António da Motta Veiga

O último Administrador Geral do Estado Novo

As aptidões de dinamismo e capacidade de gestão de António Motta Veiga, então vogal do Conselho de Administração da CGD, conduziram à sua nomeação para Administrador Geral da CGD, em 15 de janeiro de 1970.

António da Motta Veiga nasceu a 28 de fevereiro de 1915, em Cascais. Personalidade de elevado reconhecimento intelectual, era licenciado em Ciências Histórico-Políticas, em Ciências Politico-Económicas e doutorado em Direito. Apesar de ter iniciado a sua vida ativa profissional na advocacia (1937-1939), rapidamente transitou para os meandros do poder e passou a frequentar os corredores dos organismos estatais. Tanto na área da jurisprudência como nas de economia, trabalho, cooperação e finanças, Motta Veiga ocupou cargos de destaque de enumeração exaustiva. Como governante foi Secretário de Estado das Corporações e da Previdência Social (1948-1950) e já durante a sua passagem pela Caixa foi nomeado Ministro de Estado e adjunto da Presidência do conselho (1965-1968).

Motta Veiga, personalidade convicta, politicamente, e de grande proximidade com a politica vigente, foi nomeado vogal do Conselho de Administração da CGD, por portaria de 10 de julho de 1954, estando na presidência Guilherme Alves Moreira. Nos anos subsequentes, como vogal, demonstrou uma grande capacidade de ação e negociação politico económica, pois integrou várias comissões no ultramar (Luanda) e internacionais (Genebra 1957-1959). As aptidões de dinamismo, e capacidade de gestão não passaram despercebidas aos governantes, tendo sido nomeado, por despacho do Ministro das Finanças de 15 de janeiro de 1970, Administrador Geral da CGD.

A sua relação de simpatia pelo poder instituído é notória, exteriorizada, no primeiro relatório da sua presidência (1970) de forma sentida: “o ano a que respeita o presente relatório ficou tristemente assinalado na vida portuguesa pela morte do Presidente Salazar… O Conselho de Administração deseja que as primeiras linhas deste documento sejam de rendida homenagem à memória do grande estadista… A Caixa deve ao Presidente Salazar, entre outros benefícios a nobilíssima reforma efetuada em 1929, que permitiu ao estabelecimento desenvolver e consolidar a sua ação, e assumir um papel de principal relevo no sistema nacional de crédito”.

A ação de Motta Veiga na Caixa revestiu-se de relevância extrema se considerarmos que estava em plena execução o III Plano de Fomento, orientado para o esforço de desenvolvimento económico, estando contudo, condicionado pelo esforço financeiro exigido pelas guerras em África e pela necessidade da manutenção da estabilidade financeira interna. Motta Veiga considerava uma necessidade imperiosa a nossa integração na economia europeia e, como tal, havia que modernizar as estruturas produtivas. Certamente que a implantação da Lei Orgânica de 1969, a qual originou uma profunda reorganização dos Serviços, criava áreas funcionais especializadas, que em muito facilitaram a ação da Caixa nas múltiplas ações de apoio financeiro.

A História tem-nos provado, à semelhança de personalidades anteriormente analisadas, que as intimas relações e dependências com o poder político, são tão efémeras quanto ele e as personalidades que o suportam. Vários foram os presidentes da Caixa, que ao longo da sua história, sucumbiram com a queda dos poderes instituídos. A intervenção de Motta Veiga, à frente dos destinos da Caixa, viria a ser interrompida na sequência dos acontecimentos do 25 de Abril de 1974.

Para que a administração da Caixa não caísse num vazio, até à nomeação de uma administração com caráter definitivo, foi criada em 29 de maio (Decreto-Lei nº 227/74) uma Comissão Executiva que exerceu a gestão da CGD entre 31 de maio e 30 de junho de 1974, constituída por José Augusto do Nascimento Neves, Júlio dos Santos Rodrigues; José Nicolau Pires Correia e Raul da Silva Pereira. Consequentemente a vida ativa de Motta Veiga sofreria uma alteração de percurso, dedicando-se, a partir daí, sobretudo às atividades académicas. Foi catedrático de Direito do Trabalho na Universidade Livre de Lisboa, reitor na Universidade Lusíada (1986), tendo sido, por esta, agraciado com o grau de doutor “honoris causa”, em novembro de 1993.

Zacarias Dias
Gabinete do Património Histórico da CGD
Março de 2011

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