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O que acontece quando o euro desvaloriza em relação ao dólar? O tema ganhou importância no verão de 2022, altura em que a moeda europeia atingiu o valor mais baixo dos últimos 20 anos.
A tendência de descida levou primeiro à paridade entre as moedas (isto é, um euro valer tanto como um dólar), mas não ficou por aí, tendo o euro passado a valer menos do que a moeda norte-americana.
À primeira vista, pode parecer um assunto que não mexe com a sua carteira, a menos que planeie viajar para os EUA. A verdade porém, é mais complexa do que isso e provavelmente já estará a sentir os efeitos no bolso. Comecemos por perceber o que causou esta desvalorização, para melhor compreender as implicações que pode ter no seu dia-a-dia.
Tome Nota:
Na página do Banco de Portugal pode acompanhar a evolução da cotação do euro face ao dólar e perceber a evolução recente.
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As razões da desvalorização do euro face ao dólar
A desvalorização da moeda única europeia face ao dólar é marcada principalmente por dois fatores. Por um lado, a inflação (e a forma como os respetivos bancos centrais estão a lidar com o fenómeno), mas também pelos efeitos da Guerra na Ucrânia.
Duas formas de combater à inflação
Embora a inflação seja praticamente global, a Reserva Federal norte-americana (FED) e o Banco Central Europeu (BCE) optaram por reagir de forma diferente.
Enquanto a FED que define a política monetária para os EUA e é o equivalente norte-americano ao BCE, apostou numa rápida subida das taxas de juro para combater a inflação, o BCE tem sido mais cauteloso nos aumentos das taxas diretoras.
De acordo com Eric Dor, diretor de Estudos Económicos da IESEG School of Management, esta contenção está relacionada com o receio de provocar uma crise da dívida soberana (ou dívida pública) nos países mais endividados da zona euro. “A Fed não tem esse problema”, explicou, em declarações à agência noticiosa AFP.
Taxas de juro e inflação: como se relacionam?
Num contexto de inflação como o atual, a subida da taxa de juro torna a poupança mais atrativa e os empréstimos mais caros com o objetivo de travar o consumo. A diminuição da procura de bens e serviços, por sua vez, faz baixar a inflação. Veja a explicação do BCE, que resume num gráfico a política seguida nos últimos meses.
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Guerra e instabilidade económica prejudicam a moeda única europeia
A guerra na Ucrânia e a dependência energética dos europeus face ao gás russo são igualmente penalizadoras para o euro. Isto porque o receio de uma recessão na Europa está a afastar investidores, que preferem concentrar-se nos EUA, um país menos exposto ao aumento dos preços da energia e dos combustíveis.
Mais uma vez, o dólar surge como uma moeda mais rentável. E aumentando a procura por parte dos investidores, continua a valorizar. O euro, pressionado pela crise energética e pela incerteza quanto ao desenrolar do conflito, tende a ser menos procurado, desvalorizando.
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As desvantagens da desvalorização do euro
Com o dólar a valer mais ou num valor próximo do euro, as importações ficam mais caras. Ou seja, será preciso gastar mais euros para comprar um determinado produto e pagar em dólares.
Se pensa que estas importações não afetam a sua carteira, basta lembrar que os barris de petróleo (essencial para produzir gasóleo e gasolina) são negociados em dólares. Ou seja, não só pode ficar mais caro abastecer o carro, como uma subida dos preços dos combustíveis pode ter efeito em toda a cadeia de consumo, desde os transportes à indústria. O que se reflete sempre no preço a cobrar aos consumidores.
O trigo e outras matérias-primas são igualmente negociados em dólares por isso, com a desvalorização do euro, importar estes produtos torna-se mais dispendioso para os europeus. Por isso, não é de estranhar que os preços continuem a subir e as suas despesas mensais a aumentar.
Se planeia viajar para os EUA ou para outro país onde usar dólares nas suas compras, ou como moeda de troca, a desvalorização do euro também não joga a seu favor. O preço da estada, das refeições e das compras vai pesar-lhe mais no bolso.
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Nem tudo são más notícias
A desvalorização do euro face ao dólar pode, ainda assim, ser uma boa notícia para a economia portuguesa, nomeadamente no que diz respeito às exportações.
No primeiro semestre de 2022, as exportações nacionais de bens e serviços atingiram 56,3 milhões de euros no primeiro semestre de 2022, mais 38,1 por cento contra o mesmo período de 2021. Só as exportações para os EUA, o quinto maior cliente em termos globais, registaram um aumento de 79 por cento.
Um euro mais fraco pode ajudar a explicar esta tendência de crescimento. Para quem compra em dólares, um produto made in Portugal fica agora mais barato.
O mesmo se passa em relação ao turismo e o imobiliário, dois setores em que a presença norte-americana em Portugal tem aumentado significativamente e que podem também beneficiar da desvalorização da moeda única europeia em relação ao dólar.
Tome Nota:
O crescimento das exportações impulsiona a economia, dá liquidez às empresas e cria emprego, o que é vantajoso.
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