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As últimas estatísticas em Portugal dão conta de um crescimento no volume de crédito pessoal. Porém, sendo um apoio importante na gestão das nossas finanças pessoais, obriga a prudência e a um conjunto de boas práticas que resumimos nas 10 dicas seguintes.
Quais os cuidados a ter antes de avançar para um crédito pessoal? Como garantir que, mesmo num contexto economicamente desafiante, este empréstimo não se transforma em mais uma dor de cabeça? Avaliar, comparar e analisar são alguns dos verbos que deve conjugar quando pensa em contrair um empréstimo.
Se quer concretizar um projeto há muito adiado ou realizar um sonho antigo, e precisa recorrer ao crédito, lembre-se também da sua saúde financeira. Explicamos com que cuidados. Eis as 10 perguntas a que damos respostas.
O que é um crédito pessoal?
O crédito pessoal é uma modalidade de financiamento para crédito aos consumidores. Aplica-se a empréstimos entre 200€ e 75 000€ euros concedidos a pessoas singulares e permite obter um montante para diversas finalidades, como estudos, saúde ou projetos pessoais. Este regime vem associado a normas, incluindo a definição de taxas máximas (TAEG), que refletem o custo total do crédito. Deve ter por isso cuidado de referir a finalidade do crédito e em muitos casos pode haver necessidade de apresentar evidências.
6 informações essenciais sobre o crédito pessoal
- O crédito pessoal integra o crédito aos consumidores. Ou seja, o que é destinado a financiar a aquisição de bens de consumo (por exemplo, eletrodomésticos, viagens, automóveis, educação ou saúde);
- Abrange empréstimos a particulares de montantes entre os 200 euros e os 75 mil euros, incluindo as ultrapassagens de crédito. Inclui ainda empréstimos destinados à realização de obras em imóveis, sem garantia hipotecária;
- A taxa a aplicar pode ser fixa ou variável;
- Existem taxas máximas definidas trimestralmente pelo Banco de Portugal (BdP);
- Os créditos pessoais destinados a financiar Educação, Saúde, Energias Renováveis e Locação Financeira de Equipamentos têm taxas de juro mais baixas;
- O prazo máximo de concessão para um crédito pessoal pode variar entre 1 a 7 anos alargado para 10 anos nos casos com finalidades de educação, saúde, energias renováveis e crédito automóvel.
O QUE A CAIXA PODE FAZER POR SI?
Antes de avançar para qualquer solução de crédito, considere as contas a fazer, simule alternativas e estude os efeitos esperados no seu orçamento familiar. Contratar bem é viver melhor. Saiba Mais Aqui
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Quais os 10 cuidados essenciais do crédito pessoal?
Mesmo que os indicadores de endividamento estejam em rota ascendente, resultado de algum alívio conjuntural, nada de se deixar iludir. Evite a ansiedade financeira e procure manter-se longe das dívidas rotativas que o podem levar a situações de sobre-endividamento e até à insolvência. Existem riscos para a sua vida futura caso venha a ter o seu nome registado na lista negra do Banco de Portugal. Eis os 10 cuidados a ter em conta com base em dez perguntas essenciais.
1. É uma boa altura para contrair um crédito pessoal?
Esta é, talvez, a primeira pergunta que deve fazer antes de equacionar aumentar o seu nível de endividamento. Sobretudo em momentos de crise económica. Em momentos de taxas mais elevadas ou de picos de inflação que penalizam os seus rendimentos mensais, convém aguardar
2. Quais são as minhas reais necessidades?
Será que a despesa é realmente necessária ou pode ser adiada? Posso poupar para este objetivo em vez de pedir crédito? recorrer a créditos pessoais para pagar outros créditos existentes pode criar um efeito "bola de neve", agravando a situação financeira. As taxas de juro dos créditos pessoais são geralmente mais elevadas.
Tome Nota:
Em novembro de 2025, as taxas máximas aplicáveis aos contratos de crédito aos consumidores no 4.º trimestre de 2025 são as seguintes:
- Cartões de crédito, linhas de crédito, contas correntes bancárias e facilidades de descoberto: 18,8%
- Ultrapassagens de crédito: 18,8%
- Locação financeira ou ALD (novos): 5,4%
- Locação financeira ou ALD (usados): 6,9%
- Crédito automóvel e outros veículos (novos): 10,8%
- Crédito automóvel e outros veículos (usados): 14,2%
- Crédito para educação, saúde, transição energética e locação financeira de equipamentos: 8,6%
- Outros créditos pessoais (lar, obras, consolidado e outras finalidades): 15,6%
3. Qual é a minha taxa de esforço?
A taxa de esforço mede quanto do seu rendimento mensal é comprometido com créditos e nunca deve exceder 30 % a 35% do rendimento líquido mensal. Ou seja, calcule o impacto da prestação no orçamento familiar – sobretudo se já existirem outros empréstimos para pagar. Perceba se a despesa mensal vai desequilibrar as suas contas.
Na prática, a taxa de esforço representa a percentagem do rendimento mensal para pagar a prestação. Por exemplo, para um rendimento líquido mensal de 1 500€, o limite recomendado para prestações não pode ultrapassar 450€ a 525 €. Se já estiver a pagar um crédito habitação de 300€ de crédito habitação, sobram apenas 150€ a 225€ para novos créditos.
4. Quais as condições do crédito?
Leia todas as clausulas com cuidado. Desde logo, é importante confirmar os prazos de reembolso. Quanto mais longos, menores podem tornar-se as prestações mensais ainda que se agrave o valor total do empréstimo e de juros. Depois, há que estar atento ao que paga em comissões ( como as associadas ao reembolso antecipado e outras) e ao valor total do crédito (MTIC); aos seguros, como os de crédito ou de vida. Considere também penalizações por falta de pagamento e estude as opções de taxa fixa ou variável. Confira tudo, inclusive, se o spread vai aumentar. Ou se condições do empréstimo se mantêm.
5. Quais as diferentes propostas de crédito?
Antes de decidir, é essencial comparar várias opções. O simulador de crédito aos consumidores do Banco de Portugal é uma boa ajuda para fazer essa comparação. Sempre que pedir uma simulação para um empréstimo, devem entregar-lhe a Ficha de Informação Normalizada (FIN) com toda informação necessária para analisar as várias propostas. O BdP aconselha a fazer essa comparação, com base na taxa anual de encargos efetiva global (TAEG). Uma TAEG mais baixa será a melhor opção.
6. Como avalio as vendas associadas?
Quando está a negociar a contratação de um crédito pessoal, pode ser-lhe proposta a aquisição facultativa de outros produtos ou serviços financeiros (por exemplo, um seguro de saúde ou um cartão de crédito). Estas vendas associadas, ou bundling, podem ter contrapartidas positivas nos custos do crédito. Caso os aceite, confira o que acontece se, durante o contrato, quiser desistir desses produtos ou serviços.
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7. Devo ser transparente: posso ocultar informação?
Nada de esconder factos que possam vir a ter uma influência negativa no risco de crédito. Isto é fundamental para que o banco apresente a proposta mais adequada e vantajosa para o seu caso. O primeiro passo para conseguir um crédito, é ser transparente com o Banco. Se sabe que o seu contrato de trabalho não vai ser renovado ou se vai aumentar a família, o mais provável é que a sua situação financeira se altere. Ocultar este tipo de informação é prejudicial para ambas as partes. Seja transparente sobre a finalidade do crédito (ver 6 informações essenciais sobre o crédito pessoal).
8. Atenção ao período de reflexão
A Lei portuguesa garante um prazo de reflexão de 14 dias após a assinatura do contrato de crédito ao consumo. De acordo com o Banco de Portugal, o cliente bancário pode desistir do contrato sem necessidade de justificar a decisão perante a instituição de crédito ou assumir penalizações. Conte, contudo, pagar o capital e os juros vencidos desde a data de utilização do crédito até à data do reembolso do capital, num prazo de 30 dias.
Tome Nota:
Antes de pedir um novo crédito, pode ser importante obter o mapa de responsabilidades de Crédito no site do Banco de Portugal, onde pode conferir todos os créditos em seu nome; os montantes em dívida; situações de incumprimento e até eventuais responsabilidades como fiador ou avalista. Pode aceder com Chave Móvel Digital ou com o cartão de cidadão
9. Cuidado com a publicidade enganosa
É bom demais? Desconfie. Deve ter especial cuidado com as promessas de crédito fácil, especialmente as que são divulgadas através de redes sociais por particulares ou empresas que desconhece.
Suspeite de promessas de aprovação garantida sem análise, das taxas excessivamente baixas e sem custos associados. Nada de ceder a pressões para decidir rapidamente ou para pagar antecipadamente.
Apenas as entidades autorizadas pelo Banco de Portugal podem conceder crédito e é muito fácil descobrir se aquela instituição pode ou não exercer essa atividade. Basta pesquisar pelo respetivo nome nesta página do BdP.
As burlas de crédito são mais comuns do que pensa e podem deixar a sua família numa situação financeira ainda mais complicada. Um dos principais cuidados a ter antes de contratar um crédito pessoal é garantir que o faz junto de uma entidade que cumpra a Lei.
10. O que posso fazer se entrar em incumprimento?
Nada de enfiar a cabeça na areia. Assim que se aperceber do mínimo risco de incumprimento, fale com o seu Banco. Os juros de mora e encargos acumulam rapidamente. Contacte a instituição de crédito, exponha a situação e manifeste intenção de regularizar.
O Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento (PERSI) permite negociar um período de carência no pagamento do capital; diferimento de parte do capital para o futuro; redução temporária da taxa de juro ou alargamento do prazo do crédito.
A Rede de Apoio ao Cliente Bancário (RACE) oferece aconselhamento gratuito.
Quais os efeitos do incumprimento?
- Registo na Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal;
- Aplicação de juros de mora e comissões adicionais;
- Dificuldade em obter novos créditos;
- Possível ação judicial e penhora de bens ou rendimentos.
Lembre-se que o registo de incumprimento pode manter-se até 10 anos. Ainda que possa ser retirado depois de confirmada a regularização do crédito.
Crédito pessoal em Portugal em 2025
O mercado de crédito ao consumo mantém uma trajetória de crescimento em Portugal. Segundo o Banco de Portugal, o stock de crédito pessoal atingiu 13 189,5 milhões de euros em setembro de 2025, um aumento face aos meses anteriores. O número de devedores com crédito pessoal chegou a 1,514 milhões, numa estabilização da procura para despesas diversas. Nos novos contratos, os dados mais recentes (agosto de 2025) mostram 43 191 contratos de crédito pessoal para várias finalidades e 2 098 contratos para educação, saúde e transição energética.
Porque está o crédito em alta?
O alívio no crédito habitação e descida das taxas Euribor aliviou as prestações das famílias portuguesas e gerou margem orçamental para outros financiamentos. Além disso, após um período de inflação elevada e taxas de juro em máximos, a perceção de maior estabilidade económica incentiva o recurso ao crédito para projetos pessoais. Temos de ter ainda em conta que tanto automóveis, materiais de construção e equipamentos eletrónicos ficaram mais caros o que também fez aumentar o volume de consumo, ainda que sem correspondência no número de contratos. Por último, tem-se registado um certo incremento dos canais de crédito com maior facilidade no acesso online.
Créditopessoal: a sua check list final
- O crédito é mesmo preciso?
- Comparar pelo menos 3 propostas diferentes
- Verificar a TAEG e não apenas a TAN (taxa de juro nominal)
- Ler todo o contrato, incluindo as letras pequenas;
- Confirmar todas as comissões e seguros;
- Confirmar se a prestação mensal cabe no orçamento;
- Consultar mapa de responsabilidades;
- Perceber os efeitos do incumprimento
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A informação deste artigo não constitui qualquer recomendação, nem dispensa a consulta necessária de entidades oficiais e legais.
