Dinheiro Digital

Jovens e dinheiro digital: uma relação para durar?

O Banco e Eu

No âmbito do evento, o Banco de Portugal acolheu a transmissão do webinar A Minha Relação com o Dinheiro Digital. Eis uma síntese. 11-11-2021

Tempo estimado de leitura: 7 minutos

O dinheiro digital é uma oportunidade ou uma ameaça? Saiba mais sobre criptomoedas e os desafios que colocam às várias gerações.

O dinheiro digital está a cativar os mais jovens. As novas gerações usam cada vez menos notas ou moedas, mas investir em moedas digitais é algo que fazem facilmente, muitas vezes apenas por curiosidade. Mas será que vão mudar a forma como todos usamos o dinheiro?

Para quem está habituado ao dinheiro físico ou viveu numa época em que os cartões bancários e a internet ainda não existiam, pode não ser fácil perceber esta relação entre os mais jovens e o dinheiro digital.

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Também para os bancos tradicionais, este pode ser mais um desafio. E para os bancos centrais, coloca-se ainda a questão do impacto que esta tendência pode ter no sistema financeiro. Afinal, como se equilibram todas estas variantes?

O webinar A Minha Relação com o Dinheiro Digital juntou quadros desta entidade e alunos universitários, numa conversa em que as moedas digitais, o euro digital e as vantagens e desvantagens das criptomoedas foram o tema central.

A iniciativa, integrada na Semana Mundial do Investidor, contou com a presença do administrador do Banco de Portugal, Hélder Rosalino, da diretora do Departamento de Sistemas de Pagamentos da instituição, Tereza Cavaco, e teve a moderação de Paulo Ferreira e Tiago Dores.

Aconteceu a 8 de outubro, na sede do Banco de Portugal (Bdp).

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    Semana Mundial do Investidor: o que é?

    A World Investor Week é uma iniciativa global promovida pela IOSCO (International Organization of Securities Commissions) com o objetivo de sensibilizar para a importância da educação financeira e da proteção dos investidores. A Semana Mundial do Investidor Portugal, promovida em Portugal pela CMVM, insere-se nesta iniciativa mundial que se realiza há 5 anos. Em 2021, esta iniciativa teve lugar entre 6 e 12 de outubro, com webinars, conferências e workshops que abordaram temas como a banca online, investimento e redes sociais. Pode aceder aqui aos conteúdos desta e de edições anteriores.

    Uma das principais ideias deste webinar, que pode rever aqui é que o dinheiro digital, embora tenha ainda uma utilização limitada, não é uma moda passageira.

    De acordo com Hélder Rosalino, a ideia de que as criptomoedas seriam apenas ativos de investimento pode estar afinal ultrapassada. Lembrou que várias instituições, incluindo a Visa e a Mastercard, estão já a preparar os seus sistemas para a nova realidade.

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    Dinheiro digital: os pontos essenciais

    Para quem nunca se interessou por criptomoedas, a noção de dinheiro digital pode ser bastante vaga. No entanto, muitos jovens já se renderam a esta referência de valor  que ainda  não pode ser usada  para a maioria dos pagamentos quotidianos e cujo valor oscila rapidamente.

    As criptomoedas (ou criptopativos) são um produto da tecnologia que permite guardar, de forma segura, informações sobre as transações. Neste artigo do Saldo Positivo pode saber mais sobre as tecnologias DLT e blockchain, que servem de base a estas moedas digitais.

    As bitcoin são os criptoativos mais conhecidos, mas não os únicos. Embora possam ser usadas para fazer pagamentos, as moedas digitais são mais utilizadas para investimentos. O seu valor, altamente volátil, depende de um mercado de oferta e procura, associado a especulação e a fatores externos muito diversos. Basta ver o efeito que os tweets de Elon Musk sobre as bitcoin tiveram na cotação desta moeda digital.

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    Esta instabilidade, que é uma das desvantagens das criptomoedas, está na base da criação das stablecoins. Embora sendo criptoativos, têm mecanismos que procuram garantir alguma estabilidade em termos de valor. 

    A volatilidade das moedas digitais é um dos fatores que impedem que seja considerada uma verdadeira moeda. As constantes oscilações de valor não permitem que se estabeleça um preço para os bens nem preservar o poder de compra.

    Além disso, não são garantidas pelo BdP ou por outra entidade europeia. E, não estando sujeitas a supervisão, também não existe qualquer garantia de proteção ao investidor. Isto é, pode perder todo o dinheiro que investir em criptomoedas.

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    Euro digital: a resposta europeia às moedas digitais

    Apesar de tudo, as moedas digitais vieram para ficar. Alguns dos jovens participantes no webinar realizado no BdP admitiram ter feito investimentos, embora de baixo valor e só depois de terem procurado informar-se sobre o tema.

    Este interesse das novas gerações não tem passado despercebido aos bancos centrais, incluindo ao Banco Central Europeu (BCE).

    O BCE e os bancos centrais da área do Euro estão a estudar a possibilidade de emitir o chamado euro digital, ou seja, uma moeda digital de banco central que possa ser usada com segurança por pessoas e empresas. Esta moeda terá também proteção legal, sendo por isso um meio de pagamento confiável.

    Nos próximos dois anos, esta possibilidade vai ser analisada pelo Eurosistema. A nova moeda digital terá, necessariamente, de respeitar a estabilidade financeira e a política monetária, mas este não é o único desafio. 

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    Tereza Cavaco tem representado o BdP nesta discussão a nível europeu sobre a criação do euro digital. Lembra que um dos aspetos mais valorizados nas moedas digitais é o facto de não deixarem rasto. E esta é justamente uma das batalhas do sistema bancário europeu. Ou seja, prevenir que o dinheiro seja usado em situações de fraude, branqueamento de capitais ou financiamento ao terrorismo.

    “É preciso encontrar uma solução de equilíbrio entre tecnologia segura, mas que permita controlar atividades ilícitas”, afirmou a responsável.

    E se até aqui o BCE não quis intervir na questão das moedas digitais “porque não quer cortar a inovação”, neste momento já se fala em regulação, lembra Tereza Cavaco. 

    Tome Nota:

    Uma das principais diferenças entre as atuais criptomoedas e o euro digital é que este será uma moeda emitida por um banco central e, por isso, garantida por uma autoridade monetária.

    O predomínio do dinheiro digital sobre o dos bancos centrais (ou gov coins) poderia, também, ter consequências sérias no quotidiano de todos nós. Conforme questionou Hélder Rosalino, “Se todo o sistema monetário usasse moedas privadas, como se controlava a inflação? O que acontecia ao sistema financeiro?”

    Leia também: Sabe qual o impacte da inflação na sua vida financeira?

     

    O administrador do Banco de Portugal lembrou, também, que o futuro do dinheiro digital depende, e muito, das novas gerações e da forma como o usam. “São vocês que vão definir o que vai triunfar”, disse, dirigindo-se à plateia.

    Embora a utilização dos criptoativos esteja ainda numa fase em que não é possível a comparação com o dinheiro tradicional, o baixo custo (ausência de comissões), a rapidez da transação e o facto de ser um investimento acessível a quem tem pouco dinheiro foram algumas das razões apontadas para o êxito junto dos mais jovens. 

    As 3 dicas para os mais novos

    Hélder Rosalino deixou 3 conselhos aos jovens que investem em criptomoedas:

    1. Investir com consciência e responsabilidade;
    2. Ter em conta que se pode perder todo o investimento;
    3. Informar-se, ouvindo prós e contras e criando as suas próprias perceções sobre o tema.

     

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