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Telemóveis, tablets, computadores, consolas e televisão fazem parte do quotidiano da maior parte das crianças e jovens, mas demasiado tempo de ecrã pode trazer consequências. Embora haja vantagens nesta forma de brincar ou aprender, estabelecer limites à utilização de dispositivos digitais é igualmente importante.
Nem sempre é claro, para pais e educadores, saber como gerir a relação entre os mais novos e a tecnologia. Veja o que dizem alguns especialistas das áreas da educação e da medicina e conheça algumas dicas para reduzir o tempo de ecrã de miúdos e graúdos.
Crianças e ecrãs: alguns dados
De acordo com o estudo Utilização dos Aparelhos Digitais em Crianças com Idade entre os 12 meses e os 5 Anos, baseado em inquéritos a utentes de 6 Unidades de Saúde Familiar (USF) da zona norte do país:
- A televisão (37,5%), o smartphone (28,9%) e o tablet (20,7%) foram os aparelhos mais usados pelas crianças;
- A utilização começou antes dos 18 meses: 74,7% para a televisão, 23,4% para o smartphone e 16,3% para o tablet;
- 65,9% veem diariamente televisão e 24% usam o smartphone todos os dias
- 70 a 74% das crianças com mais de 2 anos de idade têm um tempo de ecrã superior a 1h/dia;
- A televisão foi usada 5 a 7 vezes/semana em 65,9% dos casos;
- O tablet e o smartphone foram usados 3 a 4 vezes/semana em 20,8% e 32,6% dos casos, respetivamente;
- A consola foi utilizada 1 a 2 vezes/semana em 8,2% dos casos.
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Muito tempo de ecrã prejudica as crianças?
A utilização de ecrãs pode ser uma forma de entretenimento e de aprendizagem mas,
o excesso é prejudicial. Pode significar menos tempo para outras atividades, como brincar, socializar ou até estudar, mas pode também refletir-se na qualidade do sono ou na ausência de atividade física.
“O uso excessivo de ecrãs está associado a um desenvolvimento deficitário de capacidades físicas e cognitivas e que contribui para a obesidade, problemas de sono, depressão e ansiedade em idade pediátrica”. A afirmação é de Beatriz Simões Vala, pediatra e autora do artigo Estarão as Nossas Crianças Demasiado Tempo ao Ecrã?, publicado no espaço Criança e Família, um projeto da Sociedade Portuguesa de Pediatria.
De acordo com a especialista, os resultados dos estudos que analisam o efeito da televisão nos mais novos “apontam para uma possível associação entre o tempo passado em frente ao ecrã e o aumento de problemas de comportamento e de perturbação da linguagem”. Um tempo de ecrã excessivo poderá também ter consequências ao nível do autocontrolo, empatia, habilidades sociais ou resolução de problemas.
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Perigos e consequências
A American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (AACAP) identifica alguns perigos da exposição aos ecrãs. Esta entidade lembra que, sem supervisão dos pais ou outros adultos, as crianças e adolescentes podem deparar-se com conteúdos ilícitos que promovam a violência, o consumo de substâncias proibidas ou que incentivem comportamentos arriscados, como é o caso dos desafios virais. Muitas vezes, com consequências graves.
O cyberbullying, os contactos de maior risco e o acesso a fake news são outros perigos desta exposição.
Entre as consequências do excesso de tempo ao ecrã, estão ainda as perturbações do sono, problemas de peso e de autoestima, menos aproveitamento escolar ou alterações de humor. O FOMO (Fear of missing out), em português “medo de perder algo” ou “medo de ficar de fora”, é outro efeito possível.
Tome Nota:
De acordo com o estudo Utilização dos Aparelhos Digitais em Crianças com Idade entre os 12 meses e os 5 Anos, a utilização de aparelhos digitais ocorre:
- Em 22,7% das situações, durante as refeições (5 a 7 vezes/semana);
- Em 19%, durante a hora que antecede o sono (5 a 7 vezes/semana);
- Em 21,8%, para entretenimento durante as tarefas do quotidiano dos pais (3 a 4 vezes/semana);
- Em 21,9%, para entretenimento durante as reuniões com família/amigos (mais de uma vez/semana);
- Em 13,5%, para distração durante uma birra (mais de uma vez/semana);
- Em 13,1%, como forma de prémio (mais de uma vez/semana).
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O que recomendam os especialistas?
A AACAP atualizou, em 2020, as recomendações relativas ao tempo de ecrã, sugerindo os seguintes limites:
- Até aos 18 meses, as crianças só devem usar os ecrãs para conversarem, por videochamada, com familiares ausentes;
- Entre os 18 e os 24 meses, só devem usar ecrãs para verem programas educativos, mas sempre sob supervisão;
- Entre os 2 e os 5 anos, o tempo de ecrã sem propósitos educativos deve reduzir-se a 1 hora por dia durante a semana e 3 horas aos fins-de-semana;
- A partir dos 6 anos, os pais devem incentivar outro tipo de atividades, limitando as que incluem ecrãs.
As recomendações daquela Associação passam também por desligar todos os ecrãs durante as refeições. Aconselha também a que não se usem os ecrãs para acalmar birras.
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Os ecrãs têm vantagens para as crianças?
Se, por um lado, a exposição excessiva tem consequências menos positivas, por outro, há dados que apontam para a existência de benefícios na utilização de ecrãs. Um estudo de Andrew Przybylski, do Oxford Internet Institute mostra que as crianças com um tempo de ecrã entre uma e duas horas diárias revelam um maior nível de desenvolvimento psicossocial em relação às que não o fazem.
De acordo com este estudo, seriam precisas mais de 4 horas diárias de televisão ou 5 de interação com dispositivos eletrónicos para que as crianças revelassem alterações significativas ao nível do seu funcionamento psicossocial.
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Dado que alguns programas de TV e conteúdos da internet são educativos e ensinam, por exemplo, a contar ou a conhecer números, letras e palavras, caberá aos pais e educadores perceber até que ponto a utilização dos ecrãs é útil. Prudência e equilíbrio são, por isso, fundamentais.
Como saber se o tempo de ecrã é excessivo?
Pode tentar perceber se em sua casa há uma relação equilibrada com os ecrãs, respondendo a questões como:
- Controla o tempo de ecrã dos seus filhos?
- Os ecrãs interferem no que a família quer fazer?
- Os ecrãs têm interferência no sono?
- O seu filho come enquanto está a ver televisão ou a jogar consola? Consegue controlar o que este come durante estes períodos?
Tome Nota:
Neste ebook do projeto Brincar de Rua, pode encontrar informações úteis e sugestões sobre a relação das crianças com os ecrãs.
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6 dicas para gerir o tempo de ecrã dos mais novos
Quer limitar ou ter mais atenção ao tempo que os seus filhos passam a ver televisão ou a usar dispositivos eletrónicos? Entre os canais de desenhos animados, os tablets dos mais pequenos e os smartphones dos adolescentes, pode ser difícil saber quando e como fazer com que deixem de olhar para os ecrãs.
Veja algumas dicas que podem ajudar.
1. Acompanhar
Não deixe que os mais pequenos fiquem sozinhos em frente aos ecrãs. Acompanhe-os e vá esclarecendo dúvidas.
No caso dos adolescentes, este acompanhamento pode ser muito difícil, mas é importante alertá-los para as questões da privacidade na internet e para o perigo de partilhar demais. É importante dar o exemplo e ter muito cuidado na forma como expõe os seus filhos nas suas próprias redes sociais e outros canais digitais.
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2. Definir tempos de utilização
Dentro dos limites diários recomendados, defina com os seus filhos o horário para o uso dos ecrãs e qual a sua duração. O ideal será conversar em família para perceber, dentro da gestão diária, se e quando faz mais sentido. Envolva os mais novos no processo. Deste modo, vão sentir-se ouvidos e mais disponíveis para cumprir o acordo estabelecido.
3. Estabelecer regras
Pratique o tempo em família sem tecnologia. Estabeleça como rotina desligar todos os ecrãs à hora das refeições e antes de deitar. Desligue a televisão enquanto estão a fazer os trabalhos de casa, a brincar ou a conversar.
4. Incentivar outras atividades
Se quer limitar o tempo de ecrã dos mais novos, é importante criar alternativas. Desenhar, ler, organizar uma caça ao tesouro ou uma tarde de jogos de tabuleiro, andar de bicicleta, trotinete ou skate, até mesmo fazer exercício físico dentro de casa são formas de brincar e de ocupar o tempo que os vão manter afastados dos brinquedos tecnológicos.
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5. Usar a tecnologia para criar limites
As televisões e os dispositivos eletrónicos têm ferramentas de controlo parental que podem ser usadas não só para limitar o acesso a determinados conteúdos, como para estabelecer limites ao tempo de ecrã.
Nos dispositivos da Apple pode usar este link para fazer as configurações necessárias. O Google também proporciona esta funcionalidade.
6. Dar o exemplo
Por mais estratégias e conversas, se não der o exemplo será mais difícil transmitir as mensagens certas. Tente fazer um uso equilibrado dos computadores, tablets e smartphones fora da sua atividade profissional. Se fizer um uso mais moderado destes equipamentos, mais facilmente os seus filhos entendem os limites a ter em conta.
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