já inquieta os espíritos mais calmos.
É que entre as aulas assíncronas; as aulas em direto via internet; a gestão do tempo letivo transmitido pela televisão, passando pelo cumprimento das tarefas e fichas escolares; a revisão das matérias; as reuniões com professores e esclarecimento regular de dúvidas, toda esta euforia de tarefas arrasta ansiedade e alguma frustração. Só por si, é preocupante tanto para as crianças como para os próprios encarregados de educação.
A juntar a isto - e muito importante - a gestão de expectativas e inseguranças das próprias crianças. Afastadas do seu contexto habitual, do convívio com os colegas e com os amigos, das rotinas e dos horários para o recreio e para a brincadeira, tudo contribui para adensar o stress.
Pode ser fácil, portanto, perder o Norte mas, o objetivo é que nunca o perca de vista.
No seu Guia para pais e cuidadores, Covid-19 Estudar em Tempo de Pandemia, a Ordem dos Psicólogos deixa três orientações essenciais, cuide de si; planeie e organize uma nova rotina; acompanhe o estudo das crianças. Sintetizamos as principais para sua orientação.
Apoio às famílias foi reforçado
O apoio às famílias com filhos em idade escolar aguarda aprovação das novas medidas que reforçam as que estão em vigor (e que pode recordar neste artigo do Saldo Positivo. Este apoio excecional é alargado aos pais em teletrabalho (antes isso não acontecia) mas apenas para famílias monoparentais; com filhos até aos dez anos (a frequentar creche; pré-escolar ou 1 ciclo) ou com dependentes com grau de deficiência acima de 60%. Nos caso das famílias monoparentais ou quando os pais alegarem alternância no acompanhamento dos filhos, este apoio passa a atribuir 100% do salário.
Leia também: Quais os apoios aos pais com filhos até 12 anos?
As dez dicas para o ajudar no ensino à distância
Comece por se focar em si
Inicie este exercício pelo auto-controlo. Ou seja, procure salvaguar-se a si próprio, mantendo o seu bem-estar físico e mental. Isso acontece com disciplina, e com uma prática permanente de definição de rotinas e de partilha de tarefas, por exemplo com o seu marido ou mulher. Muito importante neste momento, ter tempo para si próprio e definir objetivos ou metas de conciliação de trabalho que possam ser realizáveis.
Paralelamente, tenha noção plena do esforço coletivo que este isolamento implica. A sua situação replica-se em muito lares e as dificuldades exigem uma preparação e esclarecimento suplementares, por exemplo sobre a evolução pandémica.
Procure adquiri-lo junto de fontes fidedignas e oficiais, para mais facilmente ajudar as suas crianças. Depois, e igualmente essencial, mantenha a calma e procure entrosar-se, mesmo que à distância com a experiência de amigos e familiares que possam estar nas mesmas circunstâncias.
Com crianças pequenas, o desafio é ainda maior mas é importante que as expectativas não sejam irrealistas. Ou seja, o cumprimento das suas tarefas profissionais deve tentar tirar o máximo proveito de alguma flexibilidade que o regime em teletrabalho pode permitir-lhe. Com base nessa flexibilidade, organize o seu plano de dia.
Leia também: Com que subsídios Covid posso contar?
Dez dicas para ajudar no ensino à distância
1. Crie uma agenda de trabalho, capaz de criar rotinas e horários e que seja capaz de refletir momentos de lazer; de estudo; e possibilidade até de conviver nas redes sociais. Uma referência para o equilíbrio entre os tempos de trabalho e de lazer;
2. Procure fazê-lo com a criação de consensos e de maneira mobilizadora para a sua própria família. Um dos alertas da Ordem dos Psicólogos é que aquilo que resulta em casa alheia pode não resultar na sua;
Leia também: Como explicar o coronavírus às crianças: um guia para pais
3. Seja flexível e pratique esta flexibilidade nos horários e nas tarefas. Encontre pontos de equilíbrio com professores e escola. Muitas vezes há que saber relativizar a carga de trabalho e seus objetivos, com alternativas mais capazes de acomodar a harmonia de fundo;
4. A estrutura escolar é sua aliada. É muito importante ali recolher apoio e orientação. E isso pode passar por definir compromissos entre os objetivos letivos e as dificuldades naturais deste processo de aprendizagem que estará menos rotinado;
Leia também: Como será o regresso às aulas em situação de contingência?
5. Defenda os momentos de pausa da mesma maneira que defende os momentos de estudo e de trabalho. A concentração e o foco não se conseguem com sobrecarga horária;
6. Diferencie espaços de estudo e de lazer e incentive a sua arrumação e organização. O estudo deve ter por base a mesa de trabalho e um espaço bem iluminado com fácil acesso à internet;
Leia também:Já fez a prova escolar dos seus filhos?
7. Procure incentivar a autonomia do estudo, com hábitos de concentração e foco no trabalho. Esta competência de auto-regulação e método é fundamental para que as crianças tirem proveito do tempo de estudo. Converse com os seus filhos e procure sugerir a melhor maneira. Por exemplo, começar pelas tarefas mais complexas num momento de menor cansaço.
8. Incentive competências de organização e gestão de tempo. Maior organização do tempo, entre as tarefas escolares e extra-escolares, permite melhores resultados. A Ordem dos Psicólogos sugere a construção de uma lista de tarefas e defende que não nascemos “organizados”. Aponta ainda para sites como escolasaudavelmente.pt e para a página como boas fontes de informação sobre este assunto.
Leia também: Crianças e Covid: lições de literacia financeira
9. Esteja presente nos elogios e nas críticas e saiba nivelar as expectativas. Adopte uma atitude realista face às reais possibilidades das crianças. Procure elogiar o seu potencial e aponte alternativas de melhoria sempre que necessário;
10. Incentive o espírito de estudo e aprendizagem mas esforce-se por o garantir de maneira integrada, sem se fixar excessivamente nos livros. Ouvir uma história ou assistir a uma série educativa podem ser igualmente relevantes. Seja um tutor envolvente e capaz de dar exemplos e boas práticas mas não se queira substituir aos professores
Leia também: Literacia financeira na infância: lições para cada idade
Podemos apontar riscos das aulas à distância?
Sim podemos. Além da nova rotina de trabalho pôr à prova competências de auto-controlo, disciplina e métodos de estudo, com resposta nas dez dicas anteriores, existe um risco em particular que, sem o alarmar, deve merecer-lhe atenção: o cyberbullying.
Este fenómeno pode ocorrer com maior facilidade num contexto de excessiva exposição aos canais digitais. Ou seja, em momentos como os que a comunidade escolar agora vive - com as aulas à distância. Sendo um fenómeno complexo de gerir quando acontece com adultos, requer especiais cuidados quando o ocorre em idades mais jovens.
Os pais devem portanto dobrar o esforço de monitorização e vigilância. Pratique esta vigilância de maneira pedagógica, alertando os seus filhos para os riscos e para a necessidade de eles próprios se salvaguardarem do perigo que representa partilhar a sua vida na internet - mesmo com amigos em quem confiam.
Pode ainda optar por cautelas adicionais. Por exemplo, ter o computador dos seus filhos ao seu próprio alcance, monitorizar as redes socias em que eles se encontram com os amigos, alertá-los para a necessidade de denunciarem estas práticas nas próprias plataformas.
Lembre-se, no entanto, que mais importante que policiar os seus hábitos na net, deve educá-los sobre a melhor maneira de utilizar os canais e as plataformas digitais. É fundamental sobretudo fazê-los entender que podem contar com o pai e com a mãe para os acompanhar e apoiar, em caso destes incidentes acontecerem.
O que é o cyberbullying?
Trata-se de uma prática de assédio, ameaça e perseguição que normalmente explora uma fragilidade de alguém - expondo-a à comunidade. Com o advento das novas tecnologias, onde as pessoas podem de maneira inadvertida partilhar informação, imagens ou experiências, este tipo de agressões pode tornar-se mais fácil e ainda beneficiar do anonimato da Internet. É por isso importante que pais, educadores ou amigos estejam atentos aos sinais que podem indiciar casos como este. Por exemplo, resistência em largar o computador, isolamento inesperado ou reações de nervosíssimo e tristeza aparentemente inexplicáveis.
Leia também:
- Apoios ao emprego em 2021: o que fazer se estiver desempregado
- Como aumentar o reembolso do IRS em 5 passos
- O que muda no pagamento das comissões MB Way?
- As despesas com tecnologia podem ser dedutíveis no IRS?
- As 10 perguntas sobre os PPR
- Sustentabilidade low-cost em casa: poupar recursos