EFC - Faro

17 out 2024

"A Importância da Gestão dos Recursos Naturais para o Futuro do País".

Conheça a reportagem do Jornal Económico e TSF, media partners do evento.

Sob o tema "A Importância da Gestão dos Recursos Naturais para o Futuro do País" o Encontro Fora da Caixa, realizado no dia 24 de outubro, na Universidade do Algarve, debateu a relação entre a gestão dos recursos hídricos e o desenvolvimento económico sob várias perspetivas.

A sustentabilidade do desenvolvimento económico está cada vez mais dependente das decisões adotadas pelos vários intervenientes, assim como pelo compromisso em cumprir as metas de neutralidade carbónica acordadas a nível europeu. Nesse sentido, o Encontro Fora da Caixa teve lugar em Faro, capital de uma região onde a gestão dos recursos hídricos tem enfrentado desafios para os diversos setores económicos, da agricultura ao turismo, sem esquecer as necessidades de consumo das populações.

Risco ESG: mitigar o impacto das alterações climáticas
A abertura desta iniciativa coube a Paulo Moita de Macedo, Presidente da Comissão Executiva da CGD, que pautou a sua intervenção pela consciencialização dos vários agentes económicos do risco ESG (Ambiental, Social e Governança). Este risco traduz-se na avaliação do impacto das alterações climáticas e consequentes desafios colocados aos recursos naturais, mas também à sua ligação exponencial a fenómenos como a migração involuntária, desemprego, recessão e polarização social. Para o gestor é fundamental que cada setor económico tome medidas para mitigar esse impacto, sobretudo o das alterações climáticas. Nesse sentido, Paulo Moita de Macedo falou da crescente importância das empresas atenderem ao rating ESG, indicador de sustentabilidade que ganhará crescente relevância no acesso a condições mais vantajosas de financiamento. Aliás, este referencial é já aplicado a empresas com maiores volumes de rentabilidade, referindo não ser ainda realista introduzi-lo em avaliações de financiamento de empresas de menor dimensão.

Importância da coesão e fundos europeus
Seguidamente, coube a Elisa Ferreira, comissária europeia para a Coesão e Reformas, referir a importância dos fundos de coesão da União Europeia como instrumento de alavancagem do desenvolvimento das várias regiões da Zona Euro. Na sua intervenção, que teve como tema "Coesão: Um Bem Público Nacional e Europeu", a comissária teve oportunidade de reafirmar o papel de charneira que a coesão europeia tem desempenhado no projeto europeu, não só como motor de aceleração do desenvolvimento social e económico, mas também de um projeto político democrático. Elisa Ferreira referiu que os benefícios dos fundos de coesão abrangem não só as populações das regiões mais carenciadas da União Europeia, mas também os países que não são financiados, com economias mais ricas, uma vez que proporcionam oportunidades de investimento, criando riqueza e acrescentando valor. Para a comissária, coesão e alargamento são duas faces da mesma moeda.

Finalmente, Elisa Ferreira deixou dois desafios que, no breve trecho (pós PRR), deverão afigurar-se no horizonte: quais os moldes dos novos modelos de financiamento dos fundos estruturais europeus; e os desafios que as alterações climáticas vão colocar às economias, realçando a importância de uma crescente diversificação e sofisticação dos modelos de negócio para acrescentar valor e competitividade.

Tendências 2025: previsões de crescimento
Rui Martins, diretor de estratégia da Caixa Geral de Ativos (CGA), cuja intervenção teve como tema "Tendências Económicas de Mercados Financeiros", apresentou um retrato global das tendências dos vários mercados, na perspetiva da Zona Euro, Estados Unidos da América e China. Em 2025 os bancos centrais deverão reduzir as taxas diretoras, ao mesmo tempo que a inflação também apresenta uma tendência para diminuir. O motor da Zona Euro continua a ser o setor dos serviços, ainda que acompanhado de um pessimismo no consumo, comportamento este que contrasta com o dos consumidores americanos. Aliás, a taxa de poupança na Europa tem-se apresentado elevada, o que indica que não existe uma otimização dos recursos disponíveis. Por outro lado, verifica-se uma diminuição das exportações nos países desenvolvidos, ao mesmo tempo que os Estados Unidos tem decrescido o volume de importações. O crescimento da economia norte-americana tem-se impulsionado no consumo e nas empresas, ao passo que, na China, com uma queda acentuada no setor imobiliário, o investimento público tem sido o principal motor económico. No entanto, espera-se que o consumo em 2025 aumente na Europa, assim como as exportações líquidas, prevendo-se um crescimento ténue da economia europeia.

A maioria das moedas tem valorizado relativamente ao euro (com exceção do iene japonês), e preve-se que os mercados acionistas e obrigacionistas continuem a ter um bom desempenho, embora não tão exuberante, no próximo ano. Na análise de Rui Martins, 2025 será um ano de crescimento lento, mas resiliente.

Desafios na gestão dos recursos hídricos
No frente a frente entre Vera Eiró, presidente do Conselho de Administração da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), e Joaquim Poças Martins, professor e secretário-geral do Conselho Nacional da Água, estiveram duas perspetivas sobre a "Escassez de Água: Desafios para o Futuro".

Vera Eiró referiu que, do ponto de vista da ERSAR, a mensagem principal é que há que pensar em ganhos de eficiência no uso da água, independentemente do investimento que venha a ser feito em infraestruturas ou dos efeitos que estas possam ter na gestão dos recursos hídricos. Por outro lado, Joaquim Poças Martins afirmou que, com a construção da dessalinizadora e a ligação do sistema de barragens do Algarve no Pomarão, deixa de haver falta de água. No entanto, considera uma "derrota da gestão", uma vez que entre perdas reais de água e água lançada para o mar contam-se cerca de 55 milhões de m3. A presidente da entidade reguladora defendeu ainda um aumento do tarifário como incentivo à poupança, lamentando que apenas dois municípios tenham aderido às recomendações da ERSAR. Vera Eiró considera a medida importante, uma vez que promove a ideia de valor da água junto dos consumidores, sejam famílias ou empresas. Já o secretário-geral do Conselho Nacional da Água colocou o ónus no poder local, uma vez que, do seu ponto de vista, as perdas reais são possíveis de reduzir em relativamente pouco tempo, sendo que considera que essas perdas são sobretudo um sintoma de falta de dimensão ou de má gestão. Como exemplos refere que o volume de águas lançadas ao mar poderiam ser tratadas e abastecer as necessidades dos campos de golf, assim como apelou ao setor agrícola do Algarve para investir em culturas com maior valor acrescentado.

Medidas para um desenvolvimento sustentável
O último painel, "Gestão de Recursos Hídricos", reuniu Carlos Rodrigues, CEO da Luságua - Serviços Ambientais e Administrador da Aquapor, Pedro Coelho, diretor da Agência Portuguesa do Ambiente, Tiago Andrade, CEO da Hubel Verde, e Francisco Cary, administrador executivo da CGD.

Para Carlos Rodrigues, a dessalinizadora do Algarve será um projeto transformador da região, referindo os inúmeros casos de sucesso existentes no mundo. Por outro lado, referiu também a conformidade ambiental com as diretrizes europeias do projeto em termos de sustentabilidade.

Pedro Coelho referiu a importância de convidar os municípios a reduzir os consumos de água, uma vez que desde 2012 tem-se assistido, em termos globais na região do Algarve, a uma diminuição da precipitação na ordem dos 12% (35% entre 2019 e 2024). Para tal, referiu também a relevância das campanhas de sensibilização para a ponpança da água que a Agência Portuguesa do Ambiente tem realizado junto de diversos stakeholders. Por outro lado, referiu também a criação de um instrumento de certificação para o setor do turismo, além do progresso realizado nos últimos anos na reutilização da água, nomeadamente na rega de campos de golf.

De acordo com Tiago Andrade, o setor agrícola algarvio tem sabido reinventar-se, tendo sido feito um investimento grande na rega gota a gota, nomeadamente ao nível da raiz, permitindo reduzir as perdas de água. 2024 foi um ano em que se registou uma poupança de 30% de água, muito por causa das chuvas. Defendeu também que, na sua opinião, nem o setor agrícola, nem o turismo podem crescer nos próximos anos, correndo o risco de deixarem de ser sustentáveis.

Finalmente, Francisco Cary, quando interpelado acerca da participação da CGD nas Águas de Portugal, referiu haver intenção de, entre o final deste ano e o final do 1.º semestre de 2025, realizar-se a alienação dos 19% das Águas de Portugal ao Estado, concentrando o seu capital na atividade bancária, não obstante o rendimento que a empresa pública tem dado. Por outro lado, manifestou o interesse da CGD privilegiar os financiamentos que ajudem os clientes a melhorar os seus níveis de risco ESG, dando como exemplo, no setor agrícola, na aquisição de novos equipamentos para reduzir consumos de água. O gestor referiu ainda condições favoráveis como o alargamento de prazos, até 15 anos, e com spread próximo de 0 no primeiro ano.

O evento terminou com uma atuação da fadisca Ana Marques, "Caixa Alfama em Faro".

Veja a Reportagem do evento aqui.

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