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O trabalho pode ser uma fonte de satisfação, mas é também, por vezes, uma ameaça à saúde mental. Esta consciência parece estar a generalizar-se, em parte graças a alguns casos mediáticos de artistas (como Shawn Mendes) ou desportistas (como a tenista Naomi Osaka) que resolveram fazer uma pausa nas suas carreiras para poderem concentrar-se na saúde mental.
A verdade é que todos temos dias maus na nossa vida profissional, mas quando é que o limite é atingido? Como perceber se o seu trabalho está a ser uma fonte de pressão e de infelicidade e o que fazer para resolver esta situação?
Conheça as causas e os efeitos de uma má relação entre trabalho e saúde mental e como e quem pode ajudar a resolver o problema.
O que é saúde mental?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é um estado de bem-estar no qual o indivíduo tem noção das suas capacidades, consegue lidar com as tensões normais da vida, consegue trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir para a comunidade em que se insere>
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Quais são as principais ameaças à saúde mental no trabalho?
A falta de trabalho pode gerar ansiedade mas, um emprego nem sempre é sinónimo de felicidade. O excesso de trabalho, a precariedade, um mau relacionamento com as chefias e colegas ou a falta de reconhecimento são alguns fatores que podem influenciar a saúde mental.
No documento Promoção da Saúde Mental no Local de Trabalho: Orientações para a Aplicação de uma Abordagem Abrangente publicado pela Comissão Europeia, são identificados os perigos psicossociais no local de trabalho. Ou seja, podem ser identificados 10 fatores capazes de potenciar problemas de saúde mental:
1.Natureza do trabalho
Diz respeito à falta de variedade no trabalho, ciclos de trabalho curtos (por exemplo, no caso de trabalho sazonal), trabalho fragmentado ou menor. Mas também a fatores como, a subutilização das suas competências, a um alto nível de incerteza ou à exposição pública continuada.
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2. Volume e ritmo de trabalho
Pode estar relacionado com sobrecarga de trabalho, quantidade de trabalho insuficiente ou a um ritmo de trabalho regulado por uma máquina, como acontece nas linhas de montagem das fábricas. Ocorre também quando existem altos níveis de pressão relativamente aos prazos para as tarefas.
3. Horários de trabalho
O trabalho por turnos, turnos noturnos, horários rígidos, horas imprevisíveis e períodos de trabalho longos ou fora do normal podem prejudicar a sua saúde mental.
4.Controlo
Ocorre quando o trabalhador sente que não participa no processo de decisão ou que não consegue controlar o volume e o ritmo de trabalho.
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5.Ambiente e equipamento
Este fator está relacionado com questões de segurança e saúde no trabalho. Por exemplo, falta de equipamento, má adequação ou manutenção do equipamento, ou ainda más condições envolventes, como falta de espaço, iluminação deficiente, ruído excessivo, entre outros.
6. Cultura organizacional e função
A falta de comunicação, baixos níveis de apoio na resolução de problemas e no desenvolvimento pessoal, falta de definição ou de fixação por acordo mútuo dos objetivos organizacionais são situações que potenciam a insatisfação laboral.
7. Relações interpessoais no trabalho
Quando existe exclusão ou isolamento social ou físico ou quando as relações com os superiores e colegas não são boas, podem gerar-se situações que ponham em causa a saúde mental dos funcionários. A falta de apoio social, assédio ou intimidação também são fatores negativos.
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8. Papel na organização
Se existe ambiguidade no papel a desempenhar, conflito de papéis ou responsabilidades na gestão de pessoas, pode existir stress adicional.
9. Progressão na carreira
A estagnação e incerteza na carreira, uma promoção insuficiente ou excessiva, salários baixos, insegurança do emprego e o baixo valor social do trabalho são fatores de descontentamento.
10. Relações vida privada-trabalho
Conciliar a vida privada com o trabalho é cada vez mais importante. O problema pode ocorrer quando o trabalho é demasiado exigente, quando não existe apoio familiar ou nos casos em de duplo emprego.
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Quais os sinais de stress no trabalho?
Como perceber se o seu emprego está a afetar a sua saúde mental? Como medir o nível de stress e detetar sinais de que algo não está bem?
De acordo com a plataforma Encontre Uma Saída, da Ordem dos Psicólogos, os sinais típicos de stress são cansaço, aperto no peito, indigestão, dor de cabeça, alterações do apetite e do peso ou dores nas costas. Os sintomas a nível psicológico incluem irritabilidade, ansiedade, indecisão, desmotivação, dificuldades de concentração, isolamento ou agressividade. Alterações do humor e aumento do consumo de tabaco e álcool são outros sinais de alerta.
“Ainda que algum stress seja normal, em excesso, o stress no trabalho pode interferir com a nossa produtividade e estar na origem de um conjunto de problemas físicos (como a hipertensão, problemas cardíacos e obesidade) e mentais (como a depressão, a ansiedade ou as adições)”, explicam os especialistas na mesma plataforma.
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Comportamentos a que deve ter atenção
Já na plataforma Mais Produtividade, também da Ordem dos Psicólogos, são apontadas algumas situações relacionadas com saúde psicológica.
Como, por exemplo, “um colaborador que anteriormente era focado, enérgico e orientado para resultados começa a chegar tarde, parece desorganizado e letárgico, torna-se menos produtivo”, refere a página deste projeto. “Ou um colaborador que, durante anos, raramente faltou e era um “jogador de equipa” apreciado pelos colegas tem tido recentemente muitas ausências. Os colegas notam que está mais isolado e pouco comunicativo”, descreve a mesma plataforma.
Mudanças significativas do humor ou do comportamento, mudanças nos hábitos de sono e alimentação, diminuição da autoestima e da autoconfiança, negligenciar os cuidados pessoais, ausências frequentes ou queixas de cansaço e dores sem explicação são sintomas a que deve ter atenção.
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“Um padrão persistente destes comportamentos ou uma alteração súbita daquela que é a forma habitual de agir do colaborador pode indicar que precisa de apoio”, explica-se. Caso se identifique com algum destes comportamentos (ou caso os note em colegas de trabalho), é fundamental procurar ou sugerir ajuda.
Recursos para lidar com saúde mental no trabalho
Caso sinta que o trabalho está a afetar a sua saúde mental, o primeiro passo pode ser falar com o seu médico de família; avaliar a situação e ser encaminhado para apoio especializado. Se não tem médico de família, saiba como proceder para que lhe seja atribuído. O Serviço de Aconselhamento Psicológico da Linha SNS24 está disponível todos os dias, durante 24 horas e permite-lhe falar com um psicólogo. Existem ainda outras linhas de apoio psicológico que pode encontrar nesta lista do Ministério da Saúde. Para saber mais sobre saúde mental no trabalho pode consultar, no site da Ordem dos Psicólogos, as plataformas https://encontreumasaida.pt e https://maisprodutividade.org/.
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10 dicas para melhorar a saúde mental no trabalho
Se começa a sentir alguma pressão no trabalho, há pequenos gestos que podem ajudar a lidar com a situação, evitando que se agrave. Eis alguns conselhos:
- Procure criar uma rede de apoio no seu emprego, falando com as pessoas em quem confia, para que possam desabafar e partilhar preocupações;
- Não tenha receio de pedir ajuda e perceba que ninguém consegue ser sempre perfeito;
- Diga “não” quando já não consegue aceitar mais trabalho;
- Nos momentos de maior sobrecarga, respire fundo e faça uma pausa durante alguns minutos;
- Caminhe um pouco durante a hora de almoço;
- Evite trabalhar além do seu horário ou levar trabalho para casa (estas situações devem ser a exceção e não a regra);
- Faça uma lista de tarefas ordenadas por importância;
- Transforme o seu espaço físico de trabalho num local o mais confortável possível e adequado às suas necessidades;
- Não deixe de gozar as suas férias;
- Estabeleça prazos e objetivos realistas.
Burnout: um exemplo de como o trabalho afeta a saúde mental
O burnout, ou síndrome de esgotamento profissional, é uma doença causada pelo stress em contexto de trabalho. A exaustão emocional e a redução do nível de envolvimento com o trabalho são sintomas de que poderá estar a sofrer de uma doença que afeta mais de 40 milhões de pessoas, só na União Europeia.
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