O ciclo económico

16 dez 2019

O ciclo económico - tudo o que tem um início, tem um meio e um fim

O conceito de ciclo económico refere-se às flutuações da atividade face à tendência de longo prazo. Desta forma, o produto varia entre períodos de maior e de menor crescimento, ou mesmo de contração.

O conceito de ciclo económico refere-se às flutuações da atividade face à tendência de longo prazo.

Desta forma, o produto varia entre períodos de maior e de menor crescimento, ou mesmo de contração.
O estudo dos ciclos ganhou maior importância a partir da segunda metade do século XIX, sendo contemporâneo com as preocupações resultantes das crises que afetaram a economia mundial desde a revolução industrial. A principal característica de um ciclo é a evolução da atividade ocorrer de acordo com um padrão recorrente e observável. O interesse pela análise destes padrões intensificou-se durante o século XX, de forma a permitir aos decisores económicos e monetários a formulação de políticas que permitissem mitigar os impactos económicos mais adversos. Também a correta aferição do estado da economia é especialmente relevante para as famílias e para as empresas no momento de efetuarem as suas decisões de consumo e de investimento.

A primeira análise sistematizada destes padrões remonta a 1819, efetuada por J. Sismondi, e contrapõe-se à teoria clássica do equilíbrio económico predominante na época, a qual atribuía as oscilações a fatores exógenos, tais como as guerras. Este economista identificou como causas para os ciclos a sobreprodução e o subconsumo, por sua vez influenciados pelas desigualdades na distribuição da riqueza. A periodicidade das crises nas economias capitalistas e a severidade das mesmas, formou a base do pensamento de K. Marx, o qual antecipou que estas acabariam por despoletar uma revolução do proletariado.

Na segunda metade do século XIX, C. Juglar, no que foi considerado por alguns economistas como um trabalho seminal na identificação das características cíclicas das flutuações económicas, pela combinação da análise teórica, estatística e histórica, defendeu que estas não são eventos isolados, mas partes integrantes dos ciclos. Mais recentemente, no século XX, o economista austríaco J. Schumpeter, considerou que os ciclos económicos podem ser divididos em fases.

A correta identificação destas fases é fulcral para a gestão de carteiras de investimento, pois os ativos financeiros apresentam rendibilidades substancialmente diferentes dependendo do contexto económico. No entanto, a definição das características de cada fase, ou mesmo o seu número, varia de autor para autor. Neste âmbito, o ciclo poderá ser dividido em cinco fases, em função do nível de utilização dos recursos e das dinâmicas do crescimento económico e da inflação:

- Expansão: verifica-se uma aceleração do crescimento do produto e a economia encontra-se numa situação de pleno emprego, pelo que a inflação tende a subir. Os bancos centrais iniciam o processo de incremento das taxas diretoras, de forma a conduzir a economia para uma trajetória mais sustentável.
- Abrandamento: assiste-se a uma desaceleração da atividade. No entanto, pela manutenção de uma situação de pleno emprego a inflação continua a subir. Os bancos centrais diminuem o ímpeto das subidas das taxas diretoras.
- Estagnação: apesar de a economia não se encontrar em pleno emprego, regista-se uma moderação do crescimento, o que normalmente é acompanhado de uma redução da inflação.
- Recessão: a atividade apresenta um crescimento negativo. Assiste-se a uma diminuição da inflação e a um aumento significativo do desemprego. Os bancos centrais introduzem medidas de estímulo económico.
- Recuperação: Ocorre uma aceleração do crescimento num contexto em que a economia opera abaixo do pleno emprego, pelo que se continua a registar uma redução da inflação. Os bancos centrais mantêm as políticas monetárias expansionistas.

Excesso de rendibilidade média anual de ativos americanos, em função da fase do ciclo económico, desde 1974

Fonte: Caixa Gestão de Ativos, MSCI, Barclays, NBER, BEA, CBO, BLS.
Nota: Excesso de rendibilidade = rend. total vs. obrigações do tesouro a 3 meses.

No que respeita à duração dos ciclos, esta depende da abordagem utilizada, existindo várias metodologias para a sua datação, sendo para este efeito especialmente relevante a identificação do início de uma recessão, pois marca o ponto de inversão das fases de prosperidade. É comumente aceite que se verifica uma recessão sempre que ocorre uma variação negativa do PIB real por 2 ou mais trimestres sucessivos. No entanto, existem instituições que consideram formulações mais abrangentes para a determinação de uma recessão. Um destes casos é o National Bureau of Economic Research (NBER), que incorpora outras variáveis para além do PIB real. Este instituto é responsável pela datação das recessões nos EUA, tendo identificado 11 ciclos desde a 2ª Guerra Mundial, com uma duração média de aproximadamente 6 anos. Desta forma, o atual ciclo, que se iniciou na fase de inversão resultante da Grande Crise Financeira, conta já com 135 meses, sendo o mais longo dos últimos 74 anos.

Duração dos ciclos económicos nos EUA desde 1945

Fonte: Caixa Gestão de Ativos, NBER. Dados até março de 2019.

O desenvolvimento de ferramentas que auxiliem o gestor de ativos financeiros a antecipar a evolução do ciclo económico reveste-se de especial relevância. Contudo, atendendo à natureza de qualquer exercício previsional, é necessário abordá-lo com uma elevada dose de humildade. Não obstante, as relações históricas poderem servir de cartilha para compreender o futuro, estas demonstraram que não são estáticas.

Um dos indicadores mais mediatizados para prever a inversão do ciclo económico americano é a inclinação da curva de rendimentos, nomeadamente o diferencial entre as taxas de juro das obrigações do tesouro a 10 anos e a 3 meses. De acordo com os estudos de A. Estrella, uma inclinação negativa é um bom antecipador da inversão do ciclo económico, tendo precedido entre 6 e 17 meses o início de todas as recessões desde 1970.

De acordo com D. Wheelock, da Reserva Federal de St. Louis, a inclinação da curva de rendimentos afeta o ciclo económico através do seu impacto na rentabilidade do setor bancário. Em média, os ativos deste setor, ou seja os seus empréstimos às famílias e às empresas, apresentam maturidades superiores às dos seus passivos (depósitos e financiamentos interbancários). Desta forma, os bancos beneficiam quando o diferencial de taxas de juro de longo prazo face às de curto é elevado. Assim, uma diminuição deste spread influencia negativamente os resultados dos bancos, o que promove a sua menor propensão para concederem crédito.

Diferencial das taxas de juro das obrigações do tesouro dos EUA e recessões

Fonte: Caixa Gestão de Ativos, NBER

Para além da curva de rendimentos, outros indicadores demonstram ser relativamente robustos para aferir a fase do ciclo económico americano, ou mesmo o risco de se verificar uma recessão. De entre estes salientando-se a taxa de desemprego e a confiança dos consumidores. Pela análise destas métricas, é possível aferir em cada momento o potencial disponível de aceleração económica.

No primeiro trimestre de 2019, os EUA registavam uma taxa de desemprego historicamente reduzida e níveis de confiança dos consumidores elevados. Adicionalmente, a estrutura da curva de rendimentos permitia antecipar uma menor predisposição do setor bancário em conceder financiamento à economia. Desta forma, apesar dos riscos de uma recessão iminente serem relativamente baixos, era possível afirmar que os EUA estavam já numa fase avançada do ciclo económico.

No entanto, apesar do atual ciclo já ser longo, não existem evidências estatísticas que as expansões económicas se tornem mais frágeis com a idade, contrariamente à natureza dos seres vivos.

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