EFC - Póvoa de Varzim

25 mar 2025

“O Impacto da Aceleração do Mundo na Economia Portuguesa”

Encontros Fora da Caixa - Póvoa de Varzim

No dia 28 de março realizou-se, na Póvoa de Varzim, um Encontro Fora da Caixa dedicado Impacto da Aceleração do Mundo na Economia Portuguesa.
Leia a reportagem da TSF e o Jornal de Notícias, media partner do evento:

“A 28 de março realizou-se, na Póvoa do Varzim, mais um Encontro Fora da Caixa, desta vez com a temática "O Impacto da Aceleração do Mundo na Economia Portuguesa". A TSF e o Jornal de Notícias foram o media partner deste evento que discutiu os desafios que pessoas e organizações enfrentam no atual contexto mundial.

No auditório do Hotel Axis Vermar, na Póvoa do Varzim, o Encontro Fora da Caixa foi apresentado por Rafael Barbosa, diretor-adjunto do Jornal de Notícias, que lançou o mote para a conferência: se em 2024 já se antevia 2025 como desafiante, perante estes três meses a palavra usada para descrever o atual contexto político e geopolítico foi "disruptivo".

Paulo Macedo, presidente da Comissão Executiva da CGD, centrou a abertura deste Encontro em três eixos: a aceleração das economias e do mundo, a evolução tecnológica e as mudanças no trabalho. Para Paulo Macedo, vivemos um tempo de aceleração diferente da mudança. Citando o Papa Francisco, "hoje vivemos mais uma mudança de época do que uma época de mudança".

Referindo-se aos riscos apontados pelo World Economic Forum para 2025, destacou os conflitos armados, as confrontações geoeconómicas, a desigualdade e a iminência de uma recessão económica, questões que se sobrepõem aos riscos das alterações climáticas. Como exemplos de disrupção, Paulo Macedo mostrou uma timeline de capas da revista Time, que ao longo de décadas testemunhava os riscos das alterações climáticas. Na última capa, já se refletiam os efeitos do primeiro dia do mandato do Presidente Trump: os Estados Unidos da América (EUA) saíam dos Acordos de Paris e os seis maiores bancos norte-americanos a rejeitarem o compromisso de atingirem o Net Zero 2030-2050.

Economia portuguesa em crescimento
Quanto à economia portuguesa, Paulo Macedo congratula-se por Portugal estar a crescer acima da média europeia, com uma taxa de execução do PRR mais significativa, e com uma garantia de fundos estruturais pelo menos até 2030. Apesar de algumas ameaças, a inflação tem tendência a descer. Por outro lado, o Banco de Portugal prevê que o impacto das tarifas possa rondar um quarto do crescimento previsto. Os consumidores vêem o rendimento aumentar, aumentando também o recurso ao crédito com taxas de esforço mais baixas. Nesse capítulo, Paulo Macedo refere um aumento do investimento privado em habitação, para o qual a CGD fez em dezembro 440 milhões de euros em créditos e 320 milhões de euros em janeiro, sobretudo com o crédito jovem. Prevê, no entanto, um aumento dos preços da habitação derivado da pouca oferta para tanta procura, quer no segmento premium como na habitação acessível, assim como pela escassez da oferta do mercado de arrendamento.

Quanto às empresas, 2023 e 2024 foram anos positivos. Apesar de um quadro de incerteza nas exportações derivado de tarifas entretanto anunciadas, em Portugal, e uma vez que o Turismo é o principal setor exportador, a tendência é de crescimento.

Europa e EUA a duas velocidades
Paulo Macedo referiu-se também ao Plano Draghi, que refere a falta de competitividade que a Europa apresenta perante os EUA. Desde 2015 que os norte-americanos definiram o extremo oriente como uma prioridade, deixando a Europa entre um "rolo compressor" entre a China e os EUA. Desde janeiro deste ano que vivemos grandes perturbações, com gastos redundantes na Defesa, nas telecomunicações, cabos submarinos, etc, redundâncias essas que se refletirão num menor crescimento do PIB mundial. Por outro lado, Paulo Macedo refere que vivemos tempos de ataque às instituições que garantem checks and balances. A maior parte das previsões prevê uma baixa das taxas de juro mas não ao ritmo que anteriormente se projetava.

Aceleração tecnológica
No capítulo das tecnologias, Paulo Macedo refere as diferentes velocidades de regulação e implementação de IA generativa ou a legislação sobre criptomoedas que, por exemplo Portugal, ainda não aderessou. A partir de janeiro de 2025, quem comanda as tecnologias são as políticas públicas e os protagonistas, como o Presidente dos EUA, Putin e a China. A IA generativa é uma das prioridades da Europa e as questões de verificação, controlo e utilização estão na base dos próximos passos.

Também no trabalho acercam-se grandes mudanças a um ritmo acelerado pelas inovações tecnológicas da IA e da big data, das redes e da cibersegurança, mas também pela capacidade de adaptação dos trabalhadores a estes novos tempos. A resiliência, criatividade, curiosidade, liderança e gestão de talento são absolutamente indispensáveis neste capítulo. As novas tecnologias vão gerar novos postos de trabalho, e a gestão de talento deve permitir uma maior retenção de profissionais altamente qualificados, com boas práticas que devem ser formalizadas por objetivos e incentivos, desempenho e formação, de modo a manter as organizações competitivas a uma escala global.

Na aceleração desta nova época, é fundamental preservar as instituições de uma crise. Paulo Macedo lança um apelo, a organizações e indivíduos, para contribuir para robustecer as instituições e as parcerias. A CGD reitera a confiança e segurança que a instituição cultiva junto dos seus depositantes, respeitando as alianças e parcerias firmadas.

"Estará o amor obsoleto?"
Foi esta a pergunta, em tom provocatório, que serviu de mote à conversa de Gonçalo M. Tavares com Júlio Machado Vaz, a primeira de XXI Conversas para o Século XXI, num formato que se estreou neste primeiro Encontro Fora da Caixa de 2025. Júlio Machado Vaz referiu que "hoje em dia é difícil encontrarmos quem não diga que vivemos num mundo acelerado", o que nos deixa apenas tempo para "reagir, limitando-nos a acompanhar o mundo pelas redes sociais".

Mas aludindo ao tema do painel, "Sobre o Amor: o amor é produtivo?", o psiquiatra refere que há várias formas de amor, e que se uma pessoa se sente bem com o seu sentimento, pode perfeitamente ser uma pessoa produtiva. O mesmo pode acontecer com o trabalho, com uma ideia ou um projeto. A questão é saber, refere Júlio Machado Vaz, se o trabalho enriquece a vida ou se é um refúgio para que a pessoa não seja "obrigada" a olhar para outros aspetos da vida.

O psiquiatra adianta também que nas equipas "um dos aspetos importantes é a tonalidade afetiva dessa equipa, um afeto solidário, que dá maior eficácia às equipas", refere. Já na paixão, há a tendência de ignorarmos o que não gostamos no outro. No amor, vemos os defeitos mas, apesar deles, queremos estar com a outra pessoa, ou seja "dá trabalho manter uma relação mas é esta que se projeta no futuro".

Relativamente ao equilíbrio que os líderes têm na empatia ou distância, Júlio Machado Vaz refere o equilíbrio que deve haver nestes dois comportamentos. Por outro lado, refere que um líder não pede aos outros o que não está disponível para dar e sabe realmente ouvir o que os outros têm para dizer, uma vez que deverá ter a necessária autoestima para lidar com opiniões diferentes da dele. Gonçalo M. Tavares convidou Júlio Machado Vaz a apresentar uma música, um livro e um filme.

Como música, Júlio Machado Vaz deixou a audiência ouvir o clássico "Figueira da Foz", interpretado por Maria Clara, mãe do psiquiatra. O livro foi a Antologia Poética de Eugénio de Andrade, e o filme foi Cinema Paraíso, uma história com várias camadas, diferentes acelerações de tempos e de mudanças. Na sua própria relação com o tempo, Júlio Machado Vaz revela que tem percebido como "guardar melhor o ócio", referindo não ter medo da morte, mas do caminho para lá chegar. Termina citando as prioridades de um poema de Amália Bautista que rezam: "poder amar alguém e que nos amem e nunca poder morrer antes dos nossos filhos".

Expetativas envoltas em incerteza
No terceiro momento deste Encontro Fora da Caixa, Rui Martins, Diretor de Estratégia da Caixa Gestão de Ativos, traçou as "Tendências Económicas e de Mercados Financeiros". Com os EUA a crescer acima de 2% e a inflação próxima dos 3%, a Reserva Federal norte-americana revelava-se otimista. Em comparação, o euro apresenta taxas de crescimento baixas, mas com a inflação próxima das expetativas. No entanto, Rui Martins refere que o crescimento norte-americano está muito alicerçado no consumo, aludindo também para o facto do défice federal se situar nos 7%, ou seja, nove vezes a economia portuguesa, com possíveis consequências na economia global.

Relativamente às tarifas, que deverão ter uma taxa média de 10%, Rui Martins cita um estudo da OCDE que refere que um dos principais atingidos serão mesmo os EUA. Hoje, a principal potência mundial é um dos fomentadores da incerteza a nível global. Esta incerteza poderá motivar o pessimismo dos empresários norte-americanos e a sombra do desemprego e da inflação poderão afigurar-se no horizonte. Na opinião de Rui Martins, o banco central americano terá de decidir o que o que é mais importante: inflação ou risco de não crescer?

No contexto europeu, o consumo tem estado ausente, e o recém anunciado plano de investimento na defesa poderá significar cerca de 1% no PIB da Europa. Por outro lado, o crescimento dos salários pode vir a abrandar.

Na opinião de Rui Martins, os mercados financeiros dos EUA estão com desempenhos de 20%, mas a área euro poderá vir a ser a estrela. Com a Euribor a descer e as tarifas a terem impacto nas empresas norte-americanas nos mercados acionistas, o dólar poderá a desvalorizar, num movimento semelhante ao primeiro mandato de Donald Trump. Rui Martins reforça a ideia que, neste momento, os EUA são um foco de instabilidade e que as mudanças nos mercados estão à velocidade das suas próprias palavras.

Riscos e oportunidades num mundo à velocidade da luz
No quarto painel deste Encontro Fora da Caixa, Rafael Barbosa juntou Madalena Talone, administradora executiva da Caixa Geral de Depósitos, Miguel Sá Pinto, Investor Relations Director do CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento, e João Pinto Machado, administrador do Grupo Sysadvance. Sob a temática "Portugal num Mundo Acelerado: Oportunidades e Riscos para os Negócios", Rafael Barbosa iniciou a conversa perguntando a Madalena Talone como se podem preparar as empresas para a planificação de ciclos estratégicos.

A administradora executiva da CGD referiu que os ciclos de adoção de tecnologia estão cada vez mais curtos, aludindo para um estudo do World Economic Forum que refletia que 250 CEO não se sentiam preparados para essa mudança. Na sua área de planeamento estratégico, citou Jeff Bezos ao afirmar que "podemos planear para o que se vai manter": um serviço melhor e mais célere, inovação nos produtos e serviços, um preço mais baixo e na banca a segurança das poupanças e a resiliência do banco enquanto parceiro.

Madalena Talone lembrou que depois da crise de 2008, até por questões regulatórias, foram criados bons principios de regulação que podem ser aplicados noutros setores: a aposta nos dados e na informação para acompanhar os negócios de forma centralizada permite uma adequada tomada de decisão. Por outro lado, fóruns de governance que cobrem os riscos, assim como alertas e partilha de informação, podem ser decisivos, de modo a criar uma organização em 3 linhas: quem faz, quem controla e quem audita. Por fim, testes de stress perante cenários extremos, como ciberriscos, são os aspetos que podem permitir criar uma estratégia resistente à mudança.

No campo das ameaças e oportunidades das empresas, Miguel Sá Pinto referiu que no tecido empresarial português, muitas vezes as empresas não têm em conta a visão estratégica, ou seja, onde estar e que mercados operar. Além de um problema crónico de subcapitalização, hoje temos variáveis geopoliticas que obrigam os empresários a reformularem a sua estratégia. No entanto, Miguel Sá Pinto diz que apesar dos riscos do protecionismo e dos interesses geopoliticos há oportunidades. A rapidez de decisões, como no acordo do MERCOSUL e outros, como com o Canadá, Japão e Nova Zelândia, são fatores de otimismo. No entanto, há desafios estruturais fruto da dimensão das empresas portuguesas em comparação com um mercado global. Na sua opinião é necessário haver mecanismos, não só de abertura de capital e fusões, mas também fontes de cooperação e cadeias de produção integradas.

A inovação é uma obrigatoriedade e esses processos estão ligados dependem de uma cooperação integrada. Mesmo assim é da opinião que Portugal está bem posicionado no reassuring de processos industriais porque tem uma indústria mais ágil e eficiente. O desafio é competir com grandes empresas e tecnologia, e para tal é fundamental implementar um pensamento estratégio, escala em termos empresariais, uma maior competição, alinhamento com as universidades no tempo da investigação aplicada, e politicas públicas com estratégias de longo prazo que dêem previsibilidade.

Já João Pinto Machado, administrador do Grupo Sysadvance, recorda o percurso de internacionalização da sua empresa cuja raiz da empresa é a especialização de gases técnicos. Neste momento a internacionalização da Sysadvance passa por operações no mercado norte-americano, no Brasil e Países Bálticos. O seu sucesso foi baseado no abandono de esquemas tradicionais de internacionalização e na aposta direta no mercado. Neste momento, e se se verificar um efeito final de tarifas na ordem dos 25%, o impacto na Sysadvance será de apenas 8%.

Relativamente às incertezas derivadas da rápida evolução tecnológica, Madalena Talone refere que, no caso da CGD, o ciclo de resultados históricos permitiu uma aposta de futuro em tecnologia, refletido no orçamento anual de 200 milhões de euros. Na opinião da administradora a IA surgiu porque conseguimos guardar dados de forma mais barato e a cloud permitiu a sua operacionalização. A aposta na segurança dos processos e na cibersegurança tem andado de braço dado com a aposta na capacitação das pessoas e do talento.

Perante um investimento anunciado na Defesa por parte da União Europeia, Miguel Sá Pinto refere que pode ser um aspeto interessante para Portugal, uma vez que essa tecnologia pode ter um duplo uso, civil e militar, dando o exemplo da CEiiA que serviu a indústria aeronáutica com aplicações que refletiram esse duplo uso. A questão prende-se com o olhar para a tecnologia como um recurso e não um fim. Ou seja, primeiro deverá vir o desenho da necessidade que o serviço e a necessidade a satisfazer, e só depois à tecnologia que melhor cumprirá os objetivos. Dar uma resposta rápida é que vai fazer a diferença, e para isso é fundamental reter quadros.

Jazz e poesia para novos tempos que já cá estão
Esta sessão dos Encontros Fora da Caixa terminou com uma atuação Nicolau Santos e Manuel Lourenço com a sua Jazz & Poetry Ensemble. Numa fusão de temas dos grandes mestres do jazz com a poesia dita de Nicolau Santos, originais e textos de Mário Cesariny, Mário Henrique-Leiria, Vasco Graça Moura, entre outros. © TSF/ Jornal de Notícias.“

Veja a reportagem do evento.

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