investir em criptomoedas

Vai comprar criptomoedas? Os 10 mandamentos a conhecer

O Banco e Eu

Se está a pensar investir em criptomoedas, saiba quais os principais mandamentos a ter em conta sobre aqueles ativos virtuais. 09-02-2022

Tempo estimado de leitura: 15 minutos


Conhecer os mandamentos das criptomoedas permite saber os riscos, benefícios e os cuidados a ter na sua utilização. Afinal, estas divisas só existem no mundo virtual e a forma como funcionam é complexa e bastante diferente das moedas normais. Daí que seja necessário ter ainda mais cuidado com este tipo de investimento.

Certamente já ouviu falar em bitcoin, mas é bastante provável que não perceba como obter este tipo de moeda. Na verdade, a bitcoin é apenas uma das criptomoedas a circular no mundo virtual. O facto de ter sido a primeira faz com que seja a mais famosa, mas a forma como estes ativos funcionam é a mesma.

Tome Nota:

A Bitcoin e a Etherum são as mais conhecidas e valiosas, mas existem mais de 15 mil criptomoedas.

Leia também: Entrevista: A blockchain dá-nos um grau de confiança nas transações como nunca tivemos”

 

O que são, afinal, as criptomoedas?

As criptomoedas apareceram após a crise financeira de 2008 e talvez não seja coincidência. No debate A Minha Relação com o Dinheiro Digital, em outubro de 2021 do  Banco de Portugal (BdP), Hélder Rosalino lembrou que a Bitcoin surgiu logo depois da falência do banco norte-americano Lehman Brothers, o que, na opinião de vários estudiosos, não terá sido por acaso.

Por essa altura, recorda, os bancos centrais começaram a criar e emprestar dinheiro que não tinha valor real na economia, levando a uma crise de confiança e ao colapso do sistema financeiro nos Estados Unidos, alastrando-se depois ao resto do mundo.

É neste contexto, explica o administrador do BdP, que surgem as criptomoedas. Para os seus criadores, o objetivo era o de gerar uma divisa que não fosse controlada pelos bancos centrais, nem dependesse do sistema financeiro, e cujo valor fosse dado unicamente pelo mercado.

Tome Nota:

Para conhecer melhor alguns aspetos relacionados com o dinheiro digital, pode ver ou rever aqui o debate organizado pelo Banco de Portugal no âmbito da Semana Mundial do Investidor.

As criptomoedas são representações digitais de valor, isto é, não existem fisicamente. A sua emissão e transação não depende de um banco central, mas antes de um complexo sistema eletrónico de validação, conhecido como blockchain. Esta tecnologia, com encriptação de dados, permite que as transações sejam registadas e validadas por uma rede de computadores interligados entre si, sem qualquer intermediário.

O valor das criptomoedas baseia-se, sobretudo, na oferta e na procura. E ao contrário das moedas tradicionais, como o Euro, por exemplo, não têm uma política monetária, pelo que podem sofrer enormes variações num curto período de tempo.

Esta volatilidade não impede, no entanto, que as criptomoedas estejam a despertar o interesse de muitas pessoas. Incluindo os mais jovens que olham para estes ativos virtuais como uma forma de investimento e de poupança.

Leia também: Jovens e dinheiro digital: uma relação para durar?

 

Como usar as criptomoedas?

As moedas virtuais são usadas, sobretudo como um investimento. Há também empresas que já aceitam pagamentos em criptomoedas, embora não seja uma divisa que possa ser usada facilmente. Sem ter, por enquanto, um curso legal, ninguém é obrigado a aceitar criptomoeda como meio de pagamento.

A aquisição pode ser feita através de plataformas online que trocam moeda tradicional por criptomoedas ou que permitem cambiar diferentes criptomoedas. Tal como pode trocar euros por dólares, também poderá cambiar euros por moedas virtuais. Neste artigo da Deco Proteste encontra alguns conselhos sobre o funcionamento destes sites.

Para guardar as criptomoedas, é necessária uma wallet, isto é, uma espécie de carteira digital.  Pode ser uma app, que instala por exemplo no telemóvel, ou um hardware semelhante a uma pen USB. É através dessa carteira que pode receber e enviar as suas moedas virtuais. Sempre que quiser movimentá-las, terá de inserir um código para autenticar a transação.

Também é possível armazenar as suas criptomoedas diretamente no site onde as comprou.

Tome Nota:

Para conhecer melhor alguns aspetos relacionados com o dinheiro digital, pode revisitar a série de debates levados a cabo aqui pela CMVM e outras entidades financeiras no âmbito da Semana Mundial do Investidor.

 

10 mandamentos sobre as criptomoedas

Se está a pensar investir em moedas virtuais, garanta que tem toda a informação necessária sobre o tema, seguindo estas dicas e conselhos. 

 

1. Saber como funcionam

Como em qualquer investimento, é importante conhecer o produto em que vai investir e saber como funciona. A volatilidade das criptomoedas e o facto de não serem reguladas por nenhum supervisor obrigam a alguns cuidados. Ainda que possam proporcionar ganhos inesperados aos investidores e estejam isentas de intermediários ou de comissões, os benefícios podem não compensar os riscos.

Assim, antes de começar a investir, a primeira regra de ouro é informar-se. Neste breve podcast do Banco de Portugal pode conhecer os principais prós e contras deste ativo digital.

Leia também: Os 12 mandamentos do investidor

 

2. Ter consciência do risco

Tal como pode lucrar, é importante estar ciente de que também pode perder parte ou a totalidade do valor investido na compra de criptomoedas.

Se tal acontecer, não existe nenhum mecanismo que possa acionar para reaver o dinheiro, à semelhança do que acontece, por exemplo, com os depósitos bancários que estão cobertos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Se não gosta de arriscar, antes prefere garantir o resgate do que gastou, opte por outro tipo de investimento.

Tome Nota:

A atividade de emissão e comercialização de moedas virtuais não é proibida, mas também não é regulada por qualquer autoridade nacional ou europeia.

Qual o papel do Banco de Portugal e dos bancos?

O Banco de Portugal tem a competência de registar e verificar se as entidades que lidam com moedas virtuais (fazendo trocas, transferências ou armazenamento) cumprem as normas em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo. Por seu turno, os bancos devem, por lei, avaliar as transferências de fundos com origem e destino nas plataformas de negociação de ativos virtuais. Caso suspeitem que os fundos provêm de atividades ilícitas ou se destinam a financiá-las, devem impedir estas operações.

Leia também: Investir as suas poupanças aconselha a prudência

 

3. Desconfiar quando a “esmola for grande”

A regra é comum ao mundo real e ao virtual. Se um negócio parece demasiado bom para ser verdade, provavelmente é uma fraude. Ou seja, pode perder o dinheiro que investiu e, sem querer, estar a ajudar a financiar atividades ilegais.

Dada a ausência de supervisão, as criptomoedas podem, muitas vezes, ser usadas para esquemas ilícitos. Ou seja, em burlas que atraem investidores menos informados, mas também em operações relacionadas com lavagem de dinheiro ou financiamento do terrorismo.

Na dúvida, pesquise na internet sobre a plataforma, site ou entidade e tente perceber se está associada a fraudes ou esquemas financeiros menos claros.

Tome Nota:

Muitas das entidades que comercializam criptomoedas não têm sede em Portugal. Por isso, a resolução de eventuais conflitos poderá ficar fora das competências das autoridades nacionais.

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4. Controle a sua ambição

Gastar muito com o objetivo de ganhar ainda mais não é uma boa opção. O comportamento volátil das criptomoedas (que valorizam e desvalorizam muito rapidamente) pode originar grandes perdas. Até para perceber como funciona este investimento, comece por aplicar um montante baixo e que não seja necessário para outras despesas. Como o valor de uma unidade pode ser alto (uma bitcoin vale dezenas de milhares de euros), compre frações dessa unidade. 

Leia também: Produtos Financeiros Complexos: o que são?

 

5. Ser paciente

É mais uma regra que se aplica a qualquer tipo de investimento e que, no caso das criptomoedas, é ainda mais crítica. São precisos poucos minutos para que ocorra uma valorização ou desvalorização. Isto significa que, se entrar em pânico caso esteja a perder dinheiro, ao decidir vender pode hipotecar as hipóteses de recuperar o que gastou quando se registar uma nova subida.

 

6. Ser cauteloso

Sendo um investimento com riscos, é ainda mais importante investir com responsabilidade e cautela. Isto implica não só conhecer os prós e os contras das criptomoedas, mas também perceber que não pode arriscar todas as suas economias neste tipo de negócio. Deve também perceber se a plataforma que usa é credível ou se existem queixas ou até suspeitas de crime.

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7. Proteger dados pessoais e equipamentos

Estamos a falar de transações que ocorrem online e em que terá de usar dados pessoais e bancários para trocar euros por criptomoedas ou para fazer pagamentos. Deve, por isso, ter os mesmos cuidados que tem quando usa o homebanking ou faz compras online.

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8. Evite deixar-se influenciar

Certamente já viu anúncios online ou publicações de youtubers e influencers que apelam ao investimento em criptomoedas, alegando que é possível ganhar muito dinheiro. Não se esqueça que estas pessoas são pagas para fazer esses apelos e que nada garante que invistam realmente em criptomoedas ou que tenham ficado milionárias com o negócio. Sendo seu o dinheiro a aplicar, deve avançar apenas com a certeza de que é uma opção segura. Evite fazê-lo por mera influência ou pressão de terceiros.

Leia também: O que distingue o mercado a contado e o mercado de derivados?

 

9. Guardar o código

Para aceder aos fundos guardados na wallet, vai necessitar de um código, que deve guardar com o máximo cuidado. Se o perder, fica impossibilitado de movimentá-los. É como se tivesse dinheiro no banco, mas nunca mais o pudesse usar.

Um artigo do NY Times, publicado em dezembro de 2021, revela que quase 20% das 18,5 milhões de bitcoins existentes em circulação estão inacessíveis, porque os proprietários não conseguem aceder às suas carteiras. Existem serviços que tentam recuperar este acesso, mas o melhor mesmo será garantir que não perde o código. 

Leia estes cinco best seller sobre finanças pessoais.

 

10. Encarar como um valor e reserva

Pense nas criptomoedas como se fossem barras de ouro. Isto é, uma reserva a que poderá um dia recorrer, mas não como fonte imediata de rendimento. Ou seja, o que ganhar com as criptomoedas não deve ser encarado como meio de pagamento para as despesas do dia-a-dia.
Além disso, o risco de liquidez, ou seja, a dificuldade ou a margem de demora na venda das suas criptomoedas é real. Por isso, não pode contar com este investimento para fazer face a situações urgentes.

Vamos ter um euro digital?

O Banco Central Europeu (BCE) está a estudar a possibilidade de lançar um euro digital, e ir ao encontro do aumento da procura por este tipo de moedas. No entanto, as regras desta moeda virtual europeia serão diferentes. Além de ser emitida e gerida por um banco central e oficial, ou seja beneficia de regulamentação, terá um valor mais estável. O projeto está ainda em fase de estudo.

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