Setembro 2023

13 out 2023

Aumento das yields, a nível global, penaliza mercados

A intenção, evidenciada pelos principais bancos centrais, de manter as políticas monetárias em patamares restritivos no médio prazo, que é, em parte, resultante da elevada resiliência da economia global, voltou a penalizar os mercados financeiros.

A intenção, evidenciada pelos principais bancos centrais, de manter as políticas monetárias em patamares restritivos no médio prazo, que é, em parte, resultante da elevada resiliência demonstrada pela economia global, voltou a penalizar os mercados financeiros. Embora algumas autoridades monetárias perspetivem um cenário de abrandamento da inflação e reconheçam riscos para o crescimento, sublinham que a robustez do mercado de trabalho poderá impedir, no curto prazo, uma redução sustentada dos aumentos de preços. Neste contexto, assistiu-se ao desempenho negativo tanto da classe acionista como de rendimento fixo, num mês em que as yields atingiram novos máximos de vários anos.

Enquadramento: setembro 2023

O contexto económico tem sido marcado pela resiliência da atividade em algumas regiões, com destaque para a robustez do consumidor americano e para a recuperação observada nos dados mais recentes da China. Este enquadramento tem promovido uma maior rigidez da inflação e, por conseguinte, a necessidade de manutenção de políticas monetárias em patamares restritivos por mais tempo. Contudo, são hoje visíveis os pontos de fragilidade, que deverão condicionar o crescimento económico durante os próximos trimestres, com alguns dados divulgados recentemente a serem sugestivos de desafios de curto prazo à narrativa de resiliência global.

Neste âmbito, salienta-se a deterioração de dinâmica económica europeia, com os últimos dados do Eurostat mostrarem que a atividade na Área Euro cresceu no 2ºT 2023 menos do que o inicialmente previsto, devido à estagnação do consumo interno e ao fraco desempenho das exportações. Em comparação, a economia norte-americana manteve, no mesmo período, um ritmo bastante sólido, com o consumo a manter-se em patamares bastante robustos em julho, tendo, contudo, abrandado substancialmente em agosto.

No que respeita à inflação, a nível global, manteve-se a tendência de abrandamento da evolução dos preços, apesar de os números divulgados relativamente a agosto, gerarem receios sobre um possível ressurgimento das pressões inflacionistas.

Em concreto, a variação mensal dos índices de preços do consumidor dos EUA e a Área Euro voltaram a aumentar em agosto, em resultado do aumento dos preços da energia. Contudo, quando se exclui os custos com a alimentação e a energia, a variação é mais modesta.

Relativamente aos bancos centrais, a intenção, evidenciada pelas principais instituições, de manter as políticas monetárias em patamares restritivos no médio prazo, é, em parte, resultante da elevada resiliência demonstrada pela economia global. Embora boa parte destas perspetivem um cenário de abrandamento da inflação e reconheçam riscos para o crescimento a curto prazo, o que lhes permite uma pausa no ciclo de aumentos das taxas, continuam céticos quanto à possibilidade de a inflação diminuir de forma sustentada, dado o aperto existente no mercado de trabalho.

Neste âmbito, embora a Reserva Federal Americana (Fed), na reunião ocorrida a 19 e 20 de setembro, tenha mantido as Fed Funds, foi dado ênfase a que terão de permanecer elevadas por algum tempo, sendo antecipada uma nova subida antes do final de 2023.

Na Área Euro, o Banco Central Europeu (BCE), incrementou as taxas diretoras em 25p.b., sublinhando já serem suficientemente restritivas e que este nível seria mantido no médio prazo. O aumento decretado não era consensual em mercado, tendo o BCE justificado o movimento com a persistência da inflação num patamar demasiadamente elevado. No entanto, a decisão foi acompanhada por indícios que poderão dar a entender que possivelmente já terá sido atingido, com esta subida, a taxa terminal.

Mercados Financeiros: setembro 2023

Em setembro a maioria dos mercados acionistas denotou perdas, penalizada pelos receios de que a política monetária nos EUA e na Área Euro possa permanecer restritiva durante bastante tempo. Em termos geográficos, no bloco desenvolvido, cujo registo negativo foi mais acentuado, salientaram-se as desvalorizações nos EUA e na Área Euro. Pela positiva destacou-se o Reino Unido, cujos títulos valorizaram, sobretudo no início do mês, após os dados revistos do PIB mostrarem que a economia cresceu mais do que o esperado no 2ºT 2023 e a manutenção das taxas de referência pelo Banco de Inglaterra. Nos emergentes, esteve em destaque a queda do índice de referência chinês, afetado pelos receios de possível contágio ao setor financeiro da situação do setor imobiliário deste país.

Na classe de rendimento fixo, os principais índices de dívida pública registaram perdas, que resultaram num forte aumento das yields, tanto nos prazos longos como curtos, perante a expectativa de que a política monetária dos principais bancos centrais terá de permanecer em níveis restritivos por um período alargado. A envolvente de aumento das taxas condicionou também os segmentos de dívida privada, que registaram, na maioria, perdas, com a exceção a ser o de high yield em euros, ao beneficiar do estreitamento de spreads e da menor maturidade média dos seus títulos.

A classe de matérias-primas desvalorizou marginalmente, em função dos contributos negativos dos segmentos de agricultura, perante perspetivas de redução da procura e de metais preciosos. Em contrapartida, os de energia e de metais industriais observaram ganhos. Neste segmento salientou-se a forte apreciação do zinco e do alumínio, com a cotação deste último a atingir os valores máximos de vários meses, em resultado das disrupções na oferta. No agregado de energia, o desempenho refletiu a forte subida dos preços petróleo e seus derivados, suportados pelos anúncios, por parte da Arábia Saudita e da Rússia, do prolongamento dos atuais cortes de produção e exportação até ao final de dezembro.

Já no mercado cambial, o euro depreciou face à maioria das moedas do G10, e às dos países emergentes, permanecendo perto do mínimo do ano. Para tal contribuiu a postura mais cautelosa dos investidores perante sinais de fragilidade da economia da Área Euro, em comparação com outras regiões. Já o dólar apresentou, pelo segundo mês consecutivo, um perfil maioritariamente de apreciação.

No mercado monetário, a Euribor subiu nos vários prazos, ao refletirem não só a subida das taxas diretoras, decretada pelo BCE, mas também o facto desta decisão, no final de agosto, não estar totalmente descontada em mercado.

Nota: dados a 29 de setembro de 2023, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.
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Acesso Caixadirecta

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Aumento das yields, a nível global, penaliza mercados

A intenção, evidenciada pelos principais bancos centrais, de manter as políticas monetárias em patamares restritivos no médio prazo, que é, em parte, resultante da elevada resiliência da economia global, voltou a penalizar os mercados financeiros.