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Sabia que a Banca pode ter em conta as emissões do seu negócio? Descubra o impacto que estas medidas podem ter na sua empresa.
A Banca já tem muitos exemplos em que avalia o risco ambiental das empresas para apreciar pedidos de crédito. Uma alteração que procura reforçar a adoção de práticas amigas do ambiente pelas empresas mas que já inclui as escolhas de familias e particulares, por exemplo no crédito habitação.
A medida insere-se numa estratégia mais alargada e global que visa adotar medidas válidas para a redução da emissão de gases com efeito estufa, cujo balanço foi feito recentemente, em final de 2023 no âmbito da Cimera do Clima, COP28.
Recorde-se que em 2015, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas foi delineada a estratégia, conhecida como o Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas. Entre outros, traça a meta de, a longo prazo, manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2°C face aos níveis pré-industriais.
Qual o significado destes novos padrões no acesso ao crédito?
Face aos novos padrões que começam gradualmente a ser aplicados, as empresas cujo risco ambiental, social ou até de governança sejam avaliados de forma negativa podem ver limitadas as suas possibilidades de acesso a crédito.
Uma medida inserida no Plano de Ação para o financiamento sustentável aprovado pela Comissão Europeia em 2018. Uma das metas passa por ajudar a reorientar os investimentos para projetos ambientalmente sustentáveis ao mesmo tempo que assegura o crescimento das economias globais de forma socialmente inclusiva.
No caso da Banca nacional, o compromisso por um financiamento sustentável está refletido e sistematizado na Carta de Compromisso para o Financiamento Sustentável (CCFS) em Portugal. Trata-se de um documento subscrito pela generalidade das entidades bancárias a operar em Portugal e que manifesta o alinhamento entre a atividade financeira e os grandes princípios e objetivos globais do Acordo de Paris.
Este compromisso passa basicamente pelos critérios a ter em conta na atribuição do crédito. Quer na avaliação dos projetos a financiar; quer na avaliação do desempenho da própria empresa, onde o risco ambiental pode passar a ser considerado, quer ainda criando linhas de créditos especificas, dirigidas a famílias e empresas, para apoiar esta conversão para uma Economia mais sustentável e amiga do Ambiente.
O QUE A CAIXA PODE FAZER POR SI?
Como o mundo pede uma mudança, é importante que as empresas a possam assumir nos seus ciclos de crescimento. Por exemplo, tendo em conta o rating social, ambiental e de governança (rating ESG). Este passo pode trazer-lhe ganhos reputacionais e na fidelização de clientes mas não só. Por exemplo, pode trazer-lhe condições diferenciadoras de preço e acesso a linhas especiais de financiamento.
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O que implica a transição para uma Economia limpa?
Ter uma economia “mais segura, neutra em carbono e resiliente ao clima; mais eficiente na utilização dos recursos e circular, são fatores de competitividade”. Estes princípios, defendidos pela própria Comissão Europeia, envolvem na prática um esforço de investimento da comunidade em geral.
E aqui entra o papel dos bancos que compreendem a necessidade de apoiar esta transição. Na adoção de energias renováveis, na mobilidade descarbonizada – como já acontece com a Caixa Geral de Depósitos,ou na eficiência energética dos edifícios, entre outras medidas que ajudam na neutralização do impacte ambiental. Entre as medidas em cima da mesa está, por exemplo, “acompanhar a revisão dos critérios PME Líder e PME Excelência de forma a incorporar gradualmente os temas da sustentabilidade”, conforme a CCFS.
A sustentabilidade ambiental nos apoios europeus
Os apoios comunitários previstos no Portugal 2030 , onde um dos cinco objetivos anuncia Portugal +Verde e de onde decorrem Programas Temáticos vocacionadas para a transição energética e ambiental são um bom principio para apoio ao trabalho e volume de investimento a lançar pelas empresas de todas as escalas e dimensão. Trata-se de uma oportunidade única que deve ser aproveitada de modo racional e numa perspetiva de futuro.
Procurando minimizar os graves impactos económicos e sociais na União Europeia decorrentes da pandemia COVID-19, o Conselho Europeu criou o Next Generation EU. Um instrumento temporário que visa apoiar os países europeus no relançamento da economia, mas que, em simultâneo, engloba medidas que incentivam a introdução de alterações mais sustentáveis nas suas economias.
Ao abrigo deste mecanismo europeu, surgiu ainda o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) de Portugal, que conta com recursos de cerca de 16,6 mil milhões de euros, a ser executados até 2026. Incluindo uma dimensão referente à Transição Climática.
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Esta dimensão concentra 18% do montante global do PRR, para apoios dirigidos à descarbonização da indústria, à bioeconomia, à eficiência energética em edifícios, ao hidrogénio, às renováveis e à mobilidade sustentável.
Integra ainda componentes dirigidos às Florestas, à Gestão Hídrica e às Agendas Verdes para a Reindustrialização. Tudo com o intuito de incentivar o Estado Português e as empresas a apostar numa economia mais amiga do ambiente.
Tome Nota:
Um dos setores que mais se tem mobilizado para acomodar os ventos de mudança trazidas pelos pilares essenciais da sustentabilidade é a Banca. Isto ocorre com soluções – quer no crédito, quer ainda com alternativas de investimento mais específicas – capazes de valorizar e favorecer este trabalho de conversão dos seus clientes (empresas e particulares). Por exemplo, no âmbito dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e assente na sua Estratégia de Sustentabilidade 2021-24, a CGD reconhece as empresas que se empenham hoje na sustentabilidade de amanhã com a atribuição do Prémio Caixa ESG.
Os bancos já têm em conta a análise de risco ambiental?
Um estudo da consultora Fitch Ratings em 2020, e que envolveu 1 400 analistas de crédito em mais de 30 países, revela que cerca de 64% dos 182 bancos já incorporam critérios ambientais, sociais e de governança (ESG - Environmental, Social and Governance) na sua análise de risco de crédito.
Foi ainda possível identificar que são os bancos de dimensão média (ativos consolidados de 100 a 500 mil milhões de dólares) e grande (ativos consolidados superiores a 500 mil milhões de dólares) que têm uma maior presença de políticas de ESG na avaliação de risco de crédito e nas decisões de conceder empréstimos.
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Quais os setores mais penalizados?
Os mineiros, de metais, agricultura e têxtil. Aquando da avaliação de risco de crédito e da avaliação do risco ambiental, os principais projetos que viram os pedidos de empréstimo negados estavam associados a transações que implicam riscos elevados de violação dos direitos humanos, de trabalho forçado ou condições de trabalho não seguras.
Muitos dos bancos da Europa Ocidental também apresentam proibições de financiamento relacionadas com a produção de energia vinda de carvão. Há também bancos europeus que não financiam projetos ligados à produção de armas.
As conclusões são confirmadas pelo mesmo estudo da Fitch (ESG Credit Trends 2021) e por outros relacionados, como o Banks' Risk Management Embraces ESG.
Quais os setores com avaliação positiva?
De acordo com o mesmo estudo da Fitch, setores com atividade ligada à tecnologia, e com potencial de contribuir ativamente para a melhoria da qualidade ambiental e da saúde pública têm merecido da parte dos bancos europeus uma avaliação de risco de crédito e uma avaliação do risco ambiental positiva. Mais concretamente setores como os de tecnologia, telecomunicações e media, retalho, serviços de saúde e produtos farmacêuticos.
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A realidade em Portugal
Em Portugal, existem inúmeros exemplos em que a banca dispõe de linhas específicas de apoio a este objetivo de neutralidade carbónica, como acontece com a Caixa Geral de Depósitos.
No caso das empresas, a adoção de práticas amigas do Ambiente passa, por exemplo, pela aquisição de veículos de baixas emissões; por ter edifícios com bom desempenho energético ou pela implementação de modelos de transição para uma economia circular e descarbonizada. Também aqui a Banca tem respostas. Existem igualmente apoios oficiais.
Tome Nota:
Em Portugal, o Governo lançou o Fundo Ambiental, onde são traçadas várias linhas de investimento que visam incentivar políticas ambientais, contribuindo para o cumprimento dos objetivos e compromissos nacionais e internacionais no âmbito do Acordo de Paris.
Os incentivos à realização de obras para a eficiência energética dos edifícios e à aquisição de equipamentos de baixo consumo elétrico concretizam-se através de Programas como o Vale Eficiência e o Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis do Fundo Ambiental
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