Agosto 2022

12 set 2022

Bancos Centrais e crise energética condicionam mercados.

A maioria dos mercados registou perdas, penalizada pelas preocupações com o impacto na economia dos efeitos da crise energética na Europa e do viés mais restritivo das políticas monetárias dos principais bancos centrais.

No mês, a maioria dos mercados voltou a registar perdas, penalizada pelas preocupações com o impacto na economia da crise energética na Europa e do viés mais restritivo das políticas monetárias dos principais bancos centrais. Para estes receios contribuíram as declarações proferidas por membros da Fed e do BCE, nas quais evidenciaram a preferência por medidas mais restritivas. Neste contexto, destacou-se a desvalorização dos títulos de dívida pública europeia. No que respeita à classe acionista, verificaram-se comportamentos divergentes, com a queda dos mercados norte-americano e da Área Euro a contrapor-se aos ganhos registados no do bloco emergente e do Japão.

Enquadramento: agosto 2022

No domínio económico, na Área Euro (AE), vários indicadores apontaram para o abrandamento da atividade, condicionados pela inflação elevada, pelas condições financeiras mais restritivas e pela incerteza sobre o fornecimento energético. Neste âmbito, salientaram-se as leituras preliminares dos dados de atividade da indústria de agosto, que continuou em território de contração pelo segundo mês consecutivo, e dos serviços, que desceu para níveis próximos do limiar da neutralidade. Adicionalmente, a primeira estimativa do indicador de confiança dos consumidores manteve-se em valores historicamente baixos, apesar de ter denotado uma melhoria. Por seu turno, foi divulgado, pelo Eurostat, a segunda estimativa do crescimento real do PIB do 2ºT, o qual foi revisto em baixa de 0,7%, em cadeia, para 0,6%.

Nos EUA, os dados do mercado laboral, dada a sua robustez continuaram a divergir dos restantes indicadores, que denotaram, na sua maioria, arrefecimento. De facto, a criação de postos de trabalho surpreendeu os analistas ao registar 528 mil postos em julho e a taxa de desemprego desceu de 3,6% para 3,5%. Em contraste, os indicadores do mercado residencial continuaram a evidenciar um abrandamento expressivo, nomeadamente os dados de início e de autorizações para a construção de casas bem como os de vendas, dado que é um dos segmentos mais sensível à subida das taxas de juro. Ademais, a leitura preliminar do dado de atividade dos serviços de agosto continuou em contração, enquanto o congénere da indústria, apesar de ter descido, permaneceu em expansão. Por último, o BEA na segunda estimativa do crescimento real do PIB do 2ºT ajustou a sua variação de -0,20%, em cadeia, para -0,15%.

Ao nível dos bancos centrais, relativamente ao Banco Central Europeu (BCE) destacaram-se a entrevista de I. Schnabel, membro da comissão executiva desta autoridade, e a divulgação da ata da reunião de julho. Em ambos realçou-se o desconforto com os níveis atuais de inflação (com a estimativa rápida de agosto a fixar-se a 9,1% v.h.), a incerteza quanto à sua evolução futura, os receios de que as expectativas de inflação ficarem desancoradas e, consequentemente, a necessidade de uma política monetária mais restritiva.

Nos EUA, a Reserva Federal (Fed) também publicou a ata da reunião de julho, a qual reforçou o desagrado dos membros com os números correntes de inflação (a métrica de referência, o índice de preços PCE, cifrou-se a 6,3% v.h. em julho, o que compara com o objetivo de 2,0%) e os receios de que as expectativas de inflação fiquem desancoradas. Nesse sentido, os participantes concordaram com a continuidade de aumentos das taxas diretoras, embora reconheçam que o ritmo das subidas poderá vir a ser menor, dado que já se encontrarão em território restritivo e dependendo da evolução dos dados. Esta mensagem foi sublinhada pelo presidente da instituição, J. Powell, no simpósio de política monetária em Jackson Hole. Efetivamente, J. Powell declarou que restaurar a estabilidade de preços no país constituía a prioridade da Fed.

Mercados Financeiros: agosto 2022

Na classe de ações verificaram-se desempenhos divergentes, com as perdas no agregado de mercados de países desenvolvidos a contrapor-se aos ganhos no de emergentes. A evolução destes mercados foi condicionada pelo aumento da aversão ao risco, que se assistiu em especial no final do mês, em virtude dos receios de um maior abrandamento económico e de subidas de taxas diretoras. O comportamento do nipónico foi uma das exceções, suportado pela perspetiva da continuação das políticas monetárias acomodatícias. Para a valorização do agregado de emergentes, contribuíram principalmente os desempenhos dos mercados da India, do Brasil e da China, este último sobretudo após o anúncio de um novo plano de estímulos.

Na classe de rendimento fixo, tanto os mercados de dívida pública como de dívida privada foram penalizados pelo contexto global de aumento expressivo das taxas de juro. No mês destacou-se a desvalorização dos títulos de governos, com as taxas das obrigações a 10 anos da Alemanha e dos EUA a subirem para um valor superior a 1% e a 3%, respetivamente. Em específico, no caso das emissões de crédito, o estreitamento de spreads observado em alguns segmentos, como o de Investment Grade em dólares e o de High Yield em euros, não foi suficiente para compensar o referido aumento das taxas de juro sem risco.

A classe de matérias-primas valorizou, salientando-se os contributos positivos dos segmentos de energia e de agricultura. Para a evolução deste último foi crucial a subida do preço do algodão, do milho e do café, que atingiram máximos de alguns meses. Já no compósito de energia os ganhos estiveram alicerçados na apreciação das cotações do gás natural, que mais que colmataram a queda das do petróleo. De referir que esta subida foi espoletada pelo anúncio de novo corte no abastecimento de gás natural da Rússia à Alemanha. Em oposição a evolução de metais industriais foi negativa, reflexo das perdas na maioria dos seus constituintes, com exceção do zinco. Por fim, o segmento dos metais preciosos encerrou agosto com um desempenho negativo, penalizado pela apreciação do dólar.

No mercado cambial, o comportamento do euro voltou a ser caracterizado pela depreciação. Aliás, encerrou o mês próximo da paridade face ao dólar, isto é, um euro valia cerca de um dólar, algo que não se verificava há cerca de duas décadas. De facto, a moeda única depreciou contra a maioria das divisas mais transacionadas a nível mundial, as do G10, e face a uma amostra representativa de moedas de países emergentes a perda foi generalizada.

No mercado monetário da AE, a taxa Euribor subiu nos principais prazos de referência, com o prazo de 3 meses a ter aumentado 42p.b. para 0,65%, a de 6 meses 55p.b. para 1,20% e a de 12 meses 86p.b. para 1,78%.

Nota: dados a 31 de agosto de 2022, as rendibilidades obtidas constituem performances totais, em moeda local ou de referência.

As rentabilidades divulgadas representam dados passados, não constituindo garantia de rentabilidade futura.

Fonte: Caixa Gestão de Ativos; informação publicamente disponível nos websites das seguintes entidades: BCE, BEA, BLS, CME, Comissão Europeia, Eurostat, Fed.

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Acesso Caixadirecta

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Bancos Centrais e crise energética condicionam mercados.

A maioria dos mercados registou perdas, penalizada pelas preocupações com o impacto na economia dos efeitos da crise energética na Europa e do viés mais restritivo das políticas monetárias dos principais bancos centrais.